Apaixonada por vinhos, Nádia Alcalde é jornalista, sommelière e consultora. Escreve sobre o universo da bebida, antenada com lançamentos, tendências e notícias.

De Bobal a Xinomavro, 5 uvas incomuns que vale a pena conhecer

Conhecidas como autóctones, essas castas são cultivadas em regiões específicas do planeta e originam vinhos muito fiéis ao seu terroir

Publicado em 01/04/2022 às 15h12

Na hora de escolher um vinho, você costuma ousar e provar rótulos com uvas incomuns ou tem um perfil mais tradicional, daqueles que não arrisca além das clássicas Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot e etc.? Pois saiba que vale a pena sair do trivial de vez em quando, deixando-se surpreender com cepas não muito conhecidas no Brasil.

Chamadas de autóctones, essas uvas são nativas de um ecossistema específico e normalmente têm maior dificuldade para se adaptar a outros terroirs. Por isso são mais apreciadas em determinadas regiões do planeta - e isso não quer dizer que são melhores ou piores do que as castas internacionais famosas. 

Vinhedo de uvas Bobal na Espanha
Vinhedo de uvas Bobal, nativas da Espanha. Crédito: Shutterstock

DA GRÉCIA PARA O MUNDO

Um exemplo é a Xinomavro, uma uva da Grécia cujo nome é a junção das palavras gregas xyno ("ácido”) e mavro (“negra”), o que já diz muito sobre o vinho que origina. Trata-se de uma cepa tinta de coloração escura e altos níveis de acidez, o que a leva a ter um alto poder de amadurecimento e aromas complexos e frutados.

Nádia Alcalde

Sommelière

"Muitos consideram os vinhos de Xinomavro os melhores tintos da Grécia, e embora o nome cause estranheza para nós, brasileiros, asseguro que depois de provar um deles fica fácil tornar-se um fã da uva."

Minha dica é o Naoussa Xinomavro 2016, com aromas de frutas vermelhas frescas, como ameixa, cassis e notas defumadas. Na boca vem com um toque delícia de especiarias. Quanto: R$ 112, no site da Winelands.

NATIVA DA ESPANHA

Outra uva diferentona é a Bobal. Nativa da região de Valencia, na Espanha, é uma das mais plantadas naquele país, ficando atrás apenas da Tempranillo. Por muito tempo, a Bobal foi subestimada e usada apenas para cortes durante a vinificação, sempre misturada a alguma outra uva. 

Nádia Alcalde

Sommelière

"A Bobal é uma casta bem versátil, que elabora diferentes tipos de vinhos, com destaque especial para os rosés, sempre jovens e com bastante frescor."

Os tintos de Bobal são menos alcoólicos, mas bem saborosos e com boa estrutura de taninos. No site da Evino tem uma boa sugestão, o DNA Murviedro Bobal Utiel-Requena 2018. Poderoso e complexo, com aromas de frutas silvestres, bem encorpado e com taninos macios e persistentes. Surpreendente pelo preço que custa: R$ 36,90. 

TÍPICA DA ITÁLIA

Destaco também a uva Agliânico, bastante plantada no sul da Itália - a pronúncia correta do nome é "aliánico". Os vinhedos demoram para amadurecer e gostam de climas secos e quentes (tanto que existem vinhas de Agliânico na Califórnia, na Austrália, na Argentina e também no Brasil).

Seus tintos são encorpados e surpreendem no paladar, com aromas que remetem a figo e cereja. Os taninos são bem firmes e presentes, há boa acidez e um interessante potencial de envelhecimento. Recomenda-se degustar safras com mais de cinco anos para não sentir os taninos ainda agressivos na boca.

Minha dica com Agliânico é um rótulo da Argentina: Krontiras Family Selection 2017, que por 18 meses em barris de carvalho francês de primeiro e segundo uso. Seus aromas remetem a frutas escuras, especiarias doces, terra e cogumelos. 

Na boca é pesado, muito intenso, com taninos que preenchem a boca e têm grande persistência. É um vinho pronto para consumo mas que certamente melhorará ainda mais com o tempo. Em Vitória, é possível encontrar na Uvino Vinhos ((27) 3534-7398). 

PARENTE DA SYRAH

Outra uva italiana não muito conhecida é a Teroldego, da região de Trentino. Aqui no Brasil, no Vale dos Vinhedos/RS, ela vem ganhando espaço, e dizem que é uma "tia" da Syrah, por ter um certo parentesco nos cruzamentos e produzir vinhos tão escuros quanto.

Ameixa e cereja, com um pouco de especiarias, são aromas característicos da Teroldego. Minha sugestão para conhecer um pouco mais sobre a uva é o brasileiro Teroldego Origine 2020. Bem gostoso, traz aromas de frutas frescas e especiarias. 

Com estágio em barricas de carvalho francês e americano por nove meses, mostra complexidade e estrutura para acompanhar pratos como massas e carnes. À venda por R$ 99 na Empório Vino Sul ((27) 99629-2848).

ESPANHOLA FAMOSA NO CHILE

Para finalizar, cito a Carignan, uma cepa espanhola que tem grande destaque no Chile. Seu cultivo não é tão fácil e requer muito cuidado dos produtores. Mas apesar das dificuldades, é uma uva de alto rendimento, que origina vinhos muito elegantes e expressivos, com aromas não tão comuns, como fumaça e tabaco.

Um bom exemplar da Carignan é o chileno da vinícola natural Villa Lobos Carignan Silvestre 2017. O interessante é que ele é proveniente de um vinhedo que cresce de forma selvagem e livre de agrotóxicos. Os vinhos são bem rústicos e ideais para mostrar a tipicidade da uva com o mínimo de intervenção humana.

Amadurece por 24 meses em barricas velhas de carvalho francês e, além dos aromas de tabaco, apresenta também um pouco de jabuticaba e couro. Na boca, é bem encorpado, com boa acidez e taninos bem marcantes. À venda na Santiago Vinhos por R$ 169 ((27) 98178-6379). 

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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