A semana começa com uma experiência que acontece muitas vezes na vida de um estudante, mas desta vez não será da mesma forma como quando retornavam das férias: a volta às aulas de forma presencial. A pandemia marca esse retorno com vivências e sentimentos que podem ter deixado muitos impactos negativos, tanto na aprendizagem como também no aspecto socioemocional.
Se por um lado o isolamento e o distanciamento social marcaram de forma incontestável a vida, os estudantes com deficiência continuam suas atividades reforçadas pela invisibilidade na educação inclusiva. Desta vez vai ser preciso driblar a incapacidade dos gestores em classificar deficiência como doença, deixando facultativo a volta para a escola como todos os outros alunos sem deficiência.
Acolher os sentimentos depois de tudo que o mundo está vivendo deverá ser primordial para os próximos passos que serão dados a seguir. Acolher o sentimento da exclusão em não poder estar na escola parece ser tarefa que os gestores querem manter isolada ainda.
No conflito do direito, ou seja, o direito à educação e o direito à vida, o segundo prevalece sobre o primeiro. E acredito que, numa pandemia, que ainda nos cerca, é sobre isso que estamos falando. Portanto, diante de todas as preparações para esse retorno, que é importante, não encontro nenhuma justificativa para que os estudantes com deficiência permaneçam em casa, já que os outros estudantes estão convocados a voltar.
Direitos iguais e vidas salvas
O luto de pessoas próximas, pelo qual as crianças e jovens passaram precisarão de uma atenção especial. E para as crianças com deficiência? E as mudanças de rotinas que ocorreram em suas vidas, na família e na dos seus cuidadores, a escola não está preocupada? Por que separar essa readaptação à escola com todos os outros alunos sem deficiência?
Mesmo em circunstâncias normais, as pessoas com deficiências (na história) têm menos acesso à educação, a assistência médica, a oportunidades de trabalho e à participação nas suas comunidades. Porém, a pandemia agravou as desigualdades e gera novas ameaças, uma vez que, as pessoas com deficiências estão entre as mais afetadas por esta crise. Em mortalidade, por exemplo.
Inclusão às avessas pode ser danoso
O retorno é um passo muito importante e que estávamos aguardando com esperança, mas num momento em que temos uma nova variante nos rondando e em que apenas 20% da população brasileira vacinou com a segunda dose, deixar os estudantes com deficiência fora das escolas soa como uma medida intempestiva e de fácil tomada de decisão, não é? Adequar o aprendizado, desenvolver habilidades afetivas, reorganizar as matérias, e reordenar os objetivos, todo esse planejamento deve ser pensado incluindo e não escolhendo quem estará sentado na carteira. Se a educação é coletiva, por que uns voltam e outros não? Ou voltam todos ou posso entender que a justificativa significa exclusão e falta de preparo das escolas em atender as diferenças.
Minha torcida é para que a volta às aulas traga sentimento de segurança, e que todos possam criar estratégias para a recuperação da vida e da aprendizagem. Que disponibilizem meios tecnológicos e continuem seguindo em direção ao encontro dos recursos que complementam esse processo sem esquecer que a convivência com a diversidade trará muitas respostas.
Que os gestores trabalhem nas melhorias das escolas, na formação dos professores, nos níveis de aprendizagem, pois essas são as atitudes inteligentes e eficazes que espero. Do contrário, a educação continuará cruel com aqueles que não têm acesso ou têm acesso com dificuldade.
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Colocar as pessoas com deficiência no centro das suas respostas à Covid-19, dos seus planos de retorno e recuperação, consultando e envolvendo todas elas, é a mensagem que diria baixinho nos ouvidos dos gestores e, claro, traduzida em libras.
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