A banalização da vida, nos últimos tempos, pela insuportável incompetência dos gestores públicos, tem revelado uma ameaça real também à vida das nossas crianças. Juntam-se a todos nós num Brasil sem perspectivas de soluções.
Soluções que nos libertariam dos horrores do negacionismo, da utopia de um mundo melhor. Quando observo pela janela, vivendo a pandemia, e seguindo o movimento das nuvens, penso que esse mundo está bem distante – ainda -.
A contragosto e de maneira tardia, conseguimos colocar as crianças no programa de vacinação da COVID-19. Mesmo assim, considero que tenha sido uma vitória do embate contra os que negam a ciência. Ufa.
Se prometemos, temos que cumprir
Há alguns anos faço parte do The Global Partnership on Children with Disabilities, com mais de 250 organizações de pessoas com deficiência pelo mundo, que trabalha para promover os direitos das crianças nos níveis global, nacional e regional. Fato é que acompanho de perto as resoluções que envolvem a Unicef.
Com o imbróglio da liberação da vacina, fui ler com mais profundidade a agenda Pós 2015, onde 193 países membros da ONU, incluindo o Brasil, se comprometeram. A Agenda considerada uma das mais ambiciosas da história, parece paradoxal com o que estamos experimentando. Nela, o Brasil diz que trabalhará para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Para onde querem nos levar?
Os ODS visam eliminar a pobreza extrema e a fome, oferecer educação de qualidade ao longo da vida, saúde, proteger o planeta e promover sociedades pacíficas e inclusivas até 2030. Saneamento, igualdade de gênero fazem parte dos compromissos com nossas crianças e adolescentes.
Fico imaginando diante de tudo isso que a pandemia causa e a falta de gerenciamento das políticas públicas, como haverá um Desenvolvimento Sustentável sem incluir os direitos das crianças na saúde, sobretudo as mais pobres, reconhecendo que as oportunidades não são justas, e se formos pensar em etnias, e crianças com deficiência, esse enfrentamento se torna ainda mais sofrido.
Me coloco no lugar de cada familiar que perdeu seu filho ou filha para o vírus de maneira tão cruel. Que vazio enorme deve existir depois dessas perdas. Diante disso percebo que o Brasil está indo para um lugar frio, escuro e pequeno, onde a vida é tão banal quanto insignificante, e ela se esvai rápida e trágica.
Vacinar as crianças é construir um futuro para todos
Nossas crianças não merecem perder a vida de maneira tão irresponsável. Custo a acreditar nisso, e vejo que os pais que atiram a criança pela janela, e outros tantos casos horrorosos, são os mesmos que atiram as nossas crianças para bem longe da vacinação. Torço para que a ignorância não vença o trabalho árduo daqueles que se debruçam dia e noite para buscar soluções para saímos vivos desse caos.
Vacinem seus filhos. E que o esforço da Agenda Pós 2015, acordada pela ONU, que se empenhou para fornecer oportunidades justas na vida da criança, adolescente, com ou sem deficiência, seja lembrado pelo Brasil (já que se comprometeu). As apostas são altas dos países para construir um futuro bem-sucedido, façamos jus a essa determinação.
Há de ter um alento para nossas almas. Que possamos enxergar o sorriso de uma criança como uma recarga na esperança. Ver uma criança sorrir e com saúde é combustível que nos move em direção a um mundo de paz e verdadeiramente sustentável. Temos um compromisso.
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