As expectativas colhidas no início do ano apontavam para um crescimento médio da economia que se aproximava dos 2%. Já passados seis meses, que corresponde exatamente ao período percorrido pela nova administração do país, o que vemos é que praticamente ninguém, muito menos o mercado, ousaria projetar uma taxa de crescimento próxima de 1%. Nem mesmo a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara fez arrefecer essa tendência. Objetivamente, o país sofre do mal da falta de confiança.
Há um certo consenso formado de que chegaremos ao final do ano com a economia crescendo algo em torno de 0,5%. Praticamente a metade do observado no ano passado. Reforça essa tendência o comportamento do indicador de confiança da indústria brasileira, calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), que vem caindo pelo quarto mês consecutivo, atingindo em julho o patamar de 94,8, com queda de 0,9 ponto em relação ao mês anterior.
O curioso, mas ao mesmo tempo inusitado, é que essa tendência de queda nas expectativas, e que são concretizadas em indicadores de atividades, refletida sobretudo no PIB, acontece num momento em que observamos uma confluência de fatores que podem ser considerados como positivos.
Entre eles, taxa de inflação e juros em queda, acordo de livre comércio com a União Europeia em curso, juro básico americano também em queda, além de outros fatores e outras reformas em estágio avançado de encaminhamento e tramitação, destacando-se a reforma tributária, como de maior potencial de impacto.
A palavra “mágica” ou a chave do segredo está na confiança. Quem introduziu essa palavra mágica no campo da teoria econômica de forma mais profunda foi John Maynard Keynes, considerado um dos maiores economistas do século XX. Ele buscou na Psicologia elementos que pudessem influenciar as decisões econômicas, tanto de consumidores – decisões de consumo - quanto de empresários – decisões de produção e investimentos. Segundo Keynes, a confiança, expressa no que ele denominou de “estado de confiança”, funciona como direcionador de forças, positivas ou negativas.
Um “estado” de falta de confiança, que é o que vivemos hoje no Brasil, assemelha-se por analogia à situação de um terreno instável, movediço, ao contrário de uma situação de terra firme onde se pode pisar com uma certa margem de segurança, ou seja, com confiança.
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Numa situação dessas, o que o país precisa é quebrar o ciclo de “estado” de falta de confiança. Sem dúvida, o mais longo da sua história, e também o mais complexo em termos de confluência de fatores negativos que foram deixados como legados, importante que se afirme, especialmente nos últimos dez anos. Para isso, o país precisa contar com o protagonismo firme e bem direcionado do governo federal, e não somente da sua área econômica. Infelizmente, isso ainda não nos parece estar acontecendo.
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