Patrick, funcionário de um shopping no qual costumava ir antes da pandemia, me relatou: tenho uma irmã com deficiência. Eu e meu hábito de conhecer pessoas e suas histórias paramos para ouvir o que Patrick tinha a dizer. Por isso, a coluna de hoje traz um assunto que é muito caro para mim: irmãos.
Que a chegada de um novo irmão ou irmã pode gerar estresse e tensão entre as crianças já sabemos. Mas quando a chegada dessa irmã ou irmão vem acompanhada de uma deficiência, muitas dúvidas de como lidar com tal situação surgem também. Entender a posição que os irmãos de uma pessoa com deficiência assumem ao tomar conhecimento da situação diferente da família deve ser sempre refletida e avaliada. A forma como eles encaram o convívio com as limitações e as peculiaridades daquele irmão com deficiência - que, por sinal, é muito querido, mas nem sempre entendido - pode interferir muitas vezes positivamente, porém, quase sempre, pelas experiências que ouço, negativamente.
A necessidade de ser perfeito
Na conversa com Patrick pude perceber que o diálogo é a melhor maneira de conviver de forma saudável e feliz entre os irmãos. Mas ele deixou escapar o que acontece com muitas famílias: “A atenção é sempre maior para a minha irmã”. “Ela é a do meio e todos vivemos em função dela”. Essa parece ser uma situação recorrente nas famílias que tem um filho com deficiência: a da sobrecarga de responsabilidade que os outros irmãos recebem. É como se eles tivessem que se tornar “pais” do irmão com deficiência.
O tratamento desigual dado aos irmãos com e sem deficiência pode potencializar a ansiedade e o sentimento de injustiça. Esses sentimentos dificultam o fortalecimento de vínculos sociais e fazem com que a criança com deficiência fique centrada nela mesma. Em minha experiência como educadora percebi – em alguns casos – que os irmãos sem deficiência tinham dificuldades até mesmo na relação fraterna. Eu via neles uma mistura de sentimentos, que variavam entre ciúmes, hostilidade e pena.
A necessidade da atenção equilibrada
Para mostrar como essa é uma realidade entre as famílias, deixo um pedacinho do livro em que pesquisei para o texto de hoje. Chama-se “Irmãos Especiais”. Nem curto esse título, mas a obra dos autores Powell e Ogle esclarece pontos importantes. "Tudo o que Mindy fazia era aceito com grande entusiasmo por nossos pais. Em contraste, a reação de mamãe e papai as minhas realizações não passava de um mero tapinha nas costas. Esperavam que eu me portasse bem em qualquer circunstância. Eu queria que meus pais ficassem entusiasmados com o que eu fazia também... Eu queria que me dessem atenção" (p.33).
Quando os pais superprotegem, essa relação pode ser marcada por conflitos e rivalidades, mas, por outro lado, quando esclarecidas sobre as diferenças, esse mundo dos irmãos pode ser repleto de afeição, cumplicidade e companheirismo. Daí que mais uma vez aparece o diálogo e ele é de responsabilidade dos pais, podendo ser auxiliado por profissionais. É importante falar com clareza sobre as atenções e cuidados com o irmão que tem deficiência, bem como das suas potencialidades. Quando aprendem sobre a deficiência de seus irmãos, esse convívio além de saudável também pode ser um ótimo estímulo para o desenvolvimento. Já pensou quantas brincadeiras e atividades eles podem construir juntos?
Todos têm alguma necessidade e todos são especiais
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Para finalizar, é necessário e urgente que instituições, escolas e outros locais de atendimentos à pessoa com deficiência ampliem essa atenção – que hoje fica bem centrada nos pais – para os irmãos, os avós, tios, amigos, padrinhos. Vamos escutar o que os irmãos pensam, sentem, quais as suas preocupações, necessidades e o que enfrentam e como estão se desenvolvendo pessoalmente. Pode ser um caminho, não é mesmo?
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