Quando pensamos em trauma em cães e gatos, logo relacionamos o fato a acidentes automobilísticos. Apesar desses serem os mais graves, não são os mais comuns, os mais frequentes ocorrem em casa. E em ambos os casos, todo cuidado é pouco.
Segundo o médico veterinário, cirurgião ortopédico e neuroespinhal, Fabricio Pagani, é considerado trauma qualquer força aplicada sobre o corpo que possa causar lesão. “E os animais fisicamente mais frágeis estão mais propícios a sofrerem acidentes traumáticos e de maior gravidade”, explica.
Pagani ressalta que os traumas automobilísticos ocorrem frequentemente quando os pets passeiam pelas ruas sem estarem devidamente contidos por seus tutores, quando fogem de suas residências ou são abandonados. “Outro motivo de traumas está, infelizmente, relacionado aos maus-tratos, e são os mais variados possíveis e muitos são fatais”, lembra.
Os cães micro e toys são os mais sujeitos a se envolverem em traumas ortopédicos, em decorrência, principalmente, de quedas de colo, sofás ou camas. Os tipos mais frequentes são lesões, entorses, rupturas ligamentares, luxações e fraturas. E dentre eles, estão a entorse de carpo (punho), a ruptura do ligamento cruzado cranial (joelho), a luxação coxofemoral acompanhada ou não de fratura (quadril) e fraturas de rádio e ulna (antebraço) e umeral distal (cotovelo).
Nos gatos, a queda de grandes alturas, como, por exemplo, de janelas e sacadas de prédios, infelizmente, também são muito comuns e causam as mais diversas lesões, sendo as mais comuns as de membros e do crânio, além de outras mais graves no tórax e abdômen. “Por isso, quem tem felinos em apartamentos, precisa telar todas as janelas”, alerta Pagani.
“Também são muito comuns os traumas relacionados a pisões ou queda de objetos sobre os pés de cães e gatos, que acabam comumente em fraturas de dígitos (dedos)”.
Segundo Pagani, nessas horas o atendimento de urgência/emergência por uma equipe transdisciplinar, composta minimamente por um internista, um anestesista e um cirurgião, e em um estabelecimento médico veterinário devidamente equipado e com profissionais especializados, é essencial para garantir não só a vida do cão ou gato vítima de trauma, evitando muitos vezes que o animal vá a óbito, como também para minimizar a ocorrência de lesões irreversíveis.
“Como orientação geral, cães e gatos quando sofrem acidentes, devido ao estresse e dor, podem morder ou arranhar quem o tenta pegar, portanto é muito importante manter a calma e estar atento para evitar acidentes adicionais”, lembra Pagani.
Ele explica, ainda, que é primordial não movimentar muito o corpo do animal. O ideal é colocá-lo com muito cuidado dentro de uma caixa de transporte ou sobre algo firme para que possa ser removido para o veículo e, posteriormente, ser levado à clínica ou hospital veterinário, evitando movimentações adicionais que podem ser prejudiciais.
“Hoje no Espírito Santo temos ótimos estabelecimentos e profissionais. É muito importante que os tutores verifiquem junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (CRMV-ES) se a clínica ou hospital e os profissionais estão devidamente registrados, pois infelizmente muitos se aproveitam dos tutores nestes momentos de desespero. É sempre bom lembrar que consultórios veterinários e pet-shops não são estabelecimentos habilitados para realização de procedimentos cirúrgicos '', conclui.
Confira algumas dicas sobre traumas
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Cães são mais suscetíveis a traumas
Os traumas acontecem mais em cães do que em gatos. O cão é uma espécie que se desenvolveu nos lares dos humanos, começando lá na pré-história. Desta forma, as seleções naturais que determinariam, por exemplo, esqueletos mais fortes e saudáveis não ocorreram, dando lugar a tamanhos (corpos) menores.
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Atenção redobrada com filhotes
Os cães filhotes são mais suscetíveis a traumas do que os adultos. E nesses casos, as fraturas de rádio ulna (antebraço) em Spitz Alemão e as de úmero (cotovelo) em Buldogues são as mais comuns. Já nos filhotes de gatos, as lesões ósseas mais corriqueiras são a dos dígitos, do fêmur e da tíbia. Filhotes de cães de raças de grande porte, e de gatos, por exemplo, como os Bengal e os Maine Coon, têm frequentemente fraturas na cabeça do fêmur.
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Sintomas mais frequentes
Quando um pet sofre um trauma, além da dificuldade de locomoção, outros sintomas aparecem, como dor intensa, seguida de lesão tecidual, que podem ser variadas e na maioria das vezes perceptíveis aos humanos, como hematomas, ralado na pele, perfurações, sangramentos, desalinhamentos do eixo dos membros que dobram onde não deveriam, indicando luxações ou fraturas, com ou sem exposições ósseas, e até uma lesão que por si amputa um membro ou leva o animal à morte.
