Você sabia que muitos motivos podem estimular um comportamento agressivo nos animais de estimação? E que às vezes até uma brincadeira que realizamos com nossos “filhos de quatro patas”, que achamos ser inofensiva, pode ser um disparador para essa agressividade?
O médico-veterinário comportamental Paulo Deslandes explica que apesar da genética ter papel na formação do temperamento dos animais de estimação, felizmente, ela não faz esse trabalho sozinha. Fatores ambientais, que incluem a aprendizagem desde a tenra idade, fazem parte da formação do pet.
“Nenhuma raça é condenada a ter um estigma comportamental definitivo, mesmo que carregue em sua genética uma propensão para tal comportamento. Infelizmente, no ‘mundo pet’, de maneira generalizada, as pessoas acabam classificando cães e gatos erroneamente em certos comportamentos sempre atrelados a alguma raça, como se o animal nascesse com seu caráter pronto”, explica Paulo Deslandes.
A médica-veterinária, que atua na clínica geral integrativa com ênfase em psiquiatria veterinária e terapia comportamental, Letícia Barcellos da Costa, ressalta que hoje já se sabe que o fato causador do comportamento agressivo de um cão ou gato está ligado, principalmente, à linhagem, ao meio em que vive e à criação que recebe.
“Um animal cujos pais são agressivos, têm tendência a ser agressivo, independente da sua raça. A mãe durante a gestação passa para os filhotes os efeitos da química dos sentimentos, ou seja, se ela em boa parte do tempo vivenciar situações de estresse e agressividade, vai passar para os filhotes e isso pode modificar o seu comportamento futuro, principalmente se não for realizada uma educação adequada”, garante Letícia da Costa.
Fatores ambientais
Paulo Deslandes acredita que o mais importante para a formação do temperamento de um animal são os fatores ambientais. Segundo ele, a genética envolvida na formação, tanto na linhagem, quanto nas raças, pode ser de certa forma “driblada”, principalmente durante a infância dos cães e gatos, período médio correspondente a mais ou menos seis meses de vida. Enfim, é dar apenas aos pets muito amor e uma boa educação.
Paulo Deslandes
médico-veterinário
"O ideal é educar o animal sem uso de aversivos e proporcionar uma socialização prévia com elementos que ele irá encontrar ao longo da vida. Isso é fundamental para que o pet não desenvolva comportamentos medrosos ou agressivos"
A médica-veterinária Letícia da Costa alerta, ainda, que é impossível ter garantia 100% de que um animal não vai atacar, pois a agressividade pode ser causada por outros motivos, além da criação, como, por exemplo, por dor, doenças endocrinológicas e distúrbios psiquiátricos.
Há uma confusão entre o animal ter um comportamento agressivo e ser agressivo, explica Paulo Deslandes. “O animal agressivo muitas vezes é um cão inseguro (normalmente mal socializado em sua infância), que em situações específicas sente necessidade de ser agressivo. É bom lembrar que animais dóceis podem se tornar agressivos quando estão em situações confusas que queiram se livrar, portanto qualquer cão, independente de raça, pode se envolver em acidentes por mordedura", alerta.
“Por exemplo, um labrador muito dócil está roendo um chinelo e o tutor resolve que o punir fisicamente é uma boa solução, nessa situação, então, pode haver uma agressividade defensiva com mordidas. É bom lembrar, e isso normalmente foge da compreensão do tutor, que existem diversos tipos de agressividades (defensiva, por comida, possessiva, com pessoas estranhas, redirecionada, entre outras). Isso significa que mesmo um cão ou gato criado com amor pelos tutores pode desenvolver algum tipo de agressividade. Tem cães e gatos que são ótimos e sociáveis em qualquer situação, porém quando estão descansando ou comendo não gostam de serem incomodados. As pessoas precisam entender que os pets, às vezes, necessitam de ter seus momentos individuais e que ao sentir-se invadidos acabam sendo mais incisivos para passarem seu recado”, ressalta o médico-veterinário.
Mas como diferenciar a agressividade que surge a partir da estimulação do tutor daquela inerente ao animal? Para a médica-veterinária, Letícia Costa isso pode ser observado através de uma boa avaliação clínica com o objetivo de descartar qualquer problema físico, pela leitura corporal do animal no momento do ataque, realizando uma avaliação do espaço em que ele vive, a sua rotina e a sua postura corporal quando está próximo de seu dono.
Brincadeiras do bem
Segundo Paulo Deslandes e Letícia Costa, as brincadeiras são muito importantes para o desenvolvimento da “personalidade” do pet e devem simular comportamentos instintivos. O médico-veterinário explica que as brincadeiras devem deixá-los livres para expressarem naturalmente seus instintos, sem as barreiras impostas por terem sido domesticados.
“Por exemplo, os filhotes de cães quando brincam entre si estão estimulando o desenvolvimento social que é extremamente importante. Mas se privados desse estímulo nas fases da infância (no desenvolvimento), podem se tornar animais antissociais no futuro. Já os gatos privados de expressarem comportamentos de predação, devido ao confinamento imposto, precisam ser compensados dessa falta com brincadeiras de perseguição com bolinhas, varinhas, entre outras, ou poderão desenvolver comportamentos desequilibrados na relação humano e felino. A verdade é que existem variados exemplos de brincadeiras que deveríamos impor na rotina dos pets”, afirma Paulo Deslandes.
Já Letícia Costa explica que brincadeiras muito “fervorosas” podem estimular demasiadamente o animal, tornando-o ansioso e estressado. E também ao não deixá-lo brincar sozinho, o tutor pode acabar gerando uma dependência do pet com ele próprio, que não será nada benéfica no futuro.
Confira as brincadeiras positivas que contribuem para a formação e para a manutenção do bem-estar do animal durante a vida adulta.
Para os cães
- Simulando perseguição
- Proporcionando algo para morder, roer ou farejar
- Petiscos em uma garrafa pet vazia
- Jogar bola e fazê-lo buscar
- Corrida de obstáculos
Para gatos
- Ratinhos de borracha
- Bolinhas com penas
- Arranhadores com penas
- Caixas de papelão
- Nichos pela casa
Brincadeiras negativas
Para os cães
- Deixá-los morder a mão ou o braço do tutor
- Dar rasteiras no cão
- Brincar de dar susto
- Ficar tentando tirar algo do cão só para provocar
- Reforce sempre positivamente as brincadeiras desejadas
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