Esta semana, a coluna É o bicho recebeu uma mensagem do leitor André Francisco Ribeiro. Ela diz: “Acompanho seus artigos em A Gazeta e os acho muito interessantes, principalmente por falar sobre assuntos que desmistificam o comportamento dos gatos. Tenho uma cachorra e penso um dia em ter um gato. Sugiro uma matéria com dicas e orientações para quem tem cachorro e gostaria de ter um felino”.
Afinal, é possível essas duas espécies conviverem juntas? Essa dúvida, ao que parece, surgiu há anos, a partir do instinto de caça dos cachorros, que antes de serem domesticados precisavam capturar presas para se alimentar. Por outro lado, a reação dos gatos ao encontrar um cachorro, visto como um animal intruso em seu território e uma ameaça em potencial, reforçou essa relação pouco amistosa. Ao se arrepiar e sair correndo, o felino acaba agindo como uma presa, estimulando o comportamento de caça dos cães. E o que não falta, são filmes e desenhos animados para perpetuar este mito.
Mas para quem vive essa experiência, ter um cachorro e um bichano na mesma casa é, sim, possível. As duas espécies são capazes de viver em harmonia. Pelo menos para a médica veterinária anestesista, Juliana Barros Pinto, seu cão, Luis Hamilton, um Jack Russel, e seu gato Ayrton, sem raça definida e adotado, mostram-se bem amigos.
“Primeiro veio o Luis Hamilton, que é de uma raça bem ativa e tem energia de sobra, além disso é bem brincalhão e carinhoso. Esperei inicialmente ele se adaptar à rotina da casa. Depois, trouxe o Ayrton. Escolhi os dois por terem a mesma faixa etária, filhotes com cerca de um mês de diferença. Mas antes de apresentá-los de fato, montei um cantinho isolado para ele (o gato), e comecei a adaptação trocando as mantinhas entre os dois para irem se acostumando com o cheiro um do outro, assim como os brinquedos”, explica.
Juliana ressalta que na hora de fazer a apresentação de fato, foi colocando o Ayrton na caixinha de transporte com a porta aberta, em cima da mesa, e enquanto ela brincava com ele, o marido divertia o Luis Hamilton. “A ideia era que um visse o outro interagindo com a gente. Depois, deixava o Ayrton bem à vontade para sair quando quisesse da caixinha, sempre em locais que ele conseguisse subir para se sentir seguro, sem Luis Hamilton poder pegá-lo, e continuávamos na rotina normal da casa. Quando finalmente, vi que Luis Hamilton não iria machucar ele, nem o contrário, e que Ayrton já conseguia subir nas coisas para fugir, deixava-os sempre soltos quando eu estava em casa. E assim foram se acostumando. Hoje são inseparáveis”, conta.
Claro, nessa ambientação não poderia faltar alguma história engraçada. “Logo no início, Ayrton correu para o banheiro e Luis Hamilton foi atrás achando que era apenas uma brincadeira. Só que o Ayrton, ao chegar lá, percebeu que estava encurralado e se encolheu num canto com medo, mas começou a ‘riscar fósforo’ para Luis Hamilton, que ficou sentado olhando para a cara dele sem entender nada. E a gente com medo que começassem a brigar e a adaptação fosse por água abaixo. Engraçado é que hoje os dois formaram uma quadrilha, Ayrton sobe nos lugares e joga as coisas no chão para Luis Hamilton destruir (rir para não chorar)”, lembra.
Cuidado, paciência e dedicação
Para o adestrador, especialista em comportamento animal e proprietário da @abc.ducao, Wilson Ramos Neto, é possível, sim, realizar a integração de cães e gatos, e proporcionar um convívio harmonioso entre os dois no mesmo ambiente onde irão morar.
“Para fazer a adaptação é necessário alguns cuidados, paciência e dedicação, principalmente nos primeiros dias. Algumas dicas e treinos podem ajudar, em um breve espaço de tempo, a introduzir esse gato como o novo morador e membro da família. Mas é bom lembrar que são espécies distintas, com personalidades e necessidades completamente diferentes. Cada cão vai reagir de maneira diferente em relação a esse novo ser que está adentrando o seu território, ou seja, tanto pode aceitar, como pode ‘avançar’ e se tornar perigoso para o gato. O contrário também pode acontecer, o gato pode se sentir ameaçado e acabar machucando o cachorro, que apenas queria brincar ou cheirá-lo”, explica o adestrador.
Wilson alerta que a primeira apresentação é muito importante. “É necessário uma observação de perto e atuante na hora desses primeiros encontros, de maneira sutil e despretensiosa, nada imposto. Assim é possível, aos poucos, ir identificando as atitudes, os comportamentos e as necessidades de cada um”, ensina.
