Na coluna passada, fizemos uma matéria sobre “levar gatos à praia” que deu uma certa polêmica. Diante das três ponderações apontadas, resolvemos entrevistar a médica-veterinária psiquiatra e comportamentalista Letícia Barcellos da Costa para falar sobre o assunto. Afinal, a coluna É o bicho é democrática e quer sempre dar a melhor informação aos seus leitores.
Segundo Letícia Costa, um gatinho é diferente do outro, por isso é necessário, sempre, avaliar também vários aspectos individuais. “A praia não é o local mais indicado, que eu comumente recomendo, principalmente para aqueles bichanos que não estão acostumados a fazer passeios externos. Mas isso não quer dizer que não possa levá-lo. É necessário sempre avaliar as características individuais de cada animal”, alerta.
Um bom exemplo de gatinho que ama praia e faz muito sucesso nas redes sociais, é o Nathan, conhecido como “Gato de Praia”, que entra no mar de boa, dá umas “braçadas” e quando cansa vai ao encontro do colo de seu “pai”, o Ryan. Quem o acompanha, percebe como ele fica à vontade neste ambiente, que embora não seja o mais estimulante aos felinos, pelo menos para ele, e para muitos outros, não parece nenhum pouco ameaçador. Confira a entrevista.
Existe uma polêmica, até entre especialistas da área veterinária, sobre a questão do passeio na guia com gatos, principalmente aqui no Brasil. Muitos afirmam que não faz parte da etimologia felina, já outros, não. Tenho muitos amigos gateiros que levam seus bichanos para passeios fora de casa e em nenhum momento dizem que o animal fica estressado, ao contrário, amam. Afinal, é ou não possível levar o gato para passear na guia?
Sim, é possível e faz parte da espécie passear e explorar o meio ambiente.
Não seria um preconceito afirmar que passear na guia é coisa de cachorro e não de gato?
Não acredito que seja preconceito e, sim, falta de conhecimento. É bom lembrar que por muito tempo acreditou-se e foi ensinado às pessoas que gatos não precisam passear, e que isso não traz qualquer tipo de benefício. O que não é verdade.
Qual é a diferença entre um passeio na guia com um cachorro de um passeio na guia com um gato? Afinal, são espécies diferentes, com comportamentos diferentes e que usam o espaço de forma diferente.
Na prática o passeio dos dois é igual. Ambos precisam e devem explorar o ambiente farejando. Não é sobre gasto energético, e sim mental. Porém, os felinos demoram um pouco mais para se adaptar, até porque a grande maioria é criado fechado em casa, sem a socialização adequada desde filhotes.
Quando o tutor entende que o gato não é um cachorro, estuda suas características, e percebe que é possível promover um passeio adequado com a espécie felina, e que o bichano gosta dessa saída, tem algum problema?
Não tem, desde que seja feito com segurança, com um peitoral adequado e em locais seguros.
Como respeitar as características inerentes aos felinos, mas não deixar de lado aquele passeio externo que pode também lhe fazer bem, considerando os limites de cada um?
O primeiro passo, é iniciar a socialização com o mundo externo desde filhote. Levá-lo para locais com pouco movimento, onde tenha bastante natureza, permitindo que ele suba nas árvores, possa caçar e farejar bastante. Passeio bom é assim, que expresse os comportamentos naturais da espécie.
Fiz uma matéria recentemente sobre levar gatos à praia para tomar um banho de mar. Conheço muitos tutores que fazem isso, até porque moramos em uma cidade litorânea. Claro, procuram sempre praias desertas e tomam todos os cuidados para garantir a segurança dos mesmos. E sentem que seus bichanos ficam felizes. Tem algum mal nisso?
O mal são aqueles tutores que nunca levaram os gatos para sair e de repente resolvem levá-los para locais assim, mesmo que calmos e vazios. Os felinos que não estão acostumados a sair, precisam de tempo para se acostumar. É muito importante saber que iniciar os passeios de forma segura pode levar meses. E a praia não é um local que o gato possa expressar seus comportamentos naturais da forma adequada. Eu indico mais parques e matas. Mas caso eles gostem de praia, o recomendável é levá-los no final de tarde, em uma bem vazia. Se eles gostarem e forem de forma espontânea, não há problema, o que nunca pode é forçar o bichano a passear, precisa sentir o seu comportamento e se perceber algum incômodo, o mais correto é voltar para casa. Forçar, jamais.
Quais são os sinais que os gatos dão quando estão incomodados com o passeio?
O gato quando está desconfortável não vai andar, a cauda balança (e diferente dos cães, isso não é indicativo de felicidade) ,a pupila dilata, entre várias outras linguagens corporais que podem indicar quando está relaxado, estressado, preocupado, feliz, alerta… É muito importante que os tutores entendem essa comunicação entre ele e seu bichano.
Fazendo do jeito certo, começar os passeios de forma gradual, apresentar a peitoral aos poucos, criar uma rotina que funcione e não o estresse, assim não seria benéfico para o felino o passeio externo, cada um dentro do seu jeitinho, do seu limite? Não seguindo a expectativa do tutor, que sonha às vezes em levar o gato para o shopping, mas com o objetivo de promover um passeio genuinamente satisfatório para o bichano. É possível?
É possível, mas precisamos ter em mente que o passeio tem que ser bom para o felino e não para o tutor. Shopping, por exemplo, é um local não indicado para eles, muitos cheiros, muitas pessoas, muito barulho, completamente longe do habitat dos felinos e isso pode causar bastante desconforto, até para os gatos mais acostumados.
Poderia citar cinco dicas importantes para garantir a segurança no passeio de gatos?
Usar peitoral adequado, sem folga; iniciar os treinos em casa assim que o bichano chegar, se for filhote melhor ainda; levar em locais frescos, com bastante natureza; evitar locais lotados, com muito barulho, deixar que o animal expresse seus comportamentos naturais no passeio, como farejar e caçar. É bom lembrar que todos os gatos são caçadores, a diferença é que os domesticados acabam não tendo esses instintos estimulados.
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