Muitos pais e mães têm me procurado durante esse período de isolamento social dizendo que seus pequenos estão apresentando regressões ou criando novos hábitos, como roer unhas e chupar dedos. Muitos dizem que seus pequenos passaram a fazer xixi na cama, voltaram com as fralda, ou até mesmo que estão mais infantilizados, falando com voz de bebê ou pedindo ajuda para comer.
E o importante, primeiro de tudo, é sabermos que, apesar dessas regressões no dia a dia por vezes serem vistas como algo ruim, não há nada mais natural do que uma criança ter regressões. Seja ao longo do dia, seja em épocas difíceis da vida como essa em que estamos vivendo, onde crianças estão há meses trancadas em casa sem escola nem a visita dos avós, as regressões são grandes aliados da autorregulação das crianças.
Isso se dá porque, quando inseguro, o corpo tende a buscar voltar para um ‘lugar’ de conforto e segurança. E esse ‘lugar’ pode ser um estágio ou época da vida, ou comportamentos que trazem segurança ou auto-regulatórios. Pode ser também certa fixação oral, por exemplo, para dar vazão à ansiedades, medos, tédio e solidão.
Ou seja, para se sentir segura, a criança volta ou intensifica comportamentos como chupar o dedo, roer unhas. Volta com fraldas ou com despertares noturnos, quer ser neném, fala com voz mais infantilizada, pede ajuda para comer, pede mais colo, chora com mais frequência, pedindo dependência e presença, e nada disso é consciente ou intencional.
São sintomas, na verdade. Comportamentos que têm uma grande necessidade por trás, a qual precisamos identificar, analisar, entender e buscar suprir dentro de nossas possibilidades.
Muitas vezes, o que essa criança mais precisa é de se sentir segura, acolhida, atendida. Se sentir vista, ouvida, cuidada. Ou ela precise estar nesse lugar e fazer essas coisas para se regular. Ou seja, algumas vezes só o tempo mesmo que vai ajudar.
O que te sugiro fazer é buscar entender o que essa regressão pode significar em termos de medos, ansiedades e necessidades, para suprir o que estiver ao seu alcance. Fora isso, legitime esse espaço da criança e a permita estar lá. Não reprima, não brigue, não racionalize, não cobre dela que já é mais velha.
Deixe-a viver isso plenamente, se regular e, enquanto isso, supra as necessidades e demandas que identificar. É isso. Crianças regridem quando estão precisando ser 'mais bebê' para dar conta da sua realidade. Vivendo isso plenamente, devagar, elas vão evoluir para novos interesses, superando essa etapa, sem pendências. Se ficamos cobrando, criticando, exigindo que hajam diferente disso, podemos reprimir e abrir espaço para uma questão não resolvida.
Não se cobre muito, nem cobre da criança. Não dê muita atenção à isso, para não virar comunicação, nem ser a forma de pedir atenção. Nem ignore, mostre que está sendo visto, reconhecido, legitimado e que você tem feito o que é possível.
Permita que a criança viva isso para ser suprida no que for preciso.
"Nosso instinto é de cuidar dos bebês. E, portanto, me parece que o instinto da criança é agir como um bebê quando precisa de ser cuidada." J. Milburn
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.