Além disso, segundo ele, é sempre bom levar em conta, também, na hora de escolher os novos membros pets da família, a raça, a idade, a personalidade de cada um... “Tudo isso é importante e deve ser analisado para a convivência dos dois no mesmo ambiente. Essas informações podem influenciar no tipo de treinamento e de adaptação. Porém, por mais difícil que pareça ser, a integração é sempre possível, independente da personalidade do cachorro ou do gato, o que vai mudar é o tempo, demorar menos ou mais”, garante.
Ele explica, ainda, que quando se trata de filhotes, a adaptação é sempre mais fácil, pois são coisas novas para ambos. “Mas nada garante que lá na frente o comportamento mude e as ‘brincadeiras’, por exemplo, do cão passem a ficar um pouco mais agressivas, sendo necessário corrigir logo a situação para que não venha ocasionar algum tipo de lesão dos dois lados”.
Mas Wilson, deixa claro, sempre existe uma solução, não é necessário desistir do “filho de quatro patas”. “Nesses casos, a procura de um profissional é sempre bem-vinda, pois nem sempre uma técnica funciona para todos os tipos de adaptações. E é importante resolver o problema no início, antes que as dificuldades apareçam levando a um convívio insuportável. A minha dica é: antes de tomar qualquer decisão, até mesmo para a escolha dos animaizinhos, procure orientação”, sugere.
Confira oito dicas para fazer a adaptação do cachorro com o gato:
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01
Ter disponibilidade de tempo
Não adianta nada a pessoa querer ter um animal, quiçá dois, caso não tenha tempo para cuidar deles. A adaptação não é feita da noite para o dia, é necessário alguns cuidados, dedicação e, acima de tudo, paciência. Pense bem, então, antes de tomar qualquer decisão. O que não pode é se arrepender e, depois, querer abandonar o animalzinho. Lembre-se: eles têm sentimentos e vão sofrer muito com essa atitude.
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02
Correção quando identificar algo não desejável
A correção é muito importante, mas nunca usando de violência. Usar o “não” já é suficiente, e não precisa ser gritado. O melhor método é o adestramento positivo, dar ao animal coisas que ele gosta (como petiscos) quando faz algo desejado pelo tutor. E não dar o que ele gosta quando não atende de forma desejada.
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03
Respeitar os espaços de cada um
Respeite o espaço de cada um. Nem sempre eles vão querer estar juntos. Forçar a barra atrapalha o processo e não é saudável. A intenção é que pouco a pouco eles abram mão de uma postura defensiva ou de estranhamento e comecem a criar vínculos de amizade. Lembre-se que se você passa muito tempo fora de casa, a amizade entre os dois é ainda mais importante, pois assim poderão construir grandes momentos na companhia um do outro.
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04
Providenciar casinhas separadas para cada um
Pelo menos no começo da adaptação, cada um deve ter a sua “casinha” ou “caminha”. Lembre-se: eles têm personalidades diferentes que devem ser respeitadas. Deixe que eles decidam se vão, ou não, posteriormente, dividir o mesmo espaço na hora de descansar ou dormir.
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05
Dividir a atenção e o carinho para os dois
Isso é muito importante. O truque para introduzir o novo pet é garantir que ele continuará recebendo a mesma atenção e carinho de sempre. Evite repreendê-lo durante a apresentação para não gerar qualquer associação negativa com o momento. E mesmo depois, essas reprimendas precisam ser realizadas sempre de forma positiva.
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06
Proporcionar brinquedos interativos
Os brinquedos para pets sempre fazem sucesso com cães e gatos. Apesar de terem gostos diferentes, eles possuem em comum a curiosidade e podem descobrir uma forma de se divertirem com um acessório novo. Lembre-se: para que seus companheiros se tornem amigos, eles precisam estar seguros, felizes e sentir que não perderão o seu amor.
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07
Proporcionar um ambiente tranquilo e calmo
O tutor precisa manter a calma durante a adaptação e criar um ambiente tranquilo em casa, onde eles sintam-se confortáveis e seguros. Qualquer estresse dos tutores é percebido pelos animais e isso pode gerar desconforto e atrapalhar o processo.
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08
Fazer sempre a hora da refeição juntos
Gradualmente é importante deixá-los fazer as refeições juntos, cada um com o seu vasilhame, mas sempre sob a supervisão do tutor. Isso vai dar mais segurança aos dois e eles vão entender que não estão ali para invadir o território um do outro, sentindo-se ameaçados.
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