Estes dias, a coluna É o bicho recebeu um e-mail de Paulo Renato de Carvalho com uma dúvida. Ele escreveu: “Estava lendo uma reportagem no meu celular onde você escreve sobre os gatos. Tenho várias dúvidas e gostaria se possível tirá-las. Eu já tive quando pequeno um gato angorá, o meu saudoso Romão. Agora, tenho uma neta de um ano e seis meses e estava pensando em adquirir um gato para me fazer companhia, porque moro só, mas minha neta vem aqui nos finais de semana e passa algumas horas. Eu tenho medo do felino atacá-la. Aí vai a maior dúvida: eu procuro por fêmea ou macho, com quanto tempo de vida, e como posso fazer para que isso não aconteça?”.
Para responder a essa pergunta conversamos com a médica veterinária Erica Baffa da Silva, especializada em medicina felina. Segundo ela, as crianças são, naturalmente, atraídas pelos gatos e gostam de aproximar-se e abraçá-los e isso faz parte da interação e da socialização.
“Claro que em alguma circunstância os pequenos podem assustar os gatos e ele reagir de uma forma inadequada. Mas por outro lado, os felinos são muito versáteis e capazes de pular de um lugar para o outro rapidamente, saindo do caminho das crianças, por isso representam menos ameaça, podendo ser uma escolha mais adequada que um cão”, garante.
Segundo ela, antes de levar ou não um gato para dentro de casa, é importante conhecer o comportamento dos felinos para entender essa convivência entre humanos e felinos. “Gatos possuem sentidos aguçados e muitas características intrínsecas de seus ancestrais. Sempre que olhamos para um gato, temos que lembrar de seus ‘primos mais velhos’, como os leões, os guepardos, as onças. São todos felinos e os comportamentos naturais como caçar, espreguiçar, arranhar, escalar, esconder-se, ingerir água fresca, comer gramíneas, urinar e defecar na areia são normais”, explica.
Ela ressalta, ainda, que a aproximação dos felinos com os humanos é muito recente quando comparada ao cão. “Os gatos conseguem se adaptar perfeitamente às nossas casas, mas para que isso ocorra da melhor forma possível devemos criar um ambiente equilibrado e adequado. Só para ter uma ideia, eles ouvem quatro vezes mais que nós e sentem até dez vezes mais cheiros que os humanos, o tato é muito sensível e sempre estão atentos a tudo ao seu redor. E nessa convivência, todas essas características devem ser respeitadas”, ensina.
Além disso, no ambiente natural, Erica lembra que os gatos são predadores, mas também são presas. “Eles podem ser caçados por outros animais como lobos e aves de rapina. Isso justifica a característica de medo de um felino quando se sente acuado e ameaçado por um humano, por exemplo”.
Para entender melhor, Erica explica que os gatos não têm características de ataque. “Por isso, quando falamos dos felinos precisamos remeter ao natural. Na natureza, eles preferem fugir de qualquer tipo de conflito, porque eles não podem se machucar, pois quando isso acontece não são capazes de caçar e não sobrevivem no meio ambiente natural deles. E isso a gente também remete para dentro de nossas casas, o gato não quer atacar, ele só vai fazer isso em uma situação de medo, ameaça, dor ou diante um movimento brusco sem querer da criança, fora isso esse ataque é raríssimo de ocorrer”, conclui.
Erica, conta que antes de seu filho, João Eduardo, nascer, ela deixava alguns pertences dele com os seus gatos, paninhos de boca e mantinhas, por exemplo, para que Diego e Pretinha fossem adquirindo uma memória olfatória. Permitia, ainda, que eles tivessem acesso ao berço, ao ninho, ao quartinho e promovia uma aproximação dos bichanos com a sua barriga, para que pudessem sentir a vinda de João Eduardo.
“Quando João Eduardo nasceu a aproximação e aceitação foi imediata. Meus gatos convivem muito bem com meu filho, que aprendeu a amá-los e respeitá-los, inclusive os seus limites. Quando existe uma brincadeira mais desafiadora, em que meu filho aperta com mais força, o Diego costuma dar umas ‘patadinhas’ sem expor as unhas e João Eduardo, hoje com um ano e seis meses, já parece ser capaz de entender o recado. A brincadeira para por ali.
Erica explica, ainda, que em meio à pandemia, período em que ficaram restritos aos contatos externos, o convívio do filho com os gatos colaborou muito para o seu desenvolvimento, a sua interatividade e a sua sociabilidade. “João Eduardo é uma criança saudável, aprendeu a criar laços de afeto nessa convivência diária, não desenvolveu alergias e tem os gatos como amigos. Eles brincam e se divertem muito”. Confira 10 dicas para melhorar a convivência entre crianças e gatos e os benefícios que ela pode trazer aos pequenos.
