Os italianos estão no bolso! Aliás, estão é na panela de barro. Isso porque um capixaba, que após largar tudo no Brasil para ir morar na Itália e, à época, chegar a trabalhar como ajudante de pedreiro em Milão, se tornou referência em rodízio de churrasco e moqueca por toda a região da Lombardia. O estabelecimento que serve as iguarias da gastronomia brasileira chegou, inclusive, a ser eleito por site de viagens e hospedagens o melhor da capital mundial da moda.
Enquanto morava no Espírito Santo, até 2000, Welington Freitas Ribeiro, de 53 anos, era dono de um bar na Vila Rubim, em Vitória. Entre um trabalho extra e outro, um colega apresentou as oportunidades que, na ocasião, haviam na Itália e as possibilidades de emprego acabaram atraindo o capixaba. “As coisas não estavam muito bem e o Brasil estava naquela crise de sempre. Cheguei em uma sexta aqui (em Milão) e na segunda-feira seguinte eu já estava trabalhando como ajudante de pedreiro”, lembra.
Depois de algo em torno de cinco meses, o empresário, além de trabalhar nas obras durante o dia, passou a atender como garçom em um restaurante. E em pouco tempo realizou que era na gastronomia que ele queria investir. “Desde que cheguei, até antes de vir, tinha o sonho de abrir algo próprio para trabalhar com a família. Só depois de um ano minha esposa e filhos vieram. Quando eles chegaram, então, essa vontade só aumentou”, fala.
Enquanto fazia os trabalhos de garçom, sabendo que a culinária brasileira faz sucesso na Europa, Welington começou a arrendar restaurantes para realizar festas de adesão à noite com esse tema: comida do Brasil. Os encontros periódicos acabaram caindo na graça dos moradores da Lombardia: “Acho que não teve uma vez que eu não tenha vendido todos os convites. Fazíamos apresentações, o bufê era completo... Todos adoravam”.
Na crise mundial de 2008, Welington acabou vendo uma oportunidade: a de empreender. No episódio, ele já morava em Milão (na mesma casa em que vive atualmente), em um prédio pequeno com uma sobreloja – em que funcionava um restaurante. Na quebradeira, o estabelecimento acabou fechando e o proprietário do imóvel (que sabia dos dotes gastronômicos do inquilino), algum tempo depois, incentivou o capixaba a dar a cara à coragem e abrir seu sonhado restaurante brasileiro.
“Lembro que a gente negociou como dava. Eu expliquei que precisaria de um tempo para reformar o local sem pagar aluguel, por exemplo... Apesar de ter funcionado como restaurante, o lugar estava fechado há muito tempo, muito abandonado, com algumas avarias... E aos poucos fomos trabalhando lá. Trabalhava normalmente, para garantir o sustento, e, com a ajuda da família, ia ajeitando o espaço”, diz.
Eis que, em 2010, ele inaugurou o restaurante que comanda até hoje. “No início, como todo começo, foi difícil. Mas persistimos. Meus filhos em um determinado momento chegaram até a desanimar um pouco, mas conquistamos uma clientela nível A e muito fiel. Os italianos amam”, confidencia.
Welington Freitas Ribeiro
Empresário
"O rodízio de churrasco, que é carro-chefe da casa, e moqueca capixaba são os dois dos pratos que os europeus mais gostam "
Por lá, o visitante tem que desembolsar algo em torno de 30 euros (R$ 190) para se servir do rodízio de carnes. A média de um jantar (Welington raramente abre no almoço) por pessoa no restaurante, atualmente, é de 50 euros (R$ 317).
Mas o local, por enquanto, teve que ser fechado pela pandemia da Covid-19. Na Itália, os moradores já sofrem com os efeitos de uma segunda onda agressiva, que forçou os níveis da Lombardia (região que abarca Milão e outras cidades) chegarem a alertas vermelhos. “O restaurante fechou 8 de março. Depois houve um período de liberação e agora, 26 de outubro, fechou tudo novamente. Estamos no nível amarelo, com expectativa de chegar ao vermelho nesta semana”, lamenta.
Anualmente, ele e a esposa, Claudete Maria de Souza, com quem é casado há 28 anos, visitam o Espírito Santo com os filhos e chegaram a ter problemas na viagem de 2020. “Minha esposa é baiana, mas se considera capixaba, porque a família toda dela mora no Estado há muito tempo. Nós fomos para Vitória em janeiro de 2020 e ficamos presos para voltar. Sorte que desta vez nossos filhos não viajaram com a gente e tocaram os negócios como puderam”, relata.
Para 2021, Welington acredita em recuperação e, talvez, até uma visita ao Espírito Santo para não quebrar a tradição: “Mas temos que esperar a vacina, não é? E precisamos de segurança tanto aqui quanto aí (no Brasil). Mas, se Deus quiser, tudo já vai se ajeitando a partir de agora”.
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