Meu querido diário... Fico sempre muito feliz quando encontro uma história de superação de um pet. E muitas delas chegam a mim através do @eobicho_ag. Como a da Olívia (@oliviagoldenespecial). Ela é mais uma das minhas amigas virtuais. Gosto muito de acompanhar o dia a dia dela e de sua mãe, a gastróloga Mariana Camargo de Oliveira. E por isso resolvi bater um papo com ela.
A história da Olívia começou quando Mariana a viu nas redes sociais. “Na legenda dizia que ela estava para adoção e que era paraplégica, pois havia caído de uma altura de sete metros com apenas três meses de vida. Mas, infelizmente, os seus tutores decidiram pela eutanásia. A sorte, claro, é que o veterinário não realizou o procedimento e a enviou para o Instituto Luiza Mell. Quando a vi no instagram não consegui mais parar de pensar nela”, lembra, Mariana.
Mariana conta que o problema de adotá-la é que ela e seu marido, Eduardo, já tinham dois cachorros de porte médio, da raça Shar-Pei, e assumir a responsabilidade de mais um aumentaria muito as despesas. “Mas eu sonhei com a Olívia durante uma semana até que resolvi entrar em contato com o instituto e fui conhecê-la. Foi amor à primeira vista. Não a trouxe para casa logo. Mas depois não aguentei e fui buscá-la. O Eduardo ficou bravo inicialmente, mas bastou alguns dias para que ela conquistasse o seu coração”.
Quem acompanha Olívia no instagram sempre vê imagens dela com a sua cadeirinha de rodas. “Não foi muito fácil encontrar o equipamento ideal ao seu porte, assim como a adaptação. É necessária muita paciência e muito amor para alcançar o resultado desejado. A gente só queria trazer mais qualidade de vida para ela. Contamos também com um adestrador e apostamos em fisioterapia aquática”, detalha.
Hoje, Olívia vive muito feliz na sua rotina. “Tem horário para comer, trocar as fraldas, passear e treinar, mas sempre com diversão e muita dose de amor. Ela usa a cadeirinha duas vezes por dia, não é possível ficar o tempo todo com ela. Mas está sempre nos acompanhando”.
Mariana conta que criou um instagram para a Olívia porque acredita que a história de superação dela merecia ser dividida. A conta já tem mais de 100 mil seguidores. “A ideia ao postar os momentos da nossa ‘filha de quatro patas’ com deficiência é incentivar as pessoas que possuem pets na mesma condição a seguirem em frente, mesmo diante de todas as dificuldades. A gente sempre diz: feche os olhos e vá sem medo de ser feliz. Fácil não é, mas o sentimento é único, e a gratidão deles é a melhor recompensa”, conclui.
Animais são programados para serem felizes
O médico veterinário, especializado em Cirurgia Ortopédica e Neuroespinhal, Fabricio Pagani, diz que é muito importante, antes de mais nada, entender que os cães e gatos são seres que vieram ao mundo abençoados, para serem felizes. “Eles são seres sencientes, têm capacidade de perceber todo o ambiente externo, e sofrem quando este torna-se hostil. Isso quer dizer que eles passam fome, frio e sentem medo quando são maltratados. Mas não sofrem por antecedência”.
Segundo Pagani, os humanos é que sofrem por antecedência. “Por isso, quando a gente fala de um problema ortopédico, limitante, algo que vai mudar a realidade da pessoa, começa o sofrimento. Ela pensa: ‘agora vou precisar fazer uma cirurgia, vai ficar uma cicatriz, não poderei mais ir à praia’, e assim por diante. Quer dizer, o ser humano já carrega uma série de sentimentos negativos que trazem esse sofrimento. Nos animais isso não acontece”, explica.
