Se de um lado há quem aglomere com o negacionismo, ou quem ache que a vida tem que voltar ao normal, desprezando a doença que parou o mundo, há também quem acredite na ciência, pessoas que fazem e respeitam o isolamento para si e para o próximo e que aguardam a vacina.
Li outro dia que estamos vivendo uma guerra e acho que estamos mesmo. O resultado está aí para quem quer ver (ou não): mortos e mais mortos, infectados e mais infectados. A onda veio ainda mais forte agora, escancarando as vulnerabilidades. E sair vivo dessa guerra virou o grande desafio.
Um suspiro na esperança
Todos merecemos e não importa de onde venha. Ainda que a fila seja longa, um dia estaremos de braços posicionados para a tão esperada vacina. Esperar por dias melhores é o que me mantém firme e paciente, ainda que sem lugar na fila.
Temos uma lei, a 5377/20, que inclui as pessoas com deficiência no grupo prioritário para a vacina contra o COVID-19 no país, e nesta primeira fase somente as pessoas com deficiência institucionalizadas (aquelas que vivem em residência inclusiva, unidade ofertada pelo Serviço de Acolhimento Institucional para Jovens e Adultos com Deficiência) serão vacinadas.
Em seguida, se tivermos vacinas, serão os grupos com deficiência que tenham comorbidades, incluindo as pessoas com Síndrome de Down e aquelas pessoas com deficiência permanente grave, o que representa 7.744.445 de pessoas que estão entre 18 e 59 anos, segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE.
Esperar é uma arte
Como não temos um planejamento federal confiável ou específico, muitas dúvidas pairam sobre as definições e estratégias do Plano Nacional. Em que fase, ou lugar na fila, estão as pessoas com deficiência fora desses critérios ou faixas etárias?
Me veio a lembrança do clássico jogo Mario Bros. dos videogames, me esforço e torço para chegar à nova fase. Mudar de fase era a grande Vitória. Eu tenho certeza que a fila vai andar. A Lei Brasileira de Inclusão nos coloca em prioridade para os casos de calamidade pública, então, aguardar as fases da vacina, que um dia chegarão, e unir esforços para a garantia de direitos são esforços similares.
Pelo olhar de uma criança
Essa história toda de fila me fez lembrar um episódio que quase sempre falo em minhas palestras sobre políticas públicas para a pessoa com deficiência. Em minha trajetória como técnica de ginástica artística, fiz muitas viagens para participar de competições e foi numa dessas que fui surpreendida com uma de minhas atletas, no auge dos seus 8 ou 9 aninhos, que descobriu uma grande vantagem em minha condição de cadeirante. Nas horas livres de provas, íamos a um parque de diversões e ela descobriu que poderia ir seguidamente ao mesmo brinquedo, quantas vezes quisesse, sem precisar esperar. Ela empolgada, se inclina em minha direção, apoia em minha cadeira, olha firme em meus olhos e diz: é muito legal usar cadeira de rodas, porque a gente fura fila! Eu imediatamente na mesma empolgação respondi: claro! Isso é ótimo! E fomos de novo no brinquedo.
Diferente do parque de diversões, a nossa realidade hoje é outra. Nessa pandemia somos 46 milhões de cidadãos invisibilizados pelos gestores brasileiros. Como já disse em outros artigos, só aqui no estado são quase 300 mortes de pessoas com deficiência. Um altíssimo grau de letalidade. Vontade mesmo era de poder dizer: que bom, podemos “furar” fila!
Ah, o episódio do parque aconteceu fora do Brasil.
Sei que meu lugar na fila tá guardado e enquanto vamos a passos lentos, mas vamos, aproveito para debruçar e entender os tempos no qual vivemos. Não é pouca coisa para aqueles que estão com um olhar apurado para as transformações e valores que se apresentam de uma forma nova a todo instante para nós. É nessa fila que estou. A fila de quem acredita que a cura vai chegar, de quem preserva a saúde mental, a vida dos jacarés, e que sabe que a ciência e o conhecimento não dormem. #vemvacina
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