Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi", na Netflix, é imperdível

Disponível na Netflix, "100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi" tem apocalipse zumbi e jovem feliz da vida por não precisar mais trabalhar

Vitória
Publicado em 01/08/2023 às 19h17
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Série "100 Coisas para Fazer Antes de Virar um Zumbi", lançada pela Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

A Netflix adotou uma estratégia no mínimo questionável para lançar “100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi” (“Zom 100: Bucket List of the Dead”). O mangá homônimo de Haro Aso e Kotaro Takata ganhará não uma, mas duas adaptações para a plataforma, uma em versão anime e outra, em live-action. A primeira, com episódios semanais e originalmente produzida, foi lançada no início de julho (e está disponível também no Crunchyroll), enquanto o filme chega dia 3 de agosto. Pode até ser que funcione e potencialize o interesse em abos, mas é confuso principalmente considerando que um terço da série estará disponível quando o filme for lançado, ou seja, o consumo de um talvez atrapalhe o consumo do outro. Mas tudo é especulação.

Em sua versão anime, “100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi” é sensacional, um dos grandes lançamentos de 2023. A série acompanha Akira (Shuichiro Umeda), um jovem de 24 anos e consumido pelo trabalho. Quando o conhecemos, em seu primeiro dia na empresa, Akira está empolgado – sempre foi seu sonho trabalhar em uma agência de publicidade. Animado, o jovem acha graça ao ver seus colegas competindo sobre estar a mais tempo sem dormir ou disputando quem tem mais horas extras não pagas, afinal, a agência tem um ambiente ótimo.

Em uma rápida passagem de tempo, Akira deixa de ser o jovem empolgado e se torna o funcionário que se pergunta “por que continuo trabalhando aqui?” antes de se justificar com frases como “existem empresas piores” ou “se eu sair, meus colegas terão que trabalhar ainda mais”. Ele não tem vida social, a mulher por quem é apaixonado (da empresa, claro) não lhe dá atenção e os amigos viraram lembrança de um passado distante. Um dia, quando um apocalipse zumbi ganha as ruas de Tóquio, Akira se torna a pessoa mais feliz do mundo, pois não terá que trabalhar no dia seguinte.

Ele então faz uma lista de 100 coisas que gostaria de fazer antes de inevitavelmente virar um zumbi, mesmo que a lista inicialmente não chegue aos 40 itens. A partir daí, Akira só se preocupa em curtir seus dias sem trabalho com cerveja, jogos em TVs gigantes e, quem sabe, até uma aeromoça.

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Série "100 Coisas para Fazer Antes de Virar um Zumbi", lançada pela Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

“100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi” é esteticamente interessante desde o início, antes do caos. As cenas iniciais, com Akira na empresa, são granuladas, com pouquíssimas cores, mais ou menos como o protagonista via a vida. Quando os zumbis dominam a cidade, Akira ganha um sorriso gigante e seu mundo ganha cores vivas em pinturas às vezes meio abstratas, quase experimentais.

A série se desenvolve a partir dos itens da lista, com alguns sendo riscados em cada um dos doze episódios de 20 minutos em que o caminho de Akira se cruza com o de outros personagens com visões diferentes do mundo. Os episódios são muito ágeis e divertidos, com um texto cheio de boas piadas, aventura e até um pouco de terror. É bom deixar claro que “100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi” não é uma série infantil (classificação etária de 16 anos) e, por isso, há violência, um pouco de sexo não explícito e muito gore, afinal, é uma história de zumbis.

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Série "100 Coisas para Fazer Antes de Virar um Zumbi", lançada pela Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

É muito interessante como a série busca uma direção totalmente contrária a de outras histórias de zumbis, uma estratégia interessante para fugir do clima “sombrio” de obras como “The Walking Dead” e seus derivados. Neste ponto, o anime até lembra o jogo “Sunset Overdrive”, lançado com pouco destaque para Xbox One, na pegada pop e nas aventuras curtas, como se fossem missões que se completam em um arco maior.

Ao introduzir personagens novos, a série introduz também possibilidades, pois nunca se sabe se aquela pessoa, por mais interessante que pareça, vai sobreviver até o fim do episódio. Há personagens recorrentes, como Kencho, o melhor amigo do tempo de universidade, e outros que aparecem aqui ou acolá, mas a sensação de que tudo pode acontecer com eles é o que cria a tensão de “100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi”. Assim, o espectador se lembra que, mesmo que Akira esteja feliz e curtindo a vida, ele está vivendo um apocalipse zumbi.

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Série "100 Coisas para Fazer Antes de Virar um Zumbi", lançada pela Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

O aspecto gráfico é tão essencial à série e tão difícil de ser reproduzido em um live action que a Netflix corre o risco de ver uma produção sua (o filme) sendo ofuscada por uma que licenciou de outras produtoras (a série). De qualquer form, inteligente, divertida e visualmente espetacular, “100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi” é um respiro em um gênero desgastado e uma das séries mais legais de 2023.

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