Mariana Reis é administradora de empresas e educadora física. É pós-graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde. Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória

De malas prontas

As experiências que ia colecionando em cada momento despertaram em mim o instinto da sobrevivência, do autocontrole, do compromisso, da aventura, de aprender, pensar e agir. Viajar sozinha foi tão simples e ao mesmo tempo tão intenso

Publicado em 13/07/2021 às 02h00
Mala organizada para viagem
Cada viagem traz novas surpresas, outros olhares, e claro, o inesperado sempre. Crédito: Shutterstock

Viajar é um verbo que nos coloca em movimento, mesmo quando a gente não move um dedo em nossas mãos. Porque viajar é aquela palavra atiçadora das vontades de pegar a estrada, seja por terra, ar ou mar. E é também o que nos traz de volta alguma lembrança (ou várias), momentos que nos colocaram diante de experiências nem sempre previstas, mas com grande potencial de fazer parte da nossa coleção de histórias.

Trouxe o assunto para você que me lê porque gostaria de contar que me deparei, na última semana, envolta nessas memórias produzidas pelo deslocamento com finalidades turísticas. Ao ser entrevistada para o programa Inspirando Vidas, no YouTube, me vi novamente diante dos desafios que tive ao resolver fazer uma viagem internacional apenas em minha própria companhia. Falei sobre essa experiência aqui. Mas, para além das aventuras que toda e qualquer viagem nos apresenta, hoje resolvi falar sobre outro aprendizado que o pé (ou as rodas) na estrada nos ensina: não desistir tão fácil.

Quais medos você já levou na mala?

Parece que fomos programados para sentir medo do que não conhecemos e, somado a isso, medo de nos sentirmos sós, principalmente quando se trata de estar em um lugar longe da nossa casa. Eu concordo, é bom ter alguém junto, nem que seja para segurar a nossa mão numa situação inesperada. Mas o medo não deve ser um limitador, não pode funcionar como um paralisante para nossas ideias e sonhos. E quando me perguntaram, na entrevista, se eu já havia viajado sozinha para o exterior, me veio à mente todo o trajeto feito antes do embarque. E todos os planos que foram se alterando antes de fechar as malas.

Respondi ao entrevistador do programa que sim, já viajei sozinha para o exterior, mas porque um conjunto de fatores me levaram a isso. O esboço inicial era a viagem com mais duas amigas, também cadeirantes. Elas não puderam seguir em frente com os planos, mas eu não tinha nenhuma intenção de desistir. O destino: Nova York. O motivo: registrar os desafios que nós, pessoas com deficiência, enfrentamos ao viajar. O fato de sermos três certamente traria inúmeras situações inesperadas. Mas com a desistência das minhas amigas, tive que rever o motivo da viagem. Coincidência ou não, o motivo surgiu e pareceu ainda mais interessante.

Qual o plano quando os planos mudam?

Fui convidada a participar do Global Partnership on Children with Disabilities, um evento que acontece a cada dois anos, na Unicef, envolvendo mais de 40 países com o objetivo de garantir que os direitos das crianças com deficiência sejam incluídos e priorizados pelas agendas em nível global, regional e nacional. Para mim, era impensável perder uma oportunidade como essa. Mas para viabilizar minha viagem, agora solo, tive que buscar apoio da família, do meu estado, o Espírito Santo, por meio de um edital da Secretaria de Cultura anexando o convite para representar o Brasil e o Estado na Unicef O que começou como uma programação entre amigas se transformou em um acontecimento que mudou profundamente minha perspectiva em relação ao inesperado.

Durante o voo tive tempo para pensar no quanto tinha avançado quando decidi realizar esse objetivo e já aprendia ali a enxergar a vida com mais sutileza e generosidade. Nessas horas você precisa estar sem as amarras e os sentimentos precisam ser livres para percebê-los com intensidade. Fui entendendo também que às vezes, o desvio que o caminho faz, pode ser bem mais interessante que a reta antes planejada.

Dê boas-vindas ao inesperado

As experiências que ia colecionando em cada momento despertaram em mim o instinto da sobrevivência, do autocontrole, do compromisso, da aventura, de aprender, pensar e agir. Viajar sozinha foi tão simples e ao mesmo tempo tão intenso. Foi transformador.

Quando alguém me perguntar sobre minhas próximas viagens, se vou sozinha novamente, responderei sem pensar muito: por que não? Mas isso não significa que dispenso companhia. Pois a cada viagem traz novas surpresas, outros olhares, e claro, o inesperado sempre. Minha torcida é que a pandemia acabe e que novos embarques estejam próximos. Que sensações como essas não me escapem nunca e nem seja em vão esse instante chamado vida.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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