No último dia 4 de dezembro, foi realizado em Vitória o primeiro Concurso de Beleza com Pessoas com Deficiência Visual do Estado, uma iniciativa do Setor Braille da Biblioteca Pública do Espírito Santo, em parceria com a agência Agatha Model. O que poderia promover um concurso como esse, se observado pelo ponto de vista de qualquer pessoa? Se você respondeu inclusão, acertou. Mas desejo ir mais fundo nessa análise, começando com o conceito de inclusão.
Lei para o que deveria ser natural
A palavra inclusão vem à tona quando nos referimos a diferentes causas. Incluir é colocar para dentro aquilo que está de fora. E para as pessoas com alguma deficiência, é preciso que a inclusão seja assegurada por leis, regras, declarações, estatutos. Como se fosse necessário lembrar algo que deveria ser natural, assim como expressa o primeiro artigo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, criado na França, no início da Revolução Francesa, em 1789. Este trata a todos em nível de igualdade e atribui ao indivíduo direitos intransferíveis, independente da classe da qual pertence. O primeiro artigo já afirma "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em direitos".
Com deficiência e com urgência
No Brasil, a lei que garante a inclusão às pessoas com deficiência foi sancionada apenas em 2015. Em termos históricos, é algo como ontem. Para nós, que precisamos urgentemente que essa lei seja parte da cultura de todos, é necessário um esforço cotidiano para que o primeiro artigo seja incorporado às nossas vidas: É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.
Por novas maneiras de olhar
Para promover o que a lei diz, temos que mudar nosso ponto de vista. Temos que fazer novas perguntas. Temos que questionar as ausências. Temos que modificar o sentido do que é normal. O projeto Às Escuras não deveria ser o primeiro, deveria ser mais um. Mais um de muitas iniciativas simultâneas que estão cumprindo um papel de fortalecer nosso conceito de humanidade.
Hoje já podemos ver um esforço no sentido de se derrubar os estereótipos e valorizar a diversidade. Mas ainda falta muito chão para atualizarmos conceitos como beleza e para mudar significados como corpo perfeito. A vida plena é vivida quando a todos é ofertado a condição de pertencimento, sem exclusão.
Espaço para realização de sonhos
Por isso, ao ser convidada para assistir ao desfile das pessoas com deficiência visual - que estavam maquiadas, penteadas, usando diferentes looks, como rezam os bons desfiles - pude perceber quantas delas ali estavam realizando o legítimo desejo de serem capazes de fazer qualquer coisa, desde que haja espaço para que isso aconteça.
Senti mais do que vi
Gostaria de que mais pessoas tivessem visto o que vi e senti. A alegria daqueles que pisaram pela primeira vez em uma passarela totalmente adaptada, o cuidado da mestre de cerimônias em fazer a audiodescrição de tudo – isso é acessibilidade – um espaço generoso que não deixou de lado a moda, a beleza e o glamour, típicos dos desfiles.
Falta muita gente abrir os olhos
Faltaram representantes do governo, já que era um evento promovido pela Secretaria de Cultura, pessoas da sociedade, representantes da moda, influenciadores, público. Faltou gente para observar um jeito novo de criar roupas acessíveis, por exemplo. Sim, também estamos falando de negócios e oportunidades.
Um evento, muitas conquistas
O projeto Às Escuras devolveu a esperança de transformar a moda e quebrar paradigmas, além de engajar diversas iniciativas, como a idealização do concurso. O evento trouxe para a pessoa com deficiência visual que desfilou a capacidade de gerenciar sua vida e mostrou que o belo está no diferente e é único.
Este vídeo pode te interessar
Parabéns a todos que participaram e acreditaram no projeto. E que possamos apreciar e dar visibilidade a outros tantos desfiles de moda com mais e mais diversidade na passarela.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.