Apaixonada por vinhos, Nádia Alcalde é jornalista, sommelière e consultora. Escreve sobre o universo da bebida, antenada com lançamentos, tendências e notícias.

Além da Serra Gaúcha: conheça vinícolas que se destacam pelo Brasil

Alta qualidade de vinhos elaborados no Nordeste do país e no interior de São Paulo chama a atenção de enófilos exigentes

Publicado em 26/03/2021 às 09h50
Vinhedo da vinícola Miolo no Vale do São Francisco
Cultivo de uvas da vinícola gaúcha Miolo no Vale do São Francisco. Crédito: Miolo/Divulgação

Quando falamos de vinho nacional, lembramos logo do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul. No estado estão várias vinícolas com reconhecimento internacional e a região já é roteiro certo para muitos apreciadores da bebida produzida em solo brasileiro. Mas não é só isso.

Um território extenso como o do Brasil certamente permite outras possibilidades. Já contei aqui que as primeiras mudas de Vitis vinifera plantadas no país não se adaptaram muito bem, mas isso foi lá no século XVI. Faz muito tempo, e de lá para cá tentou-se daqui, discutiu–se dali e, para nossa sorte, as uvinhas boas para produzir vinho começaram a vingar.

Aos poucos o Brasil foi descobrindo os melhores lugares para plantio e delimitando seus terroirs, que nada mais são do que a combinação ideal de clima e solo para cada tipo de planta. Quem diria que até mesmo no Nordeste poderia dar certo?

É comum escutarmos que uvas gostam de frio e que quanto mais a região estiver próxima à Linha do Equador mais quente ela será e, como consequência, menos chances haverá de o cultivo das videiras ter sucesso.  

Pois a região do Vale do São Francisco, em pleno Nordeste do Brasil, coloca essa tese por água abaixo. Temos cepas internacionais plantadas em uma área onde o sol brilha por mais de 3 mil horas por ano e o inverno praticamente não existe. Os vinhos resultantes desse cultivo surpreenderam tanto que até a mais antiga vinícola do país, a gaúcha Miolo, começou a produzir espumantes e vinhos por lá, onde já está há algum tempo outra gigante do setor, a Rio Sol, pioneira na região. 

Vinhedo da vinícola Guaspari, no interior de São Paulo
Vinhedo de Syrah da vinícola Guaspari, no interior de São Paulo. Crédito: Guaspari/Divulgação

E não é só no Nordeste. Outras regiões menos tradicionais em viticultura, como o Sudeste, em especial os estados de São Paulo e Minas Gerais, também têm se destacado com seus vinhos. É do interior paulista que vem um dos melhores exemplares de Syrah do Brasil, produzido pela Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal.

A vinícola coleciona prêmios. Ganhou por dois anos consecutivos medalha de ouro no Decanter World Wine Awards, dada ao Syrah Vista do Chá das safras 2012 e 2014. Um outro Syrah Vista da Serra também não ficou atrás: já faturou duas medalhas de prata em uma competição internacional com Syrahs de várias partes do mundo.

Uvas Syrah cultivadas em Espírito Santo do Pinhal pela vinícola Guaspari
Qualidade das uvas Syrah cultivadas pela Guaspari rendeu prêmios à vinícola. Crédito: Guaspari/Divulgação

Tamanho sucesso no cultivo dessas uvas se deve à evolução da tecnologia vitivinícola. São muitas as modernidades adaptadas, como os vários tipos de irrigação, o melhoramento genético das videiras e o sistema da dupla poda - que inverte o ciclo de amadurecimento da uva, assim como é feito em alguns vinhedos aqui do Estado.

VENDA ESPECIALIZADA

A qualidade dos vinhos de outros cantos do país, fora da Serra Gaúcha, têm chamado a atenção de alguns sommeliers, que estão até se especializando na venda desses rótulos. É o caso da Andréa Rocha e da Natália Souto, que coordenam o grupo de compras coletivas Seleção Terroir, especializado em terroirs não tão conhecidos no Brasil. A empresa faz entregas na Grande Vitória. 

Andréa Rocha

Sommelière

"É grande a dificuldade de conhecer vinhos nacionais. As pessoas estão mais familiarizadas com os rótulos do Rio Grande do Sul, mas os de Santa Catarina, Paraná, Bahia e Goiás quase ninguém conhece. Muitos nem imaginam que existam vinhos dessas regiões e que são também rótulos de excelente qualidade."

Com características climáticas tão diferentes, também podemos esperar vinhos com aromas e sabores muito peculiares, cada qual refletindo o seu lugar de origem. Cabe a nós enófilos degustar e descobrir os vinhos do nosso país que já estão dando o que falar mundo afora.

4 DICAS DA COLUNISTA

CASA VERRONE SPECIALIE SYRAH 2018 

  • Vinho paulista com colheita de inverno, carrega premiações por onde passa. Encorpado, tem aromas de mentol, caramelo, coco e frutas em compota. Na boca é equilibrado e bastante permanente, com taninos marcantes. Um vinho que está pronto para ser consumido mas que também ganhará muito com um bom tempo de guarda.
  • Quanto: R$ 128, na Seleção Terroir. (27) 98162-9011.

RIO SOL BLEND RESERVA 2015 

  • Tinto de uvas Cabernet Sauvignon, Syrah e Alicante Bouschet, todas cultivadas em Pernambuco, no Vale do São Francisco, pela vinícola Rio Sol. É um vinho delicado, com boa acidez e taninos elegantes. No nariz com muitas nota de especiarias e fruta madura. Possui 6 meses em barrica de carvalho francês e vai muito bem com grelhados e carnes vermelhas.
  • Quanto: R$ 65,50, no supermercado Carone. 

  • THERA ROSÉ 
  • Vinho de altitude da região de Santa Catarina, é produzido a 900 metros acima do nível do mar com uvas Merlot, Cabernet Franc e Syrah colhidas manualmente. Contém notas de frutas vermelhas, como pitanga e morango. Na boca mostra acidez equilibrada e certa mineralidade, o que é bem comum nos vinhos da serra catarinense. Muito versátil na hora de harmonizar, mas sugiro servir com camarões grelhados.
  • Quanto: R$ 129, na Espaço Doc. (27) 99844-6201.
  • VALE DA PEDRA GUASPARI SAUVIGNON BLANC 2019
  • Elaborado 100% com Sauvignon Blanc, é complexo no aroma e traz muita intensidade, frutas cítricas, frutas de polpa branca e um leve toque floral.  Na boca, apresenta excelente equilíbrio. Leve e fresco, vai muito bem com moqueca capixaba.
  • Quanto: R$ 125, no Empório Joaquim. (27) 99299-3717.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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