Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Quero um gato, mas já tenho um cachorro em casa. É possível?

Essa relação pouco amistosa, tão difundida em filmes e desenhos animados, na maioria das vezes não condiz com a realidade. Com alguns cuidados, dedicação e paciência, cães e gatos podem conviver em harmonia. A adaptação pode até levar um tempo maior, mas no final o sucesso é garantido

Publicado em 25/05/2021 às 02h00
Para fazer a adaptação de gato e cachorro precisa de alguns cuidados, determinação e paciência
Para fazer a adaptação de gato e cachorro precisa de alguns cuidados, determinação e paciência. Crédito: Pexels

Esta semana, a coluna É o bicho recebeu uma mensagem do leitor André Francisco Ribeiro. Ela diz: “Acompanho seus artigos em A Gazeta e os acho muito interessantes, principalmente por falar sobre assuntos que desmistificam o comportamento dos gatos. Tenho uma cachorra e penso um dia em ter um gato. Sugiro uma matéria com dicas e orientações para quem tem cachorro e gostaria de ter um felino”.

Afinal, é possível essas duas espécies conviverem juntas? Essa dúvida, ao que parece, surgiu há anos, a partir do instinto de caça dos cachorros, que antes de serem domesticados precisavam capturar presas para se alimentar. Por outro lado, a reação dos gatos ao encontrar um cachorro, visto como um animal intruso em seu território e uma ameaça em potencial, reforçou essa relação pouco amistosa. Ao se arrepiar e sair correndo, o felino acaba agindo como uma presa, estimulando o comportamento de caça dos cães. E o que não falta, são filmes e desenhos animados para perpetuar este mito.

Mas para quem vive essa experiência, ter um cachorro e um bichano na mesma casa é, sim, possível. As duas espécies são capazes de viver em harmonia. Pelo menos para a médica veterinária anestesista, Juliana Barros Pinto, seu cão, Luis Hamilton, um Jack Russel, e seu gato Ayrton, sem raça definida e adotado, mostram-se bem amigos.

A médica veterninária anestesista, Juliana Barros Pinto, com seu cão Luis Haminton e seu gato Ayrton
A médica veterninária anestesista, Juliana Barros Pinto, com seu cão Luis Haminton e seu gato Ayrton. Crédito: Arquivo pessoal

“Primeiro veio o Luis Hamilton, que é de uma raça bem ativa e tem energia de sobra, além disso é bem brincalhão e carinhoso. Esperei inicialmente ele se adaptar à rotina da casa. Depois, trouxe o Ayrton. Escolhi os dois por terem a mesma faixa etária, filhotes com cerca de um mês de diferença. Mas antes de apresentá-los de fato, montei um cantinho isolado para ele (o gato), e comecei a adaptação trocando as mantinhas entre os dois para irem se acostumando com o cheiro um do outro, assim como os brinquedos”, explica.

Juliana ressalta que na hora de fazer a apresentação de fato, foi colocando o Ayrton na caixinha de transporte com a porta aberta, em cima da mesa, e enquanto ela brincava com ele, o marido divertia o Luis Hamilton. “A ideia era que um visse o outro interagindo com a gente. Depois, deixava o Ayrton bem à vontade para sair quando quisesse da caixinha, sempre em locais que ele conseguisse subir para se sentir seguro, sem Luis Hamilton poder pegá-lo, e continuávamos na rotina normal da casa. Quando finalmente, vi que Luis Hamilton não iria machucar ele, nem o contrário, e que Ayrton já conseguia subir nas coisas para fugir, deixava-os sempre soltos quando eu estava em casa. E assim foram se acostumando. Hoje são inseparáveis”, conta.

Claro, nessa ambientação não poderia faltar alguma história engraçada. “Logo no início, Ayrton correu para o banheiro e Luis Hamilton foi atrás achando que era apenas uma brincadeira. Só que o Ayrton, ao chegar lá, percebeu que estava encurralado e se encolheu num canto com medo, mas começou a ‘riscar fósforo’ para Luis Hamilton, que ficou sentado olhando para a cara dele sem entender nada. E a gente com medo que começassem a brigar e a adaptação fosse por água abaixo. Engraçado é que hoje os dois formaram uma quadrilha, Ayrton sobe nos lugares e joga as coisas no chão para Luis Hamilton destruir (rir para não chorar)”, lembra.

Cuidado, paciência e dedicação

Para o adestrador, especialista em comportamento animal e proprietário da @abc.ducao, Wilson Ramos Neto, é possível, sim, realizar a integração de cães e gatos, e proporcionar um convívio harmonioso entre os dois no mesmo ambiente onde irão morar.

O adestrador, especialista em comportamento animal, Wilson Ramos Neto, com Wolf, um Boiadeiro Australiano, também precisou de adestramento
O adestrador, especialista em comportamento animal, Wilson Ramos Neto, com Wolf, um Boiadeiro Australiano, também precisou de adestramento. Crédito: Reprodução Instagram

“Para fazer a adaptação é necessário alguns cuidados, paciência e dedicação, principalmente nos primeiros dias. Algumas dicas e treinos podem ajudar, em um breve espaço de tempo, a introduzir esse gato como o novo morador e membro da família. Mas é bom lembrar que são espécies distintas, com personalidades e necessidades completamente diferentes. Cada cão vai reagir de maneira diferente em relação a esse novo ser que está adentrando o seu território, ou seja, tanto pode aceitar, como pode ‘avançar’ e se tornar perigoso para o gato. O contrário também pode acontecer, o gato pode se sentir ameaçado e acabar machucando o cachorro, que apenas queria brincar ou cheirá-lo”, explica o adestrador.

Wilson alerta que a primeira apresentação é muito importante. “É necessário uma observação de perto e atuante na hora desses primeiros encontros, de maneira sutil e despretensiosa, nada imposto. Assim é possível, aos poucos, ir identificando as atitudes, os comportamentos e as necessidades de cada um”, ensina.

Para fazer a adaptação de gato e cachorro precisa de alguns cuidados, determinação e paciência
Para fazer a adaptação de gato e cachorro precisa de alguns cuidados, determinação e paciência. Crédito: Pexels

Além disso, segundo ele, é sempre bom levar em conta, também, na hora de escolher os novos membros pets da família, a raça, a idade, a personalidade de cada um... “Tudo isso é importante e deve ser analisado para a convivência dos dois no mesmo ambiente. Essas informações podem influenciar no tipo de treinamento e de adaptação. Porém, por mais difícil que pareça ser, a integração é sempre possível, independente da personalidade do cachorro ou do gato, o que vai mudar é o tempo, demorar menos ou mais”, garante.

Ele explica, ainda, que quando se trata de filhotes, a adaptação é sempre mais fácil, pois são coisas novas para ambos. “Mas nada garante que lá na frente o comportamento mude e as ‘brincadeiras’, por exemplo, do cão passem a ficar um pouco mais agressivas, sendo necessário corrigir logo a situação para que não venha ocasionar algum tipo de lesão dos dois lados”.

Mas Wilson, deixa claro, sempre existe uma solução, não é necessário desistir do “filho de quatro patas”. “Nesses casos, a procura de um profissional é sempre bem-vinda, pois nem sempre uma técnica funciona para todos os tipos de adaptações. E é importante resolver o problema no início, antes que as dificuldades apareçam levando a um convívio insuportável. A minha dica é: antes de tomar qualquer decisão, até mesmo para a escolha dos animaizinhos, procure orientação”, sugere.

Confira oito dicas para fazer a adaptação do cachorro com o gato:

  1. 01

    Ter disponibilidade de tempo

    Não adianta nada a pessoa querer ter um animal, quiçá dois, caso não tenha tempo para cuidar deles. A adaptação não é feita da noite para o dia, é necessário alguns cuidados, dedicação e, acima de tudo, paciência. Pense bem, então, antes de tomar qualquer decisão. O que não pode é se arrepender e, depois, querer abandonar o animalzinho. Lembre-se: eles têm sentimentos e vão sofrer muito com essa atitude.

  2. 02

    Correção quando identificar algo não desejável

     A correção é muito importante, mas nunca usando de violência. Usar o “não” já é suficiente, e não precisa ser gritado. O melhor método é o adestramento positivo, dar ao animal coisas que ele gosta (como petiscos) quando faz algo desejado pelo tutor. E não dar o que ele gosta quando não atende de forma desejada.

  3. 03

    Respeitar os espaços de cada um

    Respeite o espaço de cada um. Nem sempre eles vão querer estar juntos. Forçar a barra atrapalha o processo e não é saudável. A intenção é que pouco a pouco eles abram mão de uma postura defensiva ou de estranhamento e comecem a criar vínculos de amizade. Lembre-se que se você passa muito tempo fora de casa, a amizade entre os dois é ainda mais importante, pois assim poderão construir grandes momentos na companhia um do outro.

  4. 04

    Providenciar casinhas separadas para cada um

    Pelo menos no começo da adaptação, cada um deve ter a sua “casinha” ou “caminha”. Lembre-se: eles têm personalidades diferentes que devem ser respeitadas. Deixe que eles decidam se vão, ou não, posteriormente, dividir o mesmo espaço na hora de descansar ou dormir.

  5. 05

    Dividir a atenção e o carinho para os dois

    Isso é muito importante. O truque para introduzir o novo pet é garantir que ele continuará recebendo a mesma atenção e carinho de sempre. Evite repreendê-lo durante a apresentação para não gerar qualquer associação negativa com o momento. E mesmo depois, essas reprimendas precisam ser realizadas sempre de forma positiva.

  6. 06

    Proporcionar brinquedos interativos

    Os brinquedos para pets sempre fazem sucesso com cães e gatos. Apesar de terem gostos diferentes, eles possuem em comum a curiosidade e podem descobrir uma forma de se divertirem com um acessório novo. Lembre-se: para que seus companheiros se tornem amigos, eles precisam estar seguros, felizes e sentir que não perderão o seu amor.

  7. 07

    Proporcionar um ambiente tranquilo e calmo

    O tutor precisa manter a calma durante a adaptação e criar um ambiente tranquilo em casa, onde eles sintam-se confortáveis e seguros. Qualquer estresse dos tutores é percebido pelos animais e isso pode gerar desconforto e atrapalhar o processo.

  8. 08

    Fazer sempre a hora da refeição juntos

     Gradualmente é importante deixá-los fazer as refeições juntos, cada um com o seu vasilhame, mas sempre sob a supervisão do tutor. Isso vai dar mais segurança aos dois e eles vão entender que não estão ali para invadir o território um do outro, sentindo-se ameaçados.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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