A primeira colônia de férias no Brasil iniciou na década de 1930, no Forte de São João, atual Escola de Educação Física do Exército, no Rio de Janeiro, com o objetivo de manter a ordem através da ocupação do tempo dos filhos dos militares.
Esse tempo passou
As colônias de férias, ao longo dos anos, vêm sendo transformadas. Nos dias de hoje, os pais que matriculam seus filhos em uma colônia de férias têm objetivos sociais, culturais, além de esperarem que as crianças tenham experiências enriquecedoras. Será?
Janeiro! E lá vêm as férias
Verão, praia... E as crianças curtem as merecidas férias do colégio. É um período de muita diversão e, quase sempre, um motivo de preocupação para os pais que trabalham o dia todo e não podem ficar de olho nos pequenos. Uma solução para isso – e que agrada tanto os pais como os filhos – são as colônias de férias, que garantem o divertimento saudável da garotada e dão a segurança aos pais.
Lá fui eu mais uma vez...
Assumi a missão de visitar locais que promovem essas colônias de férias. Dentre as várias observações, como o local, ficha de inscrição, preços, acesso, quantidade de recreadores, atividades oferecidas etc, a que mais me surpreendeu foi não ver em nenhuma delas a participação de crianças ou adolescentes com deficiência. Ah, o que é igualmente pior, de não entender o objetivo das atividades propostas. Era cada atividade sem pé nem cabeça que até fiquei constrangida em estar ali observando... Acho que aí também entra a falta de profissionais capazes de mediar tais atividades.
Alôôô!! Por que as crianças com deficiência não estão envolvidas?
É uma resposta que precisamos buscar. Brincar, jogar, passear e se divertir são necessidades básicas primordiais para o desenvolvimento pessoal e social do ser humano e, por essa razão, devem ser asseguradas a todos. TO-DOS!
Lazer é direito
O ato de planejar qualquer ação e, nesse caso específico, uma atividade de lazer, implica uma organização que deixa clara nossa visão de mundo e de sociedade, ou seja, que tipo de ser humano desejamos para nosso convívio social, que lazer desejamos oferecer? Então, pensar o lazer enquanto um direito social, presente na Constituição Brasileira de 1988, é pensar quais são as opções de lazer que a sociedade tem a oportunidade de usufruir, tanto no âmbito da iniciativa privada, quanto através das políticas públicas de lazer propostas pelo Governo Federal, Estadual e Municipal.
Daí, que fui pesquisar sobre os aspectos legais
Todas as colônias que visitei não tinham acessibilidade, e as atividades aconteciam em lugares com escadas e outras barreiras. Uma criança com deficiência visual, por exemplo, com certeza seria impedida de usufruir das sessões de filmes, que todas as colônias ofereciam no pacote. Em conversa com um amigo advogado, fui informada de que as colônias de férias se enquadram, para a Receita Federal, na mesma categoria de hotéis e pousadas e, além disso, elas precisam de alvarás de funcionamento, licença dos bombeiros e outras formalidades para funcionar. Já conhecemos esse filme – de terror – da liberação de alvarás sem se respeitar os critérios de acessibilidade. Eles continuam em “cartaz”. Oh céus!
O processo de inclusão é complexo, eu sei
E não pretendo neste texto - e tampouco com as visitas que fiz às colônias - minimizar ou encerrar as discussões sobre este difícil e longo percurso. Pelo contrário, o meu objetivo é acender o debate e pensar sobre alguns fatos que podem nos ensinar como agir e melhorar diante de situações semelhantes a esta que acabo de relatar.
Um alerta que pode sinalizar um caminho
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Para essas férias que só estão começando fica o convite para que, ao planejarmos tais atividades, saiamos da nossa zona puramente mercadológica e de conforto que nos distancia das inúmeras possibilidades, para outra, a do direito, que nos aproxima e nos auxilia na compreensão das diferenças. Que possamos dar toda a atenção para novas experiências, para as potencialidades humanas, para as necessidades tanto individuais quanto coletivas e, principalmente, aos pequenos gestos. Quem se arrisca?
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