*Gedaias Freire
Morar em condomínio é uma arte e eterno aprendizado, onde precisamos nos colocar no lugar do outro, ter empatia, compreender, aceitar e considerar ações de outras pessoas que podem tirar nossa comodidade, sem, contudo, perdermos o controle.
Muitas pessoas não estão preparadas para morar em condomínio, pois não sabem viver em uma grande família, que gosto de chamar de "família condominial". Não aceitar regras, receber notificação, ligação ou ser chamado atenção por outro morador ou pelo síndico é criar uma guerra emocional muitas vezes com resultados drásticos (violência, agressões e morte).
Nesse sentido, perfeita a lição de Daniel Goleman, jornalista, escritor americano, ph.D pela Universidade de Harvard, autor de vários bestsellers (ou livros mais vendidos), dentre eles - "Inteligência emocional" e "O poder das relações humanas - inteligência social". Para ele, “No mundo atual, não basta ser inteligente, esperto e preparado para competir. É preciso ter calma e empatia, e persistir diante das frustrações para conseguir viver bem no amor, ser feliz com a família e vencer no mercado de trabalho.”
A trágica, violenta e covarde morte do músico em Jardim Camburi por um policial militar preencheu os noticiários do nosso Estado, indignados com tamanha violência, praticada após, segundo reportagens e vídeos, o policial ser abordado para reduzir o barulho (campeão das reclamações em condomínios). O policial militar, despreparado, e usando arma de fogo em ambiente não compatível, atirou e matou um cidadão de bem, que encantava pessoas com sua arte.
Rapidamente “pessoas” sem empatia resolvem buscar e até apontar o dedo para “culpados”, inclusive achando que as normas de condomínios são frágeis e se fossem mais pesadas teriam evitado a morte. Lamentável pensamento exposto nos meios de comunicação, que, antes de contribuírem, acirram mais os ânimos revelando ausência de conhecimento das regras que regulam as relações condominiais.
Pior ainda, esquecem ou não querem acreditar que, no Brasil, o cumprimento da lei é frágil, e quando aplicada atinge fortemente uma minoria pobre, desqualificada (sem estudos) e sem condições econômicas, mas os criminosos poderosos e do colarinho branco saem impunes e são aplaudidos e eleitos. Triste sina.
Os condomínios são regulados pela Lei 4.561/64 e Código Civil Brasileiro que estabelecem penalidades de até cinco taxas de condomínio para o descumprimento reiterado das regras de convivência ou até 10 vezes para o condômino antissocial, considerado aquele que gera incompatibilidade de convivência com os demais condôminos, que pode ser excluído ou expulso da sua unidade por lhe faltar condições morais, éticas e sociais, de morar em comunidade. Mas isso é um processo longo e travado no Poder Judiciário, que sabemos como funciona (lento, caro, etc).
“A sociedade está doente, podemos, e devemos, agir proativamente, dando o exemplo. Respeitar quem nos cerca não é um mandamento, digamos assim, vazio, mas repleto de ensinamento. Reduzir a violência passa, sim, pelo respeito a quem está ao nosso lado, mas, fundamentalmente, a quem é diferente de nós”. Essa afirmação é do Arthur Guerra, professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental. Leia mais sobre o que ele fala em: https://forbes.com.br/forbessaude/2020/11/arthur-guerra-a-nossa-sociedade-esta-doente/.
Em recente artigo publicado em jornal, o terapeuta individual e familiar Claudio Miranda toca na ferida ao indagar: você é uma pessoa violenta? E resume bem: “é preciso começarmos a expressar a paz nas nossas ações e atitudes. Para um discurso de ódio, precisamos fazer três discursos de paz e harmonias. Cidadão do bem é aquela pessoa que expressa sua bondade e tolerância por onde passa. Pense nisto!”.
Nos cursos de Gestão e Organização de Condomínios, Mediação de Conflitos, dentre outros, promovidos pelo Sindicato Patronal de Condomínios e Empresas Administradoras de Condomínios (Sipces), procuramos mostrar para os participantes que precisamos exercer com habilidade gestão de pessoas. Em todas as nossas relações, pessoas estão no centro, não basta cuidar apenas de processos, pois esses são tocados por indivíduos. Valorizar pode ser um caminho, não apenas financeiramente, mas proporcionar ambiente saudável e comunicações pró-ativas melhoraram o clima organizacional. Em qualquer segmento de atividade, são atitudes de crescimento destas relações.
A cultura da denúncia sem fundamento ou desprovida de certezas é um desafio, somos ‘chamados’ a denunciar vizinhos, muitas vezes por gritos nas unidades, sequer percebemos que naquela unidade pode morar pessoas com transtornos mentais (em suas variadas formas), e que podem expressar através de gritos (nas crises), o que deveria demandar espírito colaborativo e não simplesmente apontar o dedo.
Voltando ao articulista Claudio Miranda, “brigar por bobagens se tornou algo corriqueiro…Se consideramos a violência no aspecto pessoal, constataremos o quanto ela tem a ver com frustrações, egoísmo, ameaças, crenças equivocadas sobre a vida e sobre os outros.”
Síndicos, não somos os salvadores do mundo. Não tome as dores das pessoas, não atue de bate pronto, pense, reflita, consulte antes de agir. Aplicar penalidades faz parte das nossas atividades, mas tudo na vida é preciso cautela e bom senso, nada pode ser a ferro e fogo, esse tempo já passou. Vamos mudar o tom da conversa, aplicar os 17 princípios para resolver conflitos, excelente obra literária de Dana Caspersen. Procure ler ou participe do curso de mediação de conflitos acima mencionado.
Vale a máxima lição aprendida com meus avós e pais: filho, conte até 10, vá dormir, esfrie a cabeça, amanhã você toma uma decisão com mais cautela e reflexão.
Então, vamos aprender a aplicar a empatia para a construção de relações mais sólidas e uma sociedade melhor. Pode ser no seio familiar, condominial ou de trabalho, para começar.
*Gedaias Freire é presidente do Sindicato Patronal dos Condomínios (Sipces)
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