Na coluna anterior, falei sobre a importância do Chile no mundo do vinho e o favoritismo dos rótulos chilenos entre os capixabas. São mais acessíveis financeiramente e mais fáceis de encontrar nas adegas e lojas especializadas, porque são também os mais importados no Brasil.
Mas não é só isso. Estamos falando também de um país onde a viticultura é bastante favorável por conta das excelentes condições climáticas para o cultivo da uva.
Geograficamente, o Chile é uma faixa longa e estreita localizada na parte oeste da América do Sul, que vai desde regiões muito secas, como o deserto do Atacama, até terras muito geladas, como as da Patagônia. É justamente essa variedade de microclimas encontrada em cada vale chileno a responsável pela diversidade da viticultura no país.
PROXIMIDADE COM OS PEQUENOS
É importante pensar que enquanto consumidores também estamos vivendo um novo momento. Reconhecemos o Chile como um grande produtor de vinhos do Novo Mundo, mas também buscamos conhecer os pequenos. Queremos descobrir o diferente e estar mais próximos dos produtores.
É uma tendência de consumo querer se identificar com aquilo que se compra. De alguma forma, estamos mais conectados com o que consumimos. Quanto mais história houver por trás de quem elabora cada produto, melhor, não é mesmo? E o mercado do vinho também se encaixa aí.
Nádia Alcalde
Sommelière
"É importante pensar que enquanto consumidores também estamos vivendo um novo momento. Reconhecemos o Chile como um grande produtor de vinhos do Novo Mundo, mas também buscamos conhecer os pequenos."
É normal, e parte de um processo, que os recém-chegados ao universo do vinho atenham-se aos rótulos mais disponíveis nos supermercados. Já com os enófilos, que degustam há mais tempo, a coisa é diferente. Existe um anseio por experiências inéditas e novidades. Um bom exemplo são os vinhos elaborados de forma mais artesanal, singular, distante da industrialização em larga escala.
OS NOVOS VINHOS DO CHILE
O Chile foi precursor na identificação dessa busca do consumidor por novas experiências, e a partir da união de um viticultor aqui com outro ali nasceu o MOVI, Movimento dos Vinhateiros Independentes do Chile. Trata-se de uma associação de pequenos produtores familiares com experiências variadas e muita diversidade na filosofia de fazer vinho.
Para eles, inovar, pesquisar e desenvolver o que já está estabelecido e conhecido é palavra de ordem. O grupo produz vinhos de alta qualidade, mas em pequenas quantidades, de forma independente, e com a finalidade de expressar o melhor do seu terroir.
“No começo, houve um pouco de ruído com as grandes vinícolas, mas felizmente esse momento já passou e hoje somos reconhecidos no país pela inovação e pela alta qualidade dos vinhos. Somos complementares à grande indústria”, explica Angela Mochi, uma das vinhateiras do movimento.
Para as pequenas vinícolas associadas, o vinho deve ser elaborado com a mínima interferência humana, por meio de métodos menos invasivos, sem artifícios químicos ou padronizações. Por isso, são diferentes. Alguns mais rústicos, mas todos muito autênticos. Um bom exemplo é o branco Tunquen Sauvignon Blanc, produzido por Angela em sua vinícola no Valle de Casablanca.
Nos vinhedos da Attilio & Mochi não são utilizados produtos sintéticos, como pesticidas ou herbicidas. O controle de pragas é feito por meio do uso de enxofre e a nutrição das plantas é baseada no uso de compostos.
DEGUSTAÇÃO VIRTUAL
Atualmente, 33 produtores integram o movimento. Recentemente, eles divulgaram em um encontro virtual no Brasil alguns de seus vinhos, e até a forma de apresentação foi bastante diferente da que estamos habituados. Dividiram-se em três painéis: “Clássicos reinterpretados”, “Novo Chile” e “O antigo agora é novo”.
O grupo é bastante irreverente e fica clara a paixão pelo que fazem. Se você se identificou com essa nova tendência de consumo, precisa então conhecer os vinhos do novo Chile.
O objetivo desses vinhateiros é refletir na taça a identidade do local em que foram produzidos e também a interpretação de quem faz o vinho, com histórias próprias e respeito à diversidade. Eles são personalidades que produzem bebidas com caráter e qualidade em escala humana.
Pude comprovar isso na degustação de que participei há algumas semanas. Confira abaixo alguns dos destaques e não deixe de acompanhar as novidades do movimento pelo site da Movilatienda.
3 DICAS DA COLUNISTA
- Tringario Alma Cabernet Franc
- Vinho da região do Maule com tiragem de apenas 1200 garrafas. Muito aromático, com cereja, amora, cacau e folhas secas. Bastante expressivo em boca, tem ótima acidez e taninos macios. Sedoso, delicado e profundo. Quanto: R$ 269, na Sonoma.
- OWM Handmade 2016
- Poderoso tinto do Colchágua que mistura uvas Carménère, Cabernet Sauvignon, Syrah, Petit Syrah, Tempranillo e Petit Verdot. No nariz é picante, com notas defumadas, de violeta e de amora. Em boca mostra-se suculento, frutado com taninos médios e de grande intensidade. Quanto: R$ 264 no daGirafa.
- Laura Hartwig Edición de Familia
- Frutado, com notas aromáticas bastante complexas. Um vinho que evolui o tempo todo na taça. Toques de cereja negra, amoras, chocolate amargo e cassis. Em boca apresenta ótima estrutura, com taninos finos, aveludados e macios, permitindo um final longo e persistente. Quanto: R$ 235 na VidaVino.
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