A coluna de hoje traz a participação do meu amigo Rodrigo Luiz Vancini. Professor e pesquisador da UFES em Envelhecimento, Saúde e Qualidade de Vida. Idealizador da MoveAge – envelhecimento Ativo (eA).
Ele é incansável quando o assunto é envelhecimento e vamos estar juntos nessa trajetória. O universo trouxe de volta a nossa amizade e exige de nós ações inovadoras no campo das políticas públicas para a vida idosa. Precisamos dar uma resposta a esta pergunta: envelhecer é doença?
Causa surpresa uma entidade tão respeitada como a Organização Mundial da Saúde (OMS) cair nesta armadilha e com a nova edição da Classificação Internacional de Doenças (CID), prevista para entrar em vigor no ano de 2022, admitir que “velhice é doença”. Aparentemente à princípio, sem considerar todos os desdobramentos e repercussões biopsicossociais e econômicas que este ato pode gerar.
Mais vida para viver, menos rótulos para envelhecer
Partindo da premissa que “velhice é doença”, da qual a pessoa que escreve este texto não está de acordo, faço um primeiro questionamento: sendo “velhice considerada doença” e alinhando com a classificação da OMS que considera “idoso”, em geral, e na maioria dos países a pessoa com 60 anos ou mais, a depender de indicadores socioeconômicos, surge a pergunta: com o novo CID, ao atingir a idade de classificação de idoso da OMS e sendo velhice doença, posso então requisitar automaticamente minha aposentadoria e benefício? Não me parece algo razoável.
A sociedade global caminha para o aumento da expectativa de vida global e completar 60 anos não pode mais ser uma data marco para conduzir “gentilmente ou não” uma pessoa para os aposentos sem dar a ela as oportunidades de escolha de caminhos.
Neste contexto, o envelhecimento é um processo inexorável, progressivo, variável e natural de todos os organismos vivos. Nós, seres humanos, começamos a envelhecer no momento em que nascemos. Esse processo é marcado por alterações biopsicossociais que podem impactar a qualidade de vida, autonomia (poder de decisão) e independência (poder de ação) das pessoas na medida que envelhecem e que o tempo passa. No entanto, para além das “perdas e limitações” que podem advir com o envelhecimento, tão arraigadas no “DNA da sociedade”, também deve ser visto como uma fase de maior maturidade, sabedoria e possibilidades.
Cada fase da vida importa
O ponto-chave é que dar a chance para o envelhecimento das pessoas na perspectiva do “Envelhecimento Ativo”, forte e respeitado conceito e delineado por grandes e respeitados especialistas da OMS; ou seja, aperfeiçoamento das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas não envolve apenas o aspecto físico mas também, acesso à educação, cuidados e serviços de saúde, trabalho, cultura, lazer, inclusão social e digital, ambiente físico e entorno social.
No entanto, este é o caminho mais difícil para os gestores públicos e privados de todos os níveis e países (principalmente aqueles em desenvolvimento como o Brasil), pois envolve ter que prover e fazer mudanças estruturais e socioeconômicas drásticas para o processo de envelhecimento mais inclusivo, plural e saudável e que respeite diversidade e seja definitivamente para todos. Adicionalmente, não cabe mais no mundo de hoje que um grupo menor de pessoas sejam elas da esfera política, empresarial, do judiciário, da saúde e etc... tomem decisões que afetem muitos e a maioria sem conhecer a realidade da qual se decide e sem um mínimo de letramento em saúde. Sem dúvida, a chance de erros, injúrias, injustiças e prejuízos será enorme e os efeitos podem ser drásticos.
Por fim, no mês de “junho violeta” no qual dia 15 é o dia mundial do combate à violência contra a pessoa idosa e com a importante campanha “vidas idosas importam” (#vidasidosasimportam #velhicenãoédoença) podemos finalizar esta breve reflexão com a frase “Envelhecer não é doença. É dádiva, oportunidade e ato e amor”.
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