Vinho é considerado um estilo de vida para muitas pessoas, algo que vai além de simplesmente abrir uma garrafa. Estava certo quem falou que vinho é poesia engarrafada, e é mesmo. Esses dias me peguei comentando que gostava mais do exercício da escolha do rótulo do que da degustação em si.
Com o tempo, muita gente vai percebendo que não é necessário nenhum ritual sofisticado para se beneficiar do que o vinho pode proporcionar. Qualquer hora e local sempre terão espaço para um vinhozinho. E o brasileiro, mais do que nunca, parece ter entrado nessa vibe.
Já é comum ver garrafas na praia e até mesmo nos churrascos, onde a cerveja reinava soberana. Os números do consumo continuam crescendo por aqui - em 2021, o aumento foi de mais de 30%, segundo a Ideal Consulting. Um avanço histórico no consumo da bebida.
Ao longo deste ano, os nacionais estiveram entre os preferidos do público. Quer saber o que mais ficou em alta? Listei abaixo alguns dos principais destaques em 2021 quando o assunto é consumo de vinho.
VINHOS NACIONAIS
Além do consumo de vinhos ter aumentado no Brasil, impressiona ver que 60% desse consumo foi de rótulos nacionais. Com a alta do dólar, os importados ficaram mais caros e o brasileiros mais competitivos. A qualidade também chama a atenção, pois é na taça que esses vinhos têm mostrado sua evolução. Aproveito para indicar um vinho que ilustra o porquê desse sucesso: Épico VI, da vinícola Guatambu.
O Épico VI é considerado emblemático e destaca-se entre as demais edições pois é elaborado com uvas das safras 2018, 2019 e 2020 - esta considerada a melhor de todos os tempos. É uma combinação de uvas Tannat, Cabernet Sauvignon, Tempranillo e Merlot que revela todo o potencial da Campanha Gaúcha. Muito elegante e equilibrado, tanto em aromas quanto em sabores.
UVAS HÍBRIDAS
Outro estilo de vinho que tem ganhado evidência e deve tornar-se corriqueiro é o de elaborados com uvas híbridas, vindas de cruzamentos entre viníferas e vinhas nativas, como as uvas americanas Vitis labrusca. Isso acontece devido às boas práticas de sustentabilidade que esse tipo de uva permite: uso de menos produtos químicos no cultivo e menor impacto ambiental.
A União Europeia autorizou recentemente a utilização desse tipo de uva na produção de vinhos com D.O (Denominação de Origem). No Brasil temos a uva Goethe, bastante cultivada em Santa Catarina, que tem também uma I.G (Indicação Geográfica). Aqui, indico um rótulo das montanhas capixabas: o Rosário, safra 2020, elaborado com uvas Isabel e Moscatel pela Cantina Matiello, em Santa Teresa.
É um rosé para quebrar paradigmas de que uva de mesa não origina vinho bom. A Isabel é uma variedade selvagem de Vitis labrusca, e uma cepa desconhecida de Vitis vinifera. Foi também a primeira uva a ser plantada no Brasil. O Rosário tem boa intensidade de aromas, com notas de frutas vermelhas e um leve fundo floral. Fresco, saboroso e fácil de beber, custa R$ 40 na loja da vinícola.
VINHOS SEM PASSAGEM POR MADEIRA
Outra tendência de mercado constatada em 2021 foi a preferência por vinhos sem passagem por madeira. Foi-se o tempo dos muito potentes, concentrados, alcoólicos e com forte marca de barrica de carvalho. Chegou a vez de tintos e brancos com pouca ou nenhuma passagem por barrica. Vinhos mais leves, frutados e fáceis de beber estão ganhando espaço nas adegas.
Para quem ainda não aderiu à tendência, vale lembrar que vinhos mais amadeirados podem ter em sua elaboração o uso de “chips”, ou até mesmo de pó introduzido ao líquido. Em alguns casos, o uso excessivo de madeira pode esconder defeitos. Minha dica sem madeira é o francês Les Vignes Des Fleurines Syrah, safra 2017, da região de Languedoc, para provar que até os mais tradicionais já entraram na onda.
Produzido a partir de vinhas de Syrah com cerca de 20 anos, por meio de colheita manual e com maceração curta em temperatura controlada, o vinho permanece sobre borras finas por três meses. Isso traz complexidade e mantém sua leveza e elegância.
CHAMPANHE COMO FAVORITO
Se você achava que o champanhe estava fora de moda e que os espumantes, prossecos e cavas roubaram a cena, enganou-se. Os produtores da região de Champagne comemoram um novo recorde de vendas. Em uma reviravolta frente aos problemas ocasionados pela pandemia, eles estão prestes a vender 315 milhões de garrafas em 2021.
Nádia Alcalde
Sommelière
"Além do consumo de vinhos ter aumentado no Brasil, impressiona ver que 60% desse consumo foi de rótulos nacionais. Com a alta do dólar, os importados ficaram mais caros e o brasileiros mais competitivos"
O ano excepcional se dá pelo aumento do consumo de vinho no mundo, em que muitos consumidores buscam agitação, mesmo em meio à pandemia. Fato é que a bebida é incrível e impossível de ser esquecida nas festas de fim de ano. E eu não poderia deixar de destacar um clássico, o Veuve Clicquot Brut.
Com estilo eterno, é um champanhe para ser apreciado a qualquer momento. Um vinho verdadeiramente célebre e inesquecível. Seu clássico Yellow Label é, ainda hoje, um dos mais apreciados do mundo.
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