A história do vinho fino no Brasil é recente, tanto que nem vemos nada sobre nosso país em livros sobre o tema. Se for para definir, nos encaixamos na narrativa do Novo Mundo. Parece estranho o termo, mas no mundo do vinho ele é bem comum, e existe mesmo essa divisão entre Velho Mundo e Novo Mundo.
Isso é porque se sabe que para fazer bons vinhos é preciso ter condição climática, solo e localização geográfica adequados. O tal do terroir influencia muito no produto final. A preocupação com ele é tanta que os produtores do Velho Mundo (Europa) classificam seus vinhos conforme suas denominações de origem e levam muito a sério também a tradição da coisa toda.
Estamos falando, afinal, de conceitos e práticas enológicas que foram passadas de geração para geração, ao longo do tempo, e tudo isso reflete em características de aromas e sabores desses vinhos do Velho Mundo. Parece complexo, e é, mas na taça isso se percebe fácil. E não se preocupe, porque é mesmo degustando que a gente aprende.
VINHOS FINOS NO BRASIL
Aqui no Brasil é tudo muito novo: 80% da produção ainda é de vinho de mesa, feito com uvas americanas - aquelas que também consumimos in natura. Esse nosso perfil vinícola tem uma origem histórica.
Os imigrantes europeus até trouxeram algumas mudas de uvas viníferas debaixo do braço. Essas plantas, porém, não se adaptaram bem ao solo do Brasil e morreram.
As uvas americanas, mais resistentes e adaptáveis, foram a solução para que os imigrantes seguissem produzindo e bebendo seu sagrado vinho de cada dia. A única certeza era de que sem vinho não daria para ficar, e aí até jabuticaba vinificaram.
Nádia Alcalde
Colunista
"As uvas americanas foram a solução para que os imigrantes seguissem produzindo e bebendo seu sagrado vinho de cada dia."
Temos hoje uma história linda no mundo do vinho fino nacional para contar. São muitos os rótulos de altíssima qualidade e premiados pelo mundo afora. O plantio de uvas viníferas tem sido possível graças à dedicação e ao amor dos produtores.
Tudo isso e, claro, muitos estudos, tecnologias e técnicas que tornam possível o cultivo de uvas europeias em diversos lugares do Brasil, e também em outros países considerados do Novo Mundo, como Austrália, África do Sul, Argentina, Chile e alguns mais.
VINHOS FINOS NO ES
Muitos profissionais, de diversas áreas, estão dedicados a participar dessa transformação, e os produtores do Espírito Santo estão fazendo bonito. Como revelei na última coluna, já são várias as castas europeias que encontramos plantadas por aqui. Temos vinhos incríveis de ponta a ponta - alguns que deverão ser lançados em breve e outros que já podemos provar.
Pude degustar alguns em primeira mão e relato a seguir os detalhes desses vinhos finos produzidos em solo capixaba.
Cantina Mattiello
Além dos vinhos de mesa, o produtor Eliton Stanger, de Santa Teresa, está lançando também um blend de Tannat, Sangiovese e Marselan, safra 2019, com 12 meses de passagem em barril de carvalho americano de primeiro uso.
É um vinho bastante aromático, com notas de frutas negras, tabaco, café e chocolate. Na boca tem boa acidez, taninos macios e corpo médio. Fácil de agradar e harmonizar, custa na faixa de R$ 65 – foram produzidas apenas 300 garrafas e as vendas são somente com reserva pelo (27) 99908-5282 (entrega na Grande Vitória).
Casa dos Espumantes
O produtor Sérgio Sperandio foi pioneiro ao dominar o método tradicional de vinificação para espumantes no Espírito Santo, o mesmo método utilizado para os champanhes (champenoise).
Na Casa dos Espumantes, em Santa Teresa, são produzidas por ano cerca de 10 mil garrafas, sendo 70% de espumantes comuns e 30% de espumantes finos. O Moscatel Brut é um deles. Elaborado com a casta Moscato, possui perlage fina, aroma floral, frescor e um retrogosto adocicado, característico da cepa.
O espumante elaborado com Malvasia Brut também é uma opção entre os finos, e em breve a vinícola lançará um outro espumante fino com a uva Glera, a mesma que é usada para elaborar o prosseco. Custa na faixa de R$ 35. Vendas e mais informações: (27) 99815-0273 e 99974-3773 (entrega na Grande Vitória).
Vinícola Tabocas
Talvez seja a vinícola mais conhecida do Espírito Santo e produz o Tabocas Vin de Garage, com Cabernet Sauvignon. A safra 2014, já esgotada, conquistou o selo azul e 86,8 pontos no concurso Wines of Brasil Awards 2019. O que está no mercado agora é da safra 2017, envelhecido por sete meses em barricas de jequitibá rosa.
Trata-se de um vinho de cor rubi, bastante intenso no nariz, com muita madeira, frutas negras e especiarias. É encorpado, tânico e com boa presença em boca. Vale decantar por uma hora antes de degustar. Custa na faixa de R$ 65. Vendas e mais informações: (27) 99840-7860 (entrega na Grande Vitória).
Até o final deste ano, a Tabocas lançará também um Malbec, com um perfil mais frutado e médio corpo.
Cantina Grotteschi
O Terre Gialle 2019 do produtor Levi Loretti, de Santa Teresa, é um blend de Syrah e Cabernet Sauvignon. Vinho de cor bastante intensa, é rico no nariz, apresentando frutas negras, pimentão e ervas finas.
Na boca tem taninos macios, acidez média e boa persistência. O rótulo será lançado em dezembro e as reservas já podem ser feitas diretamente com o produtor. Custa na faixa de R$ 55. Mais informações: (27) 99644-1934.
Vinícola Carrereth
Localizada em Pedra Azul, a Carrereth existe desde 2016. Seu primeiro microlote de Syrah foi feito exclusivamente para uma avaliação técnica dos vinhedos, mas a partir de 2022 já será comercializado um blend de Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah.
Também serão produzidos um rosé e varietais de cada uma dessas uvas. Seguimos acompanhando e ansiosos. Mais informações: @vinicolacarrereth.
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