Estamos cansados de ver pelas ruas centenas de animais abandonados, passando fome, frio e sujeitos a todos os tipos de maus-tratos. E, infelizmente, existe um grande preconceito no Brasil, ainda, em relação aos SRDs (animais sem raça definida), os chamados popularmente de vira-latas, que às vezes ficam a vida toda nos abrigos. Foi justamente para chamar a atenção desses pets resgatados das ruas que a fotógrafa e Diretora Criativa, Giselle Dias, criou o projeto “Amor Não se Compra”. A ideia, segundo ela, é incentivar a escolha da adoção na hora de levar um “filho de quatro patas” para casa e não supervalorizar o fator pedigree, que não é indicativo de chique, de glamour e de amor. A iniciativa chamou a atenção de alguns famosos, como Nando Brandão, Erika Januza, Vitória Strada, Marcella Rica, Thalita Rebouças, João Vicente de Castro, Aline Riscado, entre outros, que se solidarizaram com o projeto e posaram para as câmeras de Giselle. Nesta entrevista, você vai conhecer um pouco dessa história - histórias - de amor e se deliciar com as fotos maravilhosas.
Quando você deu início ao projeto “Amor Não Se Compra” e por quê? Como surgiu o nome do projeto?
Eu estava em Los Angeles ainda na pré-pandemia. Já tinha adotado meu cachorro, o Bandit, há uns 2 anos, e me inspirei no meu grande amor por ele. E como a adoção é um assunto muito normalizado em Los Angeles, nos Estados Unidos, e por lá as pessoas têm preconceito com quem compra, ao contrário do Brasil, onde o preconceito é com vira-latas, achei importante fazer algo nesse sentido. Eu acho muito interessante que no lugar mais glamouroso do planeta, adotar é considerado chique, então é um exemplo a se seguir e queria trazer esse espírito para o Brasil. Inspirado nisso, surgiu o nome, “Amor Não Se Compra”. A ideia é mostrar que cachorros não deveriam ser tratados igual objetos.
Vários famosos aderiram ao projeto, como isso aconteceu?
Como a intenção do projeto é disseminar a informação e cultura da adoção o máximo possível, fui atrás de celebridades que podiam e queriam ajudar.
O que você procura passar com as fotos que produz para o projeto? Como foi essa construção? Todos os cachorros são de abrigos e estão para adoção?
A ideia das fotos é mostrar que pedigree não é referência de chique ou glamour. Eu queria que as ações das fotos remetessem a atividades do cotidiano com seus pets, imagens coloridas para chamar a atenção das pessoas e o monocromático para deixar o pet em evidência. Inicialmente a ideia era posar só com pets de abrigos para estimular a adoção e porque muitas pessoas apoiam a causa e não possuem animais justamente pela responsabilidade de não ter tempo, que é algo importante de se passar também, e, por outro lado, queria incluir todos que apoiam a causa. Mas acabamos fazendo também algumas fotos com pets das próprias celebridades que se apaixonaram pela ideia do projeto e queriam compartilhar a história dos seus bichinhos.
Conte um pouquinho dos bastidores.
A criação de cada foto foi muito especial e definitivamente foi uma aventura. Acho que a maior missão foi colocar a moto no estúdio para a foto do Nando Brandão, tivemos que subir com ela empinada no elevador. E a foto da Erika Januza teve tanto limão-siciliano que cada integrante do time levou uma cesta de presente para casa. Dizem que rendeu para várias receitas a quarentena inteira (risos). Existem vários vídeos de backstage nos meus highlights do Instagram @gigdias.
Você sempre gostou de animais de estimação? Já teve muitos pets na infância?
Sempre fui apaixonada por animais e nasci rodeada por cachorros. Minha vida inteira tive pets em família, mas o Bandit é meu primeiro filho.
Como Bandit entrou na sua vida? Ele é seu companheiro fiel na vida e no trabalho?
Eu morava sozinha nos Estados Unidos e minha mãe sugeriu que um cachorro poderia ser uma boa companhia. Na Califórnia a venda de pets é proibida, muitos amigos meus têm pets e a adoção é muito fácil, a quantidade de ONGs é enorme. Quando eu conheci o Bandit, foi amor à primeira vista, eu o escolhi sem nem pensar duas vezes. Foi a melhor decisão da minha vida.
Depois veio o Loki, na pandemia. Como ele surgiu em sua vida?
