Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Diário de Chloé: a força que vem de casa

Conheça a história de Maria da Glória, mulher negra veterinária e muito forte

Publicado em 13/06/2020 às 08h00
Atualizado em 13/06/2020 às 12h36
Maria da Glória, médica veterinária.
Maria da Glória, médica veterinária. Crédito: Arquivo pessoal

Meu querido diário... A edição de hoje é um movimento da revista.ag contra o racismo. Aqui em casa minhas “mães” são totalmente desprovidas de qualquer tipo de preconceito. Aliás, discriminação racial é uma das coisas mais horríveis do mundo, mas, infelizmente, ainda faz parte da nossa sociedade, em pleno século XXI.

Daí pensei, já que a edição vai ser totalmente voltada ao tema, vou pedir para minha “mãe” Rachel entrevistar uma veterinária negra para ela contar a sua história. Afinal, é uma profissão tão bonita... São os veterinários que cuidam da gente, com todo o amor que precisamos quando ficamos doentes.

É claro que pouco importa a cor do profissional que vai nos atender. Importa, apenas, se é um bom profissional e uma pessoa de bem. Não consigo entender pessoas que ao descobrirem que serão atendidas por um profissional negro, simplesmente desmarcam a consulta.

Sinceramente, essas pessoas devem ser muito infelizes... E muitas vezes o racismo é velado, a pessoa tenta a todo custo camuflá-lo, mas está ali nos seus gestos, nos seus comentários, nas suas piadas sem graça. Minhas mães sempre comentam que conversar com as crianças desde cedo a respeito do quanto é feio o preconceito, em todos os aspectos, é muito importante. Lembre-se, o racismo é estrutural. Os pequenos precisam entender a diversidade desde muito cedo, e o exemplo precisa partir de dentro de casa.

A força que vem de casa

“Uma pessoa preconceituosa não pode ser feliz. Para mim, ela já é preconceituosa com si própria, e precisa passar essa sua insatisfação para os outros. Isso é muito triste”.

É assim que pensa a médica veterinária e presidente da Associação dos Amigos dos Animais (ADADA), Maria da Glória Alves, negra, 60 anos, com mais de 32 anos de profissão, em Jacaraípe, na Serra.

Mas Maria da Glória faz questão de ressaltar que quando adulta não se lembra de ter sofrido qualquer preconceito. “A não ser quando era criança no colégio de irmãs”, ressalta. Ela explica que sua mãe é negra e o pai italiano, então os filhos cada um nasceu de uma cor. “Minha mãe não deixava, em hipótese nenhuma, que houvesse qualquer diferença entre nós. Ela criou filhos fortes e sempre dizia que só através do estudo poderíamos alcançar tudo o que desejássemos”.

Quando ela foi estudar medicina veterinária na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), era uma das poucas negras, não da turma, mas da instituição. “Eu sempre fui de me impor, aprendi isso desde cedo com minha mãe, deixava claro para todos que o importante é o caráter da pessoa, não a cor ou a condição social. Nunca deixei ninguém, jamais, me menosprezar. Talvez essa força, incutida em mim desde nova, seja o meu grande alicerce na vida”.

Quando voltou de Minas Gerais para colocar sua clínica veterinária em Jacaraípe, pensou que talvez fosse até enfrentar alguns obstáculos. “Imagine uma mulher negra, graduada, solteira, com tamanha ousadia? Mas, daí, volto à minha mãe que criou mulheres fortes, afirmando sempre que todos são iguais, não importa a cor. Isso é muito importante”.

Depois, Maria da Glória, se casou com um homem branco e cubano. “Daí as pessoas me perguntavam o que eu tinha visto em um homem branco e cubano, e eu, como sou muito brincalhona, dizia: “apenas um homem maravilhoso por quem me apaixonei à primeira vista. O preconceito, enfim, está na cabeça das pessoas, na minha visão é impossível que uma pessoa assim consiga alcançar a felicidade plena com essa limitação horrível”.

Eu, Chloé, sonho todos os dias com um mundo melhor, onde todos sejam tratados da mesma maneira, com todo o respeito que qualquer ser humano merece, não importando a raça ou a condição social.

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