As estações do ano costumam indicar qual o momento mais adequado de tirar certos vinhos da adega. No inverno, a expectativa fica por conta dos tintos encorpados, que dependendo do frio podem até ser consumidos em temperatura ambiente. Já no verão, a preferência vai logo para os vinhos brancos e para os espumantes.
A associação do tipo de vinho com o clima sempre existirá, mas isso não quer dizer que devemos segui-la. Independentemente da estação do ano, temos nossas vontades, e ainda bem que elas mudam com o tempo. Às vezes, o desejo é diferente e pode não harmonizar com a estação.
Faça calor ou frio, sabemos que o vinho tinto ainda é o preferido dos brasileiros. É o que comprova uma pesquisa recente realizada pela Ideal Consulting, mostrando que esse estilo equivale a 85% das vendas totais da bebida no Brasil. Apesar de estarmos em um país tropical, os brancos surgem apenas com 7,2%, e os espumantes com 6,3%.
Isso me faz lembrar de uma degustação que organizei antes da pandemia, em pleno calor escaldante de dezembro, só com vinhos tintos de guarda. A orientação para a equipe que estava comigo era manter o ar-condicionado em 18ºC para a atmosfera ficar agradável e sustentar melhor as amostras que estavam por vir.
Nádia Alcalde
Sommelière
"Uma pesquisa mostrou que os tintos equivalem a 85% das vendas totais de vinhos no Brasil. Apesar de estarmos em um país tropical, os brancos surgem apenas com 7,2%, e os espumantes com 6,3%."
Quem vai degustar e avaliar o vinho deve ficar atento a algumas variáveis que influenciam na percepção, como a companhia, o lugar, o horário do dia, a disposição, entre tantos outros. Mas isso é para quem cumpre a tarefa profissionalmente ou quer levar a ocasião a sério.
É claro que existem os momentos descompromissados em que só queremos bebericar e brindar com os amigos, porém, mesmo nessas horas, se a sua opção for também um tinto, é interessante tomar alguns cuidados na escolha.
Existem vinhos tintos no mercado recomendados para serem consumidos resfriados (30 minutinhos na geladeira são suficientes), diferentemente dos tintos encorpados e mais tânicos. Todo tinto contém tanino - a substância responsável por aquela sensação de adstringência que sentimos ao degustar.
Quando um vinho é resfriado, o tanino tende a ficar mais evidente, mais áspero na boca. Por conta disso, para que a experiência do tinto seja agradável também no verão, é ideal que se procure por rótulos com taninos mais delicados e firmes. Uvas de casca mais fina, como Pinot Noir, Gamay, Merlot e Cabernet Franc, geralmente originam vinhos mais leves.
3 DICAS DA COLUNISTA
Também é interessante optar por safras mais recentes, rótulos sem passagem por madeira e com teor alcóolico mais baixo. Garimpei três tintos de verão que traduzem exatamente esse estilo, confira:
- Circus Pinot Noir 2020 - Argentina
- A Pinot Noir é uma uva de referência quando falamos em vinhos tintos mais leves. Este argentino expressa bem os típicos aromas da casta, com muita fruta vermelha, nuances de cogumelo e algumas notas defumadas. Seus taninos são leves e bem equilibrados com a boa acidez do vinho. É um varietal jovem e frutado, ótimo para os dias mais quentes e fácil de harmonizar e agradar por sua leveza. O ideal é consumi-lo a 16ºC.
- Quanto: R$ 68,90, na Grand Cru Vitória. (27) 98885-8407.
- Beaujolais Nouveau 2020 - França
- O Beaujolais Nouveau é o tinto do verão dos europeus. É lançado sempre em novembro, já pronto para ser degustado. O vinho é elaborado com a uva Gamay em um processo de vinificação que torna a bebida mais leve e frutada, ideal para ser consumida jovem e resfriada, até 12ºC, por exemplo. É uma pena que esses vinhos não sejam tão acessíveis financeiramente no Brasil como são na Europa. São também difíceis de encontrar. Rodei a Grande Vitoria e encontrei este rótulo trazido recentemente pela Vinovix. Vale a pena a experiência! Minha sugestão é harmonizá-lo com salmão.
- Quanto: R$ 199, na Vinovix. (27) 2142-8691.
- Dagaz Cinsault 2018 - Chile
- Fugindo um pouco das uvas mais tradicionais, falemos da Cinsault. Ela também está associada aos vinhos mais leves e, por conta disso, é normalmente encontrada em cortes com Grenache ou Syrah. Este rótulo foge à regra e é elaborado 100% com Cinsault cultivada em solo chileno. É um vinho com taninos macios, sem interferência de madeira e que vai muito bem com frutos do mar, como lagosta, polvo e camarão.
- Quanto: R$ 224, na Casa do Porto Vila Velha. (27) 99810-2299.
Leia as colunas anteriores e acompanhe a colunista também no Instagram.
Este vídeo pode te interessar
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.