É impossível navegar pelas redes sociais - Instagram, Facebook, Pinterest, entre outras - e não se deparar com gatinhos, nos mais variados aspectos, na timeline. Mas a grande verdade é que os intrigantes felinos sempre foram populares, desde a antiguidade. Enfim, os humanos nunca resistiram a essas criaturas fascinantes, independentes, belas e de personalidade forte.
Eles já foram representados nas obras de grandes pintores, escritores, poetas, escultores, fotógrafos… Alguns, inclusive, inserindo o próprio felino de alguma maneira em seus trabalhos. E eu como adoro navegar pela web sempre me deparo com projetos lindos que de alguma maneira captam a essência dos gatos, sozinhos ou em sua relação com os humanos.
Um desses trabalhos é o All Vintage Cats (@allvintagecats), criado no Instagram pela jornalista Paula Leite Moreira, que mostra imagens antigas onde os gatos aparecem como protagonistas ou coadjuvantes clicadas em várias décadas no século XX. Para amantes de fotografia e bichanos, o perfil deve ser seguido.
Para saber mais, leia essa entrevista que fizemos com a idealizadora do projeto, onde ela fala sobre como começou sua paixão pelos gatos, como a sua gatinha Sofia entrou em sua vida, como surgiu a ideia do All Vintage Cats, entre outras coisas.
Você sempre teve gatos?
Não, nem sempre. Sou filha única e passei a minha infância toda pedindo um bichinho de estimação para a minha mãe, mas ela dizia que o apartamento era muito pequeno para criar um animal. Chegamos a ter um hamster por dois anos, mas não era a mesma coisa, já que ele vivia no seu cantinho. A sorte é que durante muitos anos viajamos para o interior de São Paulo nos finais de semana. Lá tive meu primeiro contato com gatos, que viviam soltos, sem tutores, e nos visitavam quando estávamos na chácara. Foi daí que me apaixonei definitivamente pelos felinos, mas mesmo assim minha mãe não cedeu, e era triste porque durante a semana não tinha a companhia deles.
Como a Sofia entrou em sua vida?
No meu aniversário de 17 anos, a gente estava morando em um apartamento maior. Foi aí que me veio a ideia de pedir mais uma vez um bichinho, especialmente um gato para os meus pais. Após insistir bastante, os convenci a adotarem um gatinho de uma Ong aqui de São Paulo, a UIPA. Naquela época, comecei a ter noção da importância de se adotar um animal abandonado. Lembro que não tive coragem de visitar o abrigo na ocasião, porque eu sabia que iria querer levar todos para casa. Então pedi para minha mãe escolher por mim, e ela encontrou um filhote exatamente do jeito que eu sonhava, era a minha Sofia. Já estamos juntas há 17 anos, o que considero um baita privilégio. Espero que ela viva por mais uns bons anos e quebre recordes de longevidade.
Você criou o projeto “All Vintage Cats”, no Instagram. Como surgiu a ideia? Qual o objetivo? E por que este nome?
Isso aconteceu no ano passado, nos primeiros meses de quarentena. Sou jornalista e sempre tive vontade de criar meu próprio conteúdo para um projeto pessoal, tanto como vitrine do meu trabalho, como por puro hobby. Muita gente já tinha me dito para escrever sobre gatos, mas já tem tanta coisa sobre eles na internet, né? Daí, certo dia, no meio do isolamento, me vi pesquisando fotos antigas de gatos na internet e encontrei muitas coisas fofas, interessantes e pouco divulgadas. Pensei: “Bom, amo gatos e considero a história um dos campos de estudo mais fascinantes que existem. Vou juntar tudo isso em um perfil do Instagram”. O nome All Vintage Cats resume bem a vibe que eu busco nas publicações: todos os tipos de gatos, sozinhos ou acompanhados, em registros de várias décadas do século passado.
O projeto mostra fotos antigas que sempre trazem os felinos de alguma maneira. Como é realizada a curadoria?
A maior parte das fotografias do projeto vem de acervos históricos, bancos de imagem e revistas internacionais, que costumam citar o local e a data do registro. Quando vejo um clique muito bacana, mas com uma fonte duvidosa, cruzo referências de sites mais confiáveis até chegar a um consenso. Se eu não encontrar informações relevantes, prefiro não publicar o registro, porque dou mais valor a isso do que a imagem em si. Já deixei de divulgar muitas fotos maravilhosas que não tinham pelo menos a data aproximada. Enfim, é uma escolha minha para que o projeto tenha mais credibilidade.
De toda sua curadoria, até agora, conte pra gente as imagens que mais te emocionaram, tanto pela estética, quanto pela história.
Para mim, a de Nise da Silveira, além de me emocionar muito, traz como pano de fundo um trabalho incrível, não é à toa que é a mais curtida. Além delas, outras que me emocionaram são a mãe felina parando o trânsito de Nova York para atravessar com seu filhotinho, em 1925; a do gatinho órfão de apenas duas semanas sendo alimentado pelo sargento americano Frank Praytor em plena Guerra da Coreia, em 1953; e a do gatinho, em meio ao caos provocado pela guerra, que fez com que o soldado americano Henry Williams encontrasse um motivo para sorrir. O momento foi eternizado pelo fotojornalista Eddie Adams, no Vietnã do Sul, em 1966. Esteticamente falando, adoro a do fotógrafo Herbert Tobias clicado em uma pose icônica, com seu gato preto na cabeça, por outro fotógrafo, o austríaco Peter H. Fürst, em 1962; o pulo do gato em busca de restos de peixes deixados pelos pescadores do porto de Istambul, na Turquia, em 1961; e clique primoroso, que mais parece um quadro, do fotojornalista francês Édouard Boubat, que registrou o gatinho Stanislas tomando um banho de sol na janela, na França, em 1973.
Muitas personalidades ao longo do tempo destacaram de alguma maneira os felinos em suas obras, Tem alguma que você goste muito? Qual?
Tem sim. Gosto muito das obras do escritor americano Charles Bukowski e me identifico com a maneira como ele aborda nos poemas a importância dos gatos em sua vida. O livro "Sobre Gatos", que é uma coletânea de poemas escritos por ele sobre os felinos, é maravilhoso. Mas Bukowski não era adepto das palavras muito doces e metáforas bucólicas. Ele tinha um jeito só dele de falar sobre o mundo. Considerado, por muitos, ácido demais. Também não posso deixar de mencionar a minha admiração pela médica psiquiatra brasileira Nise da Silveira, que só conheci um pouco mais a fundo depois da indicação de um dos seguidores do All Vintage Cats. Além de ser uma profissional maravilhosa, Nise era uma legítima gateira e foi uma das pioneiras a investir na importância dos animais em terapias alternativas para pacientes com transtornos mentais. Além disso, descobri que ela escreveu um livro chamado "Gatos, a Emoção de Lidar" em homenagem aos felinos, que tenho muita vontade de ler, mas é um artigo raro de encontrar.
Imagens antigas onde os gatos aparecem como protagonistas ou coadjuvantes
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