* Alexandre Schubert
Estamos no momento de rever os fatos ocorridos e olhar à frente objetivando planejar a indústria da construção. O mercado imobiliário, em face de seu alto impacto na empregabilidade, geração de dinâmica econômica e significativa participação no PIB, merece uma observação atenta.
A Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Espírito Santo (Ademi-ES) que congrega empresas, em especial, dos segmentos residenciais, corporativos e loteamentos, vem debruçando esforços para entender os movimentos de produção e consumo das unidades imobiliárias. Isto porque seus comportamentos foram bruscamente afetados pela crise sanitária e as projeções são elaboradas com dados ainda escassos dessa nova realidade.
Em se tratando de fatos, o ano de 2023 não repetiu o resultado de 2022. Entretanto, foi o terceiro melhor ano da história desse mercado, apurado com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Em breve retrospecto, em âmbito Brasil, o acumulado de lançamentos no ano até o terceiro trimestre de 2023 foi de 193.901 unidades. No mesmo período de 2019, o número foi de 82.044 unidades lançadas.
Em relação ao número de vendas, o resultado foi da mesma magnitude: no mesmo período comparativo, o ano de 2023 registrou 234.912 unidades vendidas contra 129.139 em 2019.
Logo, 2023 nada deve ao período pré-pandemia. Aliás, a economia em geral teve um desempenho melhor do que as análises projetavam para o ano.
Retornando ao futuro: um recente artigo de Paul Krugman – Prêmio Nobel de Economia em 2008 – publicado em 13 de dezembro, chama a atenção para os erros das previsões. Pautou-se em eventos do mercado americano que contradisseram as projeções mais sombrias para o país. Guardando a precaução indicada pelo cronista, acredito que o próximo ano será mais promissor para o mercado imobiliário brasileiro.
As recentes estimativas para o PIB, em 2024, indicam crescimento entre 1,5% a 1,8%. Fecharemos 2023 com o crescimento em algo próximo a 3%, contra projeções iniciais na ordem de 0,8%.
O caminho das taxas de juros é decrescente, com o Banco Central atuando para um número em torno de 9%, ao final de 2024. Aliado ao esforço para redução do custo financeiro, o Banco Central continua com dedicação intensa no controle das taxas inflacionárias, as quais também convergem para as metas futuras.
Na ponta de consumo, a redução na taxa de desemprego indicando futura estabilidade e leve crescimento na renda média, deve permitir às famílias um menor endividamento e capacidade de formular planos para a aquisição do imóvel próprio.
No aspecto moradia, o nosso déficit habitacional continua persistente em aproximadamente 6 milhões de unidades, segundo a Fundação João Pinheiro. Estudos da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) indicam que o déficit atual, em 7,7 milhões de habitações, avance para a ordem de 11 milhões em 2030. Enfim, ainda que com divergências de números, é patente que a demanda de habitações é enorme e indica o potencial (positivo) a ser resolvido pela indústria imobiliária.
Ainda em relação ao déficit habitacional, as alterações propostas e em implementação nos programas de financiamento de unidades econômicas já começam a surtir efeitos nos lançamentos. O movimento deve se intensificar no próximo ano, fazendo com o Minha Casa Minha Vida (MCMV) seja responsável por cerca de 60% da movimentação do mercado.
Em um cenário projetado com taxas de juros menores, inflação sob controle e decrescente, empregabilidade estável e enorme demanda habitacional, o mercado imobiliário deve prosseguir com viés de crescimento nos próximos anos.
Teremos muito trabalho pela frente, o que é bom para o setor e para o Brasil.
* Alexandre Schubert é vice-presidente da Associação das Empresas Imobiliárias (Ademi-ES) e diretor Geral da VTO Polos Empresariais
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