Quando meu primeiro filho nasceu, uma amiga, que tinha tido filho recentemente, me contou que o marido dormia no colchão no chão para ela dormir com a filha. Me lembro de achar isso um absurdo e gritar para os sete ventos que isso jamais aconteceria na minha casa. Claro, o casal precisa de seu espaço, o bebê não pode ficar no caminho do casamento, certo? Errado.
Nanda Perim
psicóloga
"O bebê sempre será o caminho, a encruzilhada, parte importante a ser focada e também uma enorme prova de bala para casamentos. Quem um dia teve a ideia de ter filho para segurar casamento não entendia nada de gravidez, bebê e nem de casamento. Nada afasta mais um casal do que a chegada de um filho, e nada une mais um casal do que superar isso."
É um recomeço constante depois que a criança chega. Isso porque aprendemos novos papéis, nos reinventamos e, devagar, nos tornamos outras pessoas completamente diferentes. Aprendemos coisas novas, esquecemos velhas e priorizamos outras. E é interessante saber que priorizar a criança ao invés do casamento é o mais saudável e mais esperado, porque não dá para focar nos dois ao mesmo tempo, e a criança é a mais vulnerável, a que mais precisa de você.
Esse é o momento que descobrimos que são, sim, dois adultos, e que a criança precisa ser o foco de ambos. Claro que se apoiar e se cuidar é também parte de cuidar da criança. Mas é importante focar no fato de que o casamento vai, antes de melhorar, ficar ruim. É um processo lógico porque estamos nos reinventando e o casamento também precisará ser reinventado. Precisamos nos apaixonar de novo, e o pai e a mãe que estão nascendo ditará isso também.
Nanda Perim
psicólogo
"Não tem nada mais apaixonante do que ver seu parceiro ou sua parceira sendo o pai ou a mãe que você sempre quis que seu filho tivesse. E não há nada mais broxante do que assistir essa pessoa ser uma decepção na vida da sua criança."
O casamento pós-filhos é uma nova jornada que anda, em paralelo, com a descoberta da maternidade e da paternidade. Aliás, em paralelo não, faz parte. É tudo uma gigantesca transformação, quer você esteja preparado para ela ou não.
Dizer que a criança dormir com a mãe atrapalha o casamento é uma falácia enorme. Não depende dessa hora específica o futuro do casamento, mas de todo o resto do dia também.
Recebo diariamente mães extremamente insatisfeitas com o pai que seu marido se tornou. Muitas reclamam que eles são mais um filho na casa. E ai, como se manter casada com um filho a mais? Complicado. Elas dizem que não têm vontade de transar e dizem também que para conseguir uma ‘ajuda’ dentro de casa tem quase que implorar.
Você consegue perceber a relação direta que ambas situações têm? Ela não só não está encantada por ele, como também por causa dele está sobrecarregada e cansada. E ambos deixam qualquer um sem tesão nenhum.
E tem outro detalhe importante de mencionar: pai não ‘ajuda’, né, pai CRIA. Então, pra mim, faz sentido essa mulher não estar com desejo sexuais quando o homem mais parece uma criança na sua rotina.
E eu digo: o que faz a coisa fluir é sentir que ali tem uma parceria. Se te falta parceria, se não formam uma equipe da educação da criança, então é provável que tudo vá mesmo desandar. Todo o casamento perde sua lógica.
Porque para ser um casal saudável precisam dois adultos na relação, duas pessoas unidas com um mesmo objetivo, ambos em ação, focados e sentindo que se apoiam na jornada. Se estiver cada um numa página a coisa fica bem mais fácil de desandar. Se a mãe está sobrecarregada e o pai querendo ser servido, é muito complicado de funcionar.
Minha dica é ter uma conversa franca, sentar, bater um papo e realmente deixar claro o que cada um faz questão ou não.
É imprescindível que ambos consigam valorizar todos os pontos importantes que ambos trouxeram para a conversa.
Porque pro casamento existir precisa existir a parceria, e comunicação é o pré requisito básico para essa construção. Precisa existir respeito, amor, companheirismo. Precisa existir aceitação e compreensão de todos os lados do que é necessário, e quais limites não se pode ultrapassar.
E somente quando essa conversa fluir, o combinado existir e as ações começarem a ser tomadas para retomar esse casamento, é que o amor poderá fluir.
Não há nada mais afrodisíaco para um casal do que sentir, no dia a dia, a parceria.
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