Aprendi com a pandemia reverenciar os ciclos, os que se fecham e os que se iniciam. Aprendi a reverenciar os começos. Dezembro chega amanhã e vamos escrever as últimas páginas deste ano tão difícil para a maioria dos brasileiros. É um mês de celebração, mas ainda requer esforço para atravessar para o lado de lá, em 2022.
Ainda nesta semana, no dia 3 de dezembro, celebramos o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Embora a inclusão das deficiências seja um direito humano fundamental, o caminho para garantir tais direitos tem se distanciado dos princípios da Convenção Internacional e da Lei Brasileira da Inclusão.
Estar viva é resistir
Algumas, talvez muitas conquistas nos últimos anos, vivem tempos difíceis e nunca na história do movimento precisamos resistir tanto para se esquivar das pautas dantescas de retrocessos. A lista dos incômodos é grande e nos exige reação para garantir a equidade, voz nas tomadas de decisão e participação com igualdade da vida em sociedade.
Sobre as muitas situações de descaso, desrespeito para dizer o mínimo, em que a pessoa com deficiência está diretamente envolvida e atingida, falo sempre aqui, neste espaço e é um assunto que irei tratar sempre. Hoje eu, pessoa com deficiência, quero mesmo é comemorar ter chegado até aqui. Viva, resistente ao apagamento e com disposição para continuar a batalha.
De volta ao jogo
Preciso contar que, depois de dois anos em isolamento, para comemorar antecipadamente o dia 3 de dezembro, voltei para minha modalidade esportiva que é o jet-ski. Aproveitei o único dia de sol, desses tantos que a nossa ilha vivencia de chuva, para navegar, redescobrir caminhos. Faça chuva ou sol o importante é seguir. Com a vacinação em dia, foi para lá que remei: adiante.
Minha decisão foi marcar essa data, que considero minha também, para mergulhar no que me dá prazer e acalma o coração. Foi um momento de declaração de amor poder voltar e compartilhar da beleza que é a nossa cidade.
Esperar, e navegar, é preciso
Do mar, minha contemplação era entender como é instigante estarmos com nós mesmos. Eu falava baixinho, mesmo podendo esbravejar: obrigada, obrigada. Foi um mergulho na paz, no bem-estar e a cada vez que acelerava o jet-ski sentia o vento levar a angústia, o medo e tudo aquilo que nos impede a liberdade.
Minha preferência é andar no manguezal de Vitória, da velocidade que posso imprimir por ali, mas amo igualmente ficar parada e escutar o meu silêncio, apreciar a natureza. Deixei o sol queimar o cansaço do cotidiano que todos nós estamos passando. O calor revigorou a vontade de comemorar a vida e tudo que ela nos traz. Quando navego eu desconheço as amarras, mergulho profundamente em minhas convicções.
Acredito que em cada passo, ou acelerada, na vida ou na natureza, há afetos que se misturam e nada explica a sensação de liberdade que me inundou nesse retorno. Foi uma longa espera, mas que a natureza compensou infinitamente.
Tempo rei
Sempre há tempo. Tempo para acreditar, esperar, e tempo para seguir o caminho ou descobrir novos percursos. Tomara estejamos unidos para continuar os embates caso eles apareçam ou insistam em permanecer, como naquelas pautas assustadoras que falei no início do texto.
Um brinde a tudo que conquistamos, ao esforço para não perdermos os direitos, e a todos que estão conosco na luta. Um brinde à renovação, à inovação, ao mergulho em tudo que nos traz serenidade e a produção que é coletiva e diária. Feliz dia.
Este vídeo pode te interessar
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.