Antes de mais nada, é importante ressaltar uma coisa: o filme “A Bailarina”, lançado hoje pela Netflix e tema deste texto, nada tem a ver com o filme homônimo a ser lançado ano que vem, estrelado por Ana de Armas e parte do universo de “John Wick”. Dirigido e escrito por Lee Chung-hyun (do razoável “A Ligação”, também da Netflix), o filme até tem a ação e o estilo da saga protagonizada por Keanu Reeves, mas a maior influência aqui é outra…
Curto e direto, “A Bailarina” acompanha Ok-ju (Jun Jong-seo) em uma jornada de vingança. O filme tem início com um assalto a uma loja de conveniências, momento em que conhecemos a protagonista. Sem se importar com a ameaça, Ok-ju tentar realizar uma compra e acaba em uma grande briga com os assaltantes que logo percebem não ter chances contra ela.
Ok-ju é uma ex-guarda-costas que optou por uma vida pacata, mas tudo muda quando ela recebe uma ligação para encontrar Min-hee (Park Yu-rim), sua melhor amiga. Chegando na casa de Min-hee, ela encontra o corpo da amiga na banheira, um par de sapatilhas de balé e um bilhete simples: “se vingue por mim”. Não demora e Ok-ju descobre que Min-hee era vítima de uma organização que ameaçava expor vídeos de sexuais de suas “escravas”, como eles denominam. Dá-se início, assim, a uma busca pelos chefes da organização e pelos responsáveis pela morte de Min-hee.
“A Bailarina” está muito mais para “Drive” (2011) ou as obras mais pop de Nicolas Winding Refn, do que para “John Wick”. O filme opta por uma narrativa silenciosa, com poucos diálogos – uma boa escolha quando percebemos que os diálogos do filme são constrangedores, frases como “sei que matamos mulheres e traficamos drogas, mas há uma tradição, uma honra a ser mantida” são proferidas sem nenhum pudor.
O filme também busca referências estéticas no cinema de Winding Refn, com muita luz neon e uma trilha sonora de eletro pop para criar o clima. Da mesma forma, a protagonista fala pouquíssimo durante sua jornada de vingança. “A Bailarina” se preocupa com o estilo, com enquadramentos perfeitos e iluminação impecável; é curioso, assim, que as cenas de ação não estejam a altura dos quadros mais “estáticos”.
Na maior parte do tempo, Lee