Como os animais não têm esse tipo de consciência, não sofrem por antecedência. “Quando os pets passam por algum trauma, como uma cirurgia de amputação ou ficam paraplégicos por alguma fatalidade, eles não têm o luto da perda daquele membro, da sua função. Já o ser humano sofre muito porque ele tem consciência de que sua vida vai mudar, abala o seu psicológico, e ele só consegue ir para a fase de recuperação e adaptação depois que esse luto é vencido. Os animais não passam por essa fase, se eles não tiverem sentindo dor vão direto para a fase da recuperação e adaptação. Afinal, foram programados para serem felizes”.
Então, diz Pagani, dar qualidade de vida a animais que passam por alguma dessas situações não é difícil. “O tutor não precisa abandonar o pet, porque vai tirar de letra esse momento, a relação de amor será fortalecida ainda mais, e a gratidão do seu amigo vai estar estampada em cada olhar”, lembra.
Fisioterapia e acupuntura são essenciais
Larissa Boechat Peisino, especialista em fisioterapia veterinária, acrescenta algumas questões que envolvem os cuidados necessários a animais paraplégicos. “Alguns têm controle de urina e outros, não. Por isso, precisam usar fraldas. É necessário também que tenham acompanhamento de fisioterapia e acupuntura, porque na medida que eles se arrastam ou andam na cadeirinha acontece uma sobrecarga dos membros torácicos e é necessário fazer a manutenção da musculatura e controlar a dor. Com o tratamento, alguns têm chance até de voltar a andar. Claro, cada caso é um”.
Segundo ela, também é importante ficar alerta ao piso da casa onde o pet vive. “Não pode ser muito liso, porque correm o risco de escorregar, e nem muito grosso porque podem machucar as suas patinhas. Uma boa dica são os tatames emborrachados. Muitos tutores fazem uso de meias e luvas de proteção para evitar machucar os membros que são arrastados. Outra coisa é na hora do uso da cadeirinha. Esse momento precisa ser monitorado sempre no peitoral, não dá pra deixá-lo livre, pois podem ocorrer acidentes graves”.
Também é importante observar o peso desse animal, porque o gasto de energia é menor e ele pode se tornar obeso. “E a obesidade num pet paraplégico é muito mais prejudicial”.
É bom lembrar que não são todos que vão usar fraldas, porque alguns, ao invés de incontinência urinária, têm retenção, então o tutor aprende a fazer a compressão da bexiga e isso facilita a determinação dos horários. “Lembrando que esses pets têm mais possibilidades de ter cistite e como eles têm perda de sensibilidade fica mais difícil perceber um desconforto. É preciso prestar atenção à coloração e ao odor da urina. A retenção fecal também pode ser um problema no início, mas depois fica normal”.
O mais importante, diz Larissa, é que existem muitas terapias indicadas para animais nessas condições. “Os tratamentos aliados a uma boa dose de amor é a dupla perfeita para o pet superar a situação e levar uma vida normal ao lado de seu tutor”.
Com três patas, mas a todo vapor
Outro pet que também vive muito bem após amputar uma das patas é o gatinho Kira. Sua “mãe”, a farmacêutica Thaise Simões Fantin, conta que quando ele foi resgatado já vivia sem uma parte da pata direita traseira, tinha só um “toquinho”. “Não foi uma fase fácil, ele esbarrava nas coisas, se machucava, e chorava de dor”.
Diante desse quadro, Thaise procurou o doutor Fabrício e ele disse que a solução seria fazer uma amputação alta da pata. “Foi muito difícil aceitar, tive que trabalhar meu psicológico, mas ele me convenceu dizendo que o Kira, do jeito que estava, já vivia só com três patas. E foi realmente a melhor solução. Em poucos dias ele já estava andando normalmente, já não esbarrava nas coisas, não se machucava, não sangrava”, explica.
E a falta da patinha não atrapalha em nada, conta Thaise. “Ele sobe em tudo, na janela, na cama, no armário... Corre por todos os cantos, não preciso ter nenhum cuidado especial com ele, que seja diferente da minha outra gatinha. São minhas duas paixões”.
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