Desde que o Espírito Santo incluiu os dados sobre a pessoa com deficiência no quadro COVID-19, tenho produzido algumas reflexões aqui na coluna sobre a invisibilidade que nos atravessa durante esse momento histórico de crise humanitária.
Infelizmente, as mortes de pessoas com deficiência aqui no estado chegam perto de quatrocentas. Junho está no começo, mas o fim da pandemia parece longe. Estamos vivendo um momento tão “avacalhado” que ficamos atônitos diante da potência com que a ignorância no Brasil é abastecida. Quem dera fosse a vacina chegando com tamanha proporção.
Outras épocas
Muitos foram os debates onde estive presente para permitir e ampliar a participação das pessoas com deficiência nas decisões governamentais. Um deles foi o das Conferências Nacionais sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. O evento foi um marco para o nosso país. Senti-me tão orgulhosa naquele instante e esperançosa de anos melhores, mas sinto tristeza ao constatar que muito dos ganhos que obtivemos está se perdendo.
No contexto das Conferências, o papel dos Conselhos de Direitos, que definiram os rumos da Política Nacional, foi fundamental. Aliás, os Conselhos são essenciais como mecanismos de controle social. Se não estão ativos e atuantes os direitos e conquistas se esvaem. Hoje o que temos são situações urgentes, que envolvem pessoas com deficiência pipocando e sem nenhum ou quase nenhum enfrentamento.
Queremos altas doses de vida
Na semana passada, ainda que sem a presença dos Conselhos, mas com a participação de instituições e também algumas autoridades, incansáveis, que não medem esforços para manter garantidos os direitos fundamentais das pessoas com deficiência, que estes, nunca poderiam deixar de ser incorporados à agenda política; conseguiram fazer com que o Espírito Santo alterasse a nota técnica, e incluísse todas as pessoas com deficiência no plano da vacina, independentemente da deficiência ou da renda (recorte injustificável feito pelo Ministério da Saúde). Foi uma vitória num momento de tantos retrocessos. Depois de um ano e três meses de pandemia, todos com deficiência permanente já podem fazer o agendamento.
Estamos necessitando de uma liberdade emergencial, de uma injeção que nos livre da falta de amor, de empatia, do hostil. Precisamos da vacina que nos humaniza, nos faz seguir em frente, que nos dá coragem.
Por aqui vou me preparar para receber na veia (e no braço) uma dose de alívio, de celebração, de vigor nos sonhos, de esperança. Que a força para superar a dor seja em alta dose e que venha reforçada de um abraço de saudade, do tipo que fala sem palavras e renova o ar.
Este vídeo pode te interessar
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.