Mariana Reis é administradora de empresas e educadora física. É pós-graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde. Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória

Inclusão escolar: novas lições para novos tempos

Docentes, que atuam com o público-alvo da educação especial em todo o país, responderam a um questionário on-line. E os resultados mostram as dificuldades enfrentadas por eles e as barreiras que estudantes com deficiência ainda precisa quebrar

Publicado em 08/12/2020 às 16h01
Pessoa com deficiência tendo aula online
Apesar de apontar a falta de recursos de tecnologia assistiva para as aulas em casa, assim como outros problemas, o trabalho dos professores da política nacional de educação especial, na perspectiva da educação inclusiva, tem resultados impactantes. Crédito: Shutterstock

Inclusão Escolar em tempos de pandemia. É esse o nome de umas da maiores pesquisas feitas na educação pelo Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, divulgado no dia 16 de novembro de 2020. Além da parceria com a Universidade Federal do ABC-UFABC, a Universidade Federal do Espírito Santo-UFES e a Universidade de São Paulo-USP. Fazem parte da pesquisa membros do Grupo de trabalho sobre Educação Especial da Associação de Pesquisadores em Educação - GT 15 da ANPEd: Adriana Pagaime (FCC), Rosângela Prieto (USP) e o Professor Douglas Ferrari (UFES) – meu parceiro nessa jornada de pesquisas.

Entre os dias dez e vinte e sete de julho de 2020, docentes, que atuam com o público-alvo da educação especial de todo o país, responderam ao questionário on-line. Eles contaram quais recursos de acessibilidade estavam sendo disponibilizados pelas redes de ensino e escolas, no período de suspensão das aulas presenciais, para os alunos com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação.

Os resultados mostraram nitidamente as dificuldades enfrentadas pelos professores e as barreiras que impedem os estudantes com deficiência de usufruírem com equidade do ensino remoto, além disso indica sobre a gestão da escola e a relação família-escola nesse processo de aprendizagem.

Quem participou?

Dos 3.258 docentes que acessaram o questionário, 1.594 confirmaram a condição necessária para participar da pesquisa, que alcançou todas as unidades federativas do Brasil. Foram identificados quatro grupos de respondentes, com base na atuação docente: classe comum com alunos público-alvo da educação especial (67,5%); atendimento educacional especializado (AEE) (25,4%); escola ou classe bilíngue para surdos (2,4%); e escola ou classe especial (4,7%). O estudo foi bem completo, com resultados legítimos e uma resposta muito evidente que o trabalho nos dá: todo o esforço nesses últimos anos para a inclusão dos alunos com deficiência no ensino regular tem sido um grande avanço.

O que me chama a atenção e que todos podem conferir no site da Fundação Carlos Chagas, acessível para pessoas com deficiência visual e integralmente traduzidos para a Libras, é que os dados apontam o quanto o número de matrículas dos alunos com deficiência aumentou nas classes comuns. Apesar de apontar a falta de recursos de tecnologia assistiva para as aulas em casa ou do professor desconhecer ou ter pouco domínio dos recursos de acessibilidade das plataformas on-line, o reflexo do trabalho dos gestores e professores da política nacional de educação especial, na perspectiva da educação inclusiva, tem resultados impactantes.

Não desanimar da luta

E é por isso também que na semana do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, pudemos comemorar a revogação do temível Decreto 10.502 – o retrocesso da educação especial na perspectiva inclusiva. Já foi uma vitória e precisamos dar visibilidade a essa conquista. Outras etapas virão e precisamos fazer ainda melhor para não deixar essa trabalhosa educação se perder.

Valorizar é preciso, mas não aprendemos

Analisando a pesquisa sobre os alunos com deficiência, percebi também um aumento da relação da família com a escola. A família é a fonte inicial de aprendizados na vida de uma criança, a escola complementa esse aprendizado. Quando tudo está em equilíbrio quem se beneficia é o aluno. A valorização do professor pelas famílias também teve um crescimento é já não era sem tempo, não é mesmo?

Respostas educativas cabe às escolas

É a escola que deve ser capaz de acolher todo tipo de aluno, independentemente de suas características, e de lhe oferecer uma educação de qualidade. O que for contrário a isso é inconstitucional. Um ambiente escolar que não seja preconceituoso e segregador, melhora a autoestima dos alunos, faz com que aprendam, cooperem, se motivem. Ali crescem os laços de amizade, de desafios, alegrias e felicidades. Para que as crianças virem adultos capazes de reproduzir esse ambiente de empatia e compreensão em todas as esferas da vida.

Link para a pesquisa:

https://www.fcc.org.br/inclusao-escolar-em-tempos-de-pandemia/indexm.php

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