Ainda enfrentamos a pandemia da covid-19. O ano é novo, mas o velho caminho nos demanda muita garra e coragem para driblar quedas que insistem em nos atravessar. Vigilantes e atentos, não podemos deixar de trazer para reflexão assuntos que dizem respeito à vida e a garantia dela. Sem esquecer também que só vamos nos livrar das variantes quando o planeta conseguir atingir uma cobertura máxima de vacinação. Para falar de vida e humanidade quero voltar com o tema pessoa com deficiência e sua invisibilidade na pandemia.
No Espírito Santo, de acordo com o painel da covid-19, da Secretaria Estadual de Saúde, o ano começou com uma média de 458 mortes. E hoje, com a transmissibilidade altíssima da variante Ômicron, este número está em 479. Um aumento assustador tal qual o percentual de letalidade, 3,72%, que nunca foi mais baixo que o da população em geral.
Vírus e invisibilidade nos ameaçam
Não bastasse o vírus e suas variantes, a falta de acessibilidade também ameaça de forma nefasta a vida e a dignidade das pessoas com deficiência. No entanto, diante de tantas mortes, as políticas públicas que deveriam impulsionar as campanhas de vacinação dessa população reforçam o negacionismo e o capacitismo. Quem lembra do que disse um dos ministros desse governo negacionista? “É melhor perder a vida do que perder a liberdade”. Nem acho que essa frase seja dele. Já ouvi o presidente falando também. Seja de quem for, fico com a dúvida na mente. De qual liberdade está se falando? Se for a de ir e vir, realmente não temos mais.
A discriminação diante da pessoa com deficiência parece nunca perder a prática e a ignorância do governo atravessa o ano tão potente quanto a Ômicron. Coagidas pelo medo, pela desinformação e entregues à própria sorte, a população com deficiência luta pela sobrevivência.
Não se engane, as vacinas ainda não chegaram nos braços de quem não tem como acessar os locais de vacinação. A vulnerabilidade de contágio pelo vírus e da falta de cuidados por parte de quem deveria primar pela vida de todos, se espalham alimentando as crenças fanáticas e aumentando o problema das mortes e de sua prevenção.
Qual a vacina contra o preconceito?
A pandemia nocauteou quarenta e seis milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência. E a falta de dados para análise e gestão das políticas impedem consideravelmente equiparar as oportunidades desse público, previsto em muitas legislações.
Já saímos da época do Império em que as pessoas com deficiência eram institucionalizadas, fardos, ou corpos desviantes. Já fomos silenciados em nossas condutas o bastante e lutar pela eliminação do preconceito e apagamento, é tarefa minha, sua e de todos.
Estamos num cenário caótico, e a preocupação vai além de ter que lidar com a pandemia. A fome, atendimento médico adequado, acessibilidade, transporte, e moradia são batalhas diárias na vida das pessoas com deficiência que dependem do governo.
Ação e reação nos define
Sabemos o que precisa ser feito. Será que os gestores públicos sabem? Parece que valores essenciais não estão pautados em sua lógica. Sabotados em nossos direitos, parecem ser intencionais as ações que nos impõem ocupar espaços em condições inferiores, incapazes e impotentes.
Este texto nos alerta e exemplifica a gravidade a que as pessoas com deficiência estão submetidas nesta pandemia. Desde que passei a acompanhar este panorama aqui no Espírito Santo, tem sido difícil encarar com naturalidade os dias e noites. O número é muito alto de morte para deixar a inércia à deriva. Vista o colete e reaja.
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