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01
São fofos
Os gatos são fofos e, naturalmente, as crianças podem querer ficar atrás deles o tempo todo. Uma boa dica para que os felinos tenham pontos de escapes contra essas investidas inocentes, é criar caminhos para que eles possam acessar, por exemplo, prateleiras instaladas no alto das paredes, mas sem esquecer as rotas de fuga para que não se sintam encurralados. Também é possível colocar algumas tocas onde possam esconder-se.
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02
Aprender a lidar cedo
É importante ensinar as crianças desde cedo a lidar e tratar os gatos corretamente, intervindo quando necessário para evitar mordidas e arranhões em situações que possam ser mais desafiadoras. Ensinar a acariciar e não apertar. Outra dica, é permitir que a criança alimente o animal ou ofereça um petisco sob a sua supervisão incentivando uma convivência amistosa. Esse movimento é conhecido como estímulo positivo.
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03
Explicações
Faça a criança entender que gatos não são cães pequenos e que os cuidados e as necessidades deles são bem diferentes. Mudanças repentinas de ambiente ou de móveis, o uso de perfumes ambientais que possam remover as características olfatórias dos gatos, usar a força para contê-los, puxar os pelos e bigodes, borrifar água e permitir a entrada de novos animais em casa, tudo isso pode gerar estresse e, consequentemente, corroborar para um comportamento inadequado do felino. Portanto, garantir a segurança, reduzir o estresse e a vulnerabilidade diante de situações desafiadoras é essencial para um bom convívio.
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04
Prepare a casa
Prepare sua casa para receber o gato. O local deve ser enriquecido e remeter ao ambiente natural de um felino, assim ele conseguirá sentir-se seguro em situações desafiadoras ou de vulnerabilidade. Isso é fundamental. Além de criar caminhos e disponibilizar esconderijos, espalhe arranhadores adequados pela casa de materiais como sisal, papelão ou tapetes horizontais e verticais (eles vão ajudar no controle da unha e na demarcação territorial), coloque fontes com água corrente fresca e limpa, caixas de areia, jardim olfatório e gramas comestíveis, alimentos úmidos como sachês, ração de boa qualidade. E lembre-se, brincadeiras de caça garantem qualidade de vida e gatinhos mais felizes.
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05
Aprendizados
Ter um gato desperta na criança o sentido da compreensão, da responsabilidade e do respeito diante a uma espécie com particularidades tão peculiares. Crianças que convivem com gatos aprendem a “amar sem possuir” (quem nunca percebeu que o gato procura o humano quando ele se sente confiante?). Ganhar confiança, aproximar-se com carinho e tocar com delicadeza torna-se um exercício diário.
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06
Estímulo
Crianças que convivem com gatos são mais estimuladas a desenvolverem diferentes atividades e é um ponto muito importante na tutoria responsável. Cuidar, proteger e saber se aproximar. Um estudo de 2009, realizado na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, analisou a saúde de tutores de gatos e comprovou que os felinos ajudam a diminuir nossos níveis de estresse. Por isso, crianças dormem melhor quando têm gatos em casa.
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07
Imunidade
- Estudos também demonstram que crianças abaixo de um ano, quando expostas aos felinos, adquirem mais imunidade. Esse dado não se aplica somente à alergia a gatos. Mostram que os bebês que convivem com bichanos ganham resistência contra alérgenos distintos como poeira, pólen, perfumes e outros elementos.
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08
É importante castrá-los
Não importa se a escolha é por um gato macho ou fêmea. O mais importante é castrá-los, pois isso traz mais qualidade de vida aos felinos e ainda evita alergias em pessoas mais sensíveis. E o mais importante, contribui para um comportamento menos ansioso e mais amistoso, favorecendo ainda mais o convívio com as crianças.
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09
Sem preconceito
Ter gatos em casa não significa que as crianças terão toxoplasmose, isso é um preconceito por pura falta de informação. Nos felinos, esse protozoário se aloja no intestino e os “ovinhos” são eliminados apenas uma vez na vida e para que eles sejam infectantes é preciso que as fezes fiquem expostas no ambiente por mais de 48 horas. E tem mais, só 1% dos gatos transmitem a doença. Mas caso isso ocorra, basta remover as fezes deles todos os dias usando luvas e lavando bem as mãos. Pegar toxoplasmose de gatos só é possível de ocorrer se a gente ingerir, literalmente, as fezes contaminadas. Enfim, é muito mais fácil pegar a doença através de legumes e frutas mal lavadas.
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10
Escolha individual
A decisão da escolha quanto a adultos ou filhotes é muito individual. Gatos adultos podem se adaptar tranquilamente ao ambiente. E a vantagem é que quando os adotamos já temos uma noção do comportamento. Os filhotes são brincalhões e divertidos e suas características comportamentais são adquiridas com o convívio, embora possam também ter comportamentos que se assemelham aos pais. Isso tudo será uma descoberta futura.
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