Quando deixou o Espírito Santo, há mais ou menos três anos e meio e com uma dívida que chegava à casa do R$ 1 milhão, Priscila Santos não tinha ideia de que o Rio de Janeiro lhe abriria verdadeiras portas. Hoje com aproximadamente 90 funcionários, faturamento de R$ 9 milhões por ano e uma mansão em condomínio de luxo da Barra da Tijuca, onde mora com os dois filhos, ela virou a rainha dos reboques do Sudeste, região em que sua empresa é líder no segmento. Em meses de alta, ela chega a realizar mil reboques por dia.
“Tenho dificuldade na vida profissional por ser mulher, por ser negra, ouvi que eu tinha vindo para o Rio de jegue do Espírito Santo... E eu falei: ‘Olha, podem me perseguir. Minha carteira é categoria D. Se precisar, eu entro no reboque e eu mesma dirijo. Vocês não vão me derrubar dessa forma”, conta a empresária de 36 anos de idade.
Antes de enfrentar todos esses obstáculos na Cidade Maravilhosa, a capixaba já tinha passado por poucas e boas no Espírito Santo. Natural de Timbuí (Fundão), Priscila se mudou pela primeira vez pouco antes de completar a maioridade para Ibiraçu por causa do pai, que tinha Alzheimer e precisava morar em um local com mais estrutura médica. Depois, se casou e seguiu com a vida a dois em Guarapari, onde empreendeu pela primeira vez. Mas quando o casamento acabou, grande parte de tudo o que a empresária havia conquistado também foi abaixo com o divórcio conturbado.
“Os fornecedores não queriam mais fechar comigo. Meu ex-marido quis acabar com a minha imagem, fechou muitas portas mesmo. Não tinha dinheiro para comprar comida, cheguei a receber ordem de despejo, ele havia tirado todo o dinheiro das nossas contas. Entrei na Justiça e nem a juíza, uma mulher, quis me receber para me ouvir, deu causa ganha a ele. Eu sozinha, com duas crianças pequenas, sem pensão, sem dinheiro... Só depois um desembargador foi favorável a mim e aí consegui voltar para a empresa, mas com tudo travado”, lembra ela, que quando se separou se mudou para Jardim Camburi, em Vitória.
Quando retomou os negócios, Priscila ficou com a parte dos reboques na empresa e o ex-marido, com os negócios iniciais – uma distribuidora. “Ninguém gostava muito da parte do reboque e eu sempre gostei. Depois precisei trabalhar com o ramo de residencial com seguradoras para me manter, mas sempre foquei na retomada dos reboques”, confidencia.
CPI DA MÁFIA DOS GUINCHOS
O que impossibilitou esse investimento foi a dívida de cerca de R$ 1 milhão que a empresa herdou, após a separação com o ex-marido e a polêmica em que ela se envolveu com empresários da mesma categoria no Estado. Priscila, que paga ações trabalhistas até hoje, chegou a ser convocada para depor na CPI das Máfias dos Guinchos, na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), em 2018.
Na ocasião, Priscila queria denunciar a rede de cartéis e de manipulação em concorrências públicas que ela afirma existir no Espírito Santo no ramo, “mas sem generalizar”, como ela mesma frisa.
“Achei que a CPI foi positiva, porque eu tive oportunidade de me expressar. É como se na época eu fosse colocada como bandida. Pode até ter (bandido), mas nem todo mundo é! Então tive oportunidade de a minha voz ser ouvida. E dizer: ‘Se eu fosse bandida, não estava aqui com R$ 1 milhão de dívida e inabilitada na última concorrência, como me inabilitaram. Teria feito acordos errados como outros empresários faziam”, relata.
A RAINHA DOS REBOQUES
Recentemente, depois de fazer sua empresa, a Rebocar, ser líder no segmento em todo o estado do Rio de Janeiro, ela venceu uma licitação no Espírito Santo, onde tem pátios em Vila Velha e Cachoeiro de Itapemirim.
“Hoje meu sistema da empresa foi todo feito por mim, tem transparência 100% e é o que faz todos confiarem em mim. Não é mais a máfia dos reboques. Não é mais assim. Sou a maior empresária de reboques do Sudeste, a maior empresa do estado do Rio, atuo em todo o estado. Atendo Polícia Militar, Detran, Lei Seca, Barreira Fiscal... É uma abrangência muito grande”, resume.
Priscila Santos
Empresária
"Continuo firme. Sem aceitar ameaças de lado nenhum. Acredito no propósito de Deus para cada um e sei que não cheguei até aqui em vão "
Priscila, que é mãe de Brenda, de 17 anos, e Bernardo, de 14, também celebra as conquistas valorizando o amor dos filhos. “Eu me permiti ser mãe, então hoje dou tudo de mim para eles. Cobro a presença do pai para que os filhos o vejam presente. Não precisa ajudar com dinheiro, mas precisa ajudar com uma palavra”, defende.
Para 2022, ela quer expandir de 40 a 45% a exploração que já faz hoje. Quer ir para outras regiões do País e aumentar ainda mais o faturamento, que nos últimos 12 meses chegou à marca dos R$ 9 milhões. “Por dia, já cheguei a fazer mil reboques. Temos quase 90 funcionários registrados, todos contratados e 80 reboques entre próprios e terceirizados”, enumera.
E finaliza: “Tenho projeto hoje para ver a possibilidade de agregar meu negócio a outros serviços do ramo. Expandir o atendimento, expandir o atendimento à mecânica dos carros... Minha ideia não é só ficar no reboque. É crescer também com as seguradoras residenciais, agregando serviços e melhorando sempre”.
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