Ultimamente tenho sido demandado por leitores sobre razões e motivação que têm levado bancos, mas sobretudo bancos de investimentos, a se interessarem tanto por pesquisas eleitorais. Não deixa de ser um fenômeno novo, pois não me vem à memória que algo minimamente parecido tenha ocorrido em outras eleições. Ou será que o risco eleitoral no passado não tenha vindo à tona tão fortemente quanto atualmente ao ponto de não despertar tanto interesse.
Primeiramente, temos que ter em mente que na lógica do jogo econômico, não tão pautado pela racionalidade como se imaginaria, decisões presentes são predominantemente pautadas em expectativas. E expectativas se formam e se movimentam no frenesi das interações e embates entre consensos e dissensos sobre o que ainda virá no instante seguinte e no transcorrer do tempo futuro. Nesse aspecto, as eleições deste ano entram como um elemento-chave nesse jogo de expectativas.
Esse jogo econômico assemelha-se a um jogo de apostas, na figura de uma roleta, por exemplo, porém, com um diferencial extremamente relevante que é o fato de as condições que determinam os resultados estarem sujeitos a mudanças a todo instante. Em outras palavras, enquanto no caso da roleta só há um evento a indicar o resultado, que ocorre no instante do seu acionamento, no caso do mercado, o desenrolar das apostas altera as condições que definem os resultados.
Pelo fato de lidar no dia a dia com ativos de maior liquidez, entre outras características que lhe atribuem também condições de maior sensibilidade ao que acontece nos seus respectivos contextos, o mercado financeiro se coloca sempre na necessidade estar avaliando constantemente os riscos envolvidos nas suas apostas. Afinal, este tem que dar respostas aos seus clientes, que buscam resultados, de preferência incorrendo em menor risco.
Para que servem, então, as pesquisas nesse jogo de apostas? De antemão é importante ressalvar que pesquisas apontam tendência, não precisão nos resultados. Até porque, se bem observarmos, o próprio processo eleitoral funciona como um jogo de apostas até a abertura das urnas. Podemos ter até efeito do tipo “manada” que mude as tendências levantadas agora. Há sempre quem aposte em Lula, em Bolsonaro, ou em terceiro. Para o mercado, uma maior previsibilidade em relação ao desfecho final ajuda na escolha da melhor aposta no campo econômico.
As pesquisas eleitorais, por exemplo, têm ajudado o mercado financeiro a precificar razoavelmente e antecipadamente uma possível e até o momento provável vitória tanto de Lula quanto de Bolsonaro. Ambos estão minimamente decifrados em termos de suas estratégias e posturas caso vençam. Eventual crescimento de Ciro Gomes ou Tebet pode até mexer nas apostas e na precificação, pelo menos levando a um cenário de segundo turno. Mas seria um fato novo, ainda a ser decifrado e precificado.
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