É médico, psiquiatra, psicanalista, escritor, jornalista e professor da Universidade Federal do Espírito Santo. E derradeiro torcedor do América do Rio. Escreve às terças

A pobre da Amazônia está cansada de ganhar e perder

As sopas de letrinhas das autoridades proliferando, complicando e mentindo para a torcida. Afinal é um estilo nacional. Agora estão na fase de botar a culpa um no outro

Publicado em 30/05/2023 às 00h25

Só se morre aos pedacinhos, minha senhora, não invente moda. E nem precisa ser artista ou importante. Ou deixar de ser, porque se for merecedor cada pedacinho vai de qualquer maneira espalhar-se pelo desconhecido ou contrair-se em força íntima sem qualquer vestígio de nada. Já deve ter notado que faço propositadamente uma confusão entre a realidade e o imaginário.

Os amigos de verdade estão sempre perambulando pelo futuro e pelo passado. O presente não existe.

Tenho reparado que as mesmas comidas e cheiros adquiriram autonomia, de modo que não se pode escolher as frutas e as carnes e mais nada. O nada, taí o nada. Esse fica para sempre. E o que é o sempre diante do nada, e vice-versa.

Então, mudando de conversa.

Outro dia, diante da Sheila´s, encontrei o Marcelo Rossoni, irmão da Marilda, minha querida colega de colégio que me mantinha acordado para estudar, íamos fazer o vestibular. Ela era um gênio.

Marcelo se transforma e o humor dele é vigoroso. Está sempre vivo e leva minha lembrança e apaga o esquecimento para sua querida irmã. Ali nas mesinhas, conforme vinham os issos do passado, íamos descascando os abacaxis, uns doces, uns salgados, sei lá eu. Foi bom.

Estava lá o Clovis Vieira que não deixa vazio o nada. Um papo perfeito. Foi bom. Na conversa, disse que recuso-me a conceder crédito aos trilhões de vírus da Covid. Esses emissários do capeta tomaram o universo. Sigamos os mandamentos para aliviar. A grande questão filosófica do milênio: crer ou não crer.

Já que a cultura e a discussão literária não fazem volume, dedico-me a inspecionar o botão do décimo andar do Centro da Praia, com o qual tenho certa intimidade. O décimo andar continua com o botão que do elevador quebrado. Como estava há vinte dias.

Matéria de turismo na Amazônia feita por Elis Carvalho
Floresta Amazônica. Crédito: Elis Carvalho

Mudando de assunto, falamos as “enérgicas atitutes governamentais” para evitar que a Amazônia suma de todos os mapas, o que já vem acontecendo já faz tempão. Deu no que deu, dá no que dá.

De cara o investimento na salvação da Amazônia parecia que ia ocorrer. Não passa nem um mês e tudo vai abaixo: o velho descaso com cobertura de conversa fiada. A pobre da floresta está cansada de ganhar e perder. As sopas de letrinhas das autoridades proliferando, complicando e mentindo para a torcida. Afinal é um estilo nacional. Agora estão na fase de botar a culpa um no outro. De repente ela se chateia e vai embora.

Então.

Tomamos um cafezinho e nada mais.

Dorian Gray, meu cão vira-lata, diz não compreender minhas milongas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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