Mariana Reis é mestranda em Sociologia Política, Administradora , TEDex, Colunista e Personal Trainer

Saudade, seja bem-vinda

Quando tenho saudade, ela chega como um filme, as imagens são nítidas, os sons vivos, os tons de vozes são claros, ela esculpe minha trajetória

Publicado em 15/03/2022 às 18h33
silhueta de mulher
Tento encontrar maneiras confortáveis, uma delas é fechando os olhos, que amenizam possíveis mistérios que a morte me entrega através da saudade . Crédito: Freepik

O mês de março me traz lacunas. Mês de aniversário do meu pai e de despedida do meu irmão. Duas partes de mim que não estão mais nessa dimensão. O reencontro com eles em pensamento traduz a falta de forma inquietante em mim. A saudade mora em meu sono.

“Sinto saudades dos que se foram, e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre! Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive, mas quis muito ter” (Clarice Lispector).

Um filme de feito de ausências

É assim que dúvidas, incertezas e dilemas me obrigam a administrar a falta e a ausência. Tento encontrar maneiras confortáveis, uma delas é fechando os olhos, que amenizam possíveis mistérios que a morte me entrega através da saudade e que me tomam ainda em sentido cronológico, mas não só, a saudade arde em mim eternamente. Mesmo sendo avessa às datas, a cronologia existe nas lembranças das datas de aniversários, quantos anos fazem, das datas que partiram, dos encontros no Natal, Dia dos Pais e tantas marcas no calendário.

Quando tenho saudade, ela chega como um filme, as imagens são nítidas, os sons vivos, os tons de vozes são claros, ela esculpe minha trajetória. Nesse filme, vivo momentos únicos escritos em minha memória. Saudade, palavra de difícil definição, exprime sentimentos em todos nós e de forma única.

A vida é sempre no agora

Eu já consigo perceber que, à medida que o tempo passa, a saudade imprime em mim possibilidade de lidar com as angústias, ela permite um caminho às circunstâncias, ainda que incompreensíveis. É como se o tempo expandisse minha consciência em relação à finitude humana.

Falar sobre este sentimento que mora no passado e no presente, por vezes melancólico, ou de frio na barriga, por diversas razões, não significa que tenho vazio existencial, tá? Cuido para não morar no passado. Aliás, uma das lições dos últimos tempos é viver o agora. Apesar dos dilemas que me cercam a respeito da palavra saudade e da sensação que a ausência traz, tenho em mim a certeza da transitoriedade das coisas, e da vida. Oh, se tenho.

Saudade, volte sempre

Aprendi também que é preciso deixar a saudade doer e que, de vez em quando, ela cola na alma como chiclete. É aí que invisto num encontro com a escrita, silencio na meditação, falo na psicanálise e organizo minhas reflexões, para desgrudar e deixar ir. Como se essa dor encontrasse o portão de saída aberto e me libertasse para novas histórias.

Compreender que saudade é palavra solta que mora no meu sono e conduz a um sentimento de coragem e esperança em relação ao futuro faz parte desse mosaico que entendo ser a vida. E você? Como é a sua saudade?

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Comportamento

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.