Foi logo no início da pandemia, me mudei de volta para o Brasil, e já queria adotar um segundo há um tempo. Como meu primeiro era americano, queria que o segundo fosse brasileiro. Durante o projeto fiquei com o coração apertado, mas eu me sensibilizei com a história do Loki no Instagram. Ele foi resgatado pela Focinhos de Luz de uma acumuladora, e ainda foi adotado e devolvido sete vezes por motivos de destruição e hiperatividade. Na hora que eu li a respeito dele, eu senti que poderia descrever o Bandit da mesma forma, afinal todos os cachorros até uns três anos têm necessidade de roer, ainda me lembro da bolsa da Chanel que o Bandit me tomou, mas de quem foi a culpa, dele? A criança tem culpa ou os pais que não a educaram? Faz parte do crescimento errar também, é um processo. Enfim, o adotei e me apaixonei.
Você mora nos Estados Unidos, né? Como funciona a lei de maus-tratos aos animais lá?
Morava. Enquanto eu fazia o projeto pet no Brasil, entramos em pandemia, e por motivos familiares decidi permanecer aqui enquanto passamos por esse momento turbulento. Nos Estados Unidos cada Estado tem uma legislação diferente, porém todos os 50 Estados norte-americanos têm uma legislação específica para tratar da crueldade contra animais. Além disso, em 2019 virou uma Lei Federal com até sete anos de prisão.
Aqui no Brasil, o número de animais abandonados é enorme e aumenta cada vez mais por falta de políticas públicas eficazes para evitar o crescimento populacional dos mesmos. Como é isso nos Estados Unidos?
Infelizmente nos Estados Unidos a eutanásia é usada como método de controle populacional. A Califórnia está lutando para tornar isso ilegal, e no momento é o Estado onde os abrigos menos usam essa prática, em média 90% dos animais são adotados. Além dessa prática, a castração obrigatória é adotada também por alguns Estados. A Califórnia tem as leis mais progressistas do mundo no que se refere à proteção animal. Foi o primeiro Estado nos Estados Unidos a proibir a venda de pets, teste de cosméticos em animais e venda de produtos de pele. Lojas da Califórnia só podem vender cães e gatos vindos de abrigos. Além do que, desde 2008, a castração é obrigatória. Acredito que é um caminho a ser seguido.
Na sua opinião qual é o caminho para conseguir tirar os animais das ruas, onde passam frio, fome e estão sujeitos a todos os tipos de maus-tratos?
Eu acredito que a castração obrigatória é a única maneira ética e eficaz de controle populacional. A maioria dos animais de rua já tiveram um lar, e eles se proliferam muito rápido. Infelizmente tem muito preconceito no Brasil a respeito da castração, ainda mais do macho, porém é muito benéfico para a saúde do seu pet. E claro, a adoção.
Adotar é um ato de amor, mas acima de tudo responsabilidade. Quando você decide levar um pet para casa, precisa estar certo disso, porque devolvê-lo é sempre mais um trauma para um animal que já passou muitos dissabores nas ruas. E as alegações na hora de devolvê-los, e acontece muito, são surreais. Isso sem falar quando a pessoa não se dá ao trabalho nem de devolver, abandona por qualquer motivo. O que você tem a dizer sobre isso?
Acho muito triste, foi o motivo pelo qual me comovi com a história do Loki. Ele não tinha estrutura alguma e as pessoas esperavam dele atitudes de um cachorro treinado, é completamente irrealista. O filhote de pedigree de R$ 10 mil também vai destruir seu sofá, essa é a realidade de ter um pet e o dono tem que estar disposto a educar. E muitas pessoas abandonam por conta dessa irresponsabilidade na hora da compra ou da adoção. A cada 10 cachorros de rua, sete já tiveram um lar.
O projeto é uma espécie de “campanha” para incentivar a adoção de animais resgatados e mostrar como é bom ter um pet em casa fazendo companhia e alegrando a vida de quem está disposto a isso?
O projeto quer incentivar a escolha da adoção na hora de trazer um pet para casa e não supervalorizar o fator pedigree que não é indicativo de amor.
Pretende estender o projeto para os gatinhos, também?
Sim! Infelizmente só tem a foto da Aline Riscado com seu gatinho ainda. O projeto infelizmente ainda está incompleto por conta da pandemia, decidimos lançar as fotos gradualmente até conseguirmos começar a retomar as fotografias.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.