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Problemas futuros
Os problemas futuros dependerão do tipo de trauma sofrido pelo cão ou gato. Mas de forma geral, os pacientes tratados corretamente, que recebem o atendimento urgente/emergencial, têm melhor prognóstico. Os principais problemas ortopédicos que podem surgir mais à frente são deficiências físicas que acabam comprometendo a qualidade de vida do animal de forma irreversível como, por exemplo, consolidações ósseas incorretas com contraturas musculares e paraplegia. Por isso, o atendimento rápido e realizado por um médico veterinário especializado é primordial.
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Raças mais propensas a traumas
Alguns cães por suas características genéticas, e por fim de conformação corporal, estão mais predispostos a fraturas. Os cachorros de membros finos/delicados e longos com pouca cobertura muscular e muito ativos são os mais predispostos a esses acidentes. Como exemplo, temos as raças Spitz Alemão (Lulu da Pomerânia), Pinscher e Galgo Italiano. Os pets com os membros tortuosos como Buldogue Francês, Buldogue Inglês, Boxer, Pitbull e suas misturas estão mais propensos a fraturas de cotovelo. Os Buldogues, o Shih-tzu e os Dachshund (salsichinha), por terem problemas de formação em seu esqueleto, estão mais propensos a fazerem quadros graves em traumas de coluna podendo ficar paraplégicos, tetraplégicos e inclusive evoluírem para óbito.
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Vira-latas também são propensos a traumas
Enganam-se os que acreditam que animais sem raça definida (SRD), os nossos famosos vira-latas, não têm problemas. Tem sim. Aliás, os mesmos que os animais de raça pura e, dependendo, até mais, conforme suas misturas raciais. O que ocorre é que esses animais SRD, quando criados sem proximidade com os seres humanos, escondem seus problemas por instinto de proteção. E isso também ocorre com os de raça se estiverem na mesma situação. Podemos dizer que são cães e gatos que não fazem parte da família e por isso não têm como “contar” seus sofrimentos para os tutores. Assim, muitas doenças ficam silenciosas e cria-se o mito de que esses animais (SRD ou não) são mais resistentes e não têm problemas. Já quando eles vivem em casa, literalmente, muito próximos aos seus tutores, esses ficam mais atentos a todas as ações do animal. Sim, os cães e gatos falam, nós é que precisamos entender o que estão dizendo. Lembrando que os gatos têm menos paciência de tentar nos fazer entender por serem mais independentes.
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Quando é necessário uma intervenção cirúrgica
De forma geral todos os traumas que causam perfurações, lacerações e fraturas precisam de tratamento cirúrgico. No caso de fraturas em membros, infelizmente há muita tentativa de extrapolar a prática de imobilização utilizada por vezes na medicina humana, entretanto cães e gatos não são colaborativos ou ainda pela conformação de seus membros mais presos ao tronco, determinam por fim o insucesso desses métodos. Assim, de forma geral, fraturas em cães e gatos são cirúrgicas, podendo, porém, um médico veterinário especializado em ortopedia e traumatologia fazer essa avaliação e a escolha do melhor tipo de tratamento. Lesões de coluna em animais, de forma geral, se causarem séria dor e perda de movimentos, precisam de intervenção cirúrgica em até 48 horas (período de ouro).
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O que acontece no pós-operatório
O pós-operatório dependerá do tipo de trauma e sua gravidade, mas invariavelmente precisa da atenção e dos cuidados dos tutores, seus responsáveis quando recebem alta. E esses cuidados são primordiais para dar continuação ao tratamento e a recuperação fora do ambiente hospitalar – sem o comprometimento do tutor como partícipe, nenhum trabalho realizado pela equipe médica, por mais bem feito que seja, terá sucesso. Dentre os cuidados mais importantes estão a utilização de colar elisabetano ou outro método efetivo para impedir que o pet lamba e morda a(s) ferida(s), a restrição de espaço físico para que seja possível o repouso e a correta administração dos medicamentos.
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Como é realizada a reabilitação do animal
A reabilitação de cães e gatos é muito mais rápida que a dos humanos. Diferentemente de nós que somatizamos nossas neuras, os pets não se preocupam se a cicatriz ficará feia ou o que vão achar deles agora que ficaram com alguma deficiência. Cães e gatos vieram a este mundo para serem e fazerem felizes, eles não sofrem o luto pós-trauma e quando amados e cuidados já iniciam a fase de reabilitação imediatamente.
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Como evitar os traumas em casa
O tutor precisa ficar atento e evitar que subam em camas, sofás cadeiras e locais altos, colocar telas de proteção em janelas e varandas, não deixar os pets terem acesso a áreas externas sem estarem acompanhados e mesmo quando acompanhados precisam estar presos em guias, e garantir a segurança para que eles não sofram maus-tratos, seja dentro de sua própria residência ou quando levados para banhos ou ficarem em hotéis, por exemplo. É sempre importante verificar se esses locais estão devidamente registrados no CRMV-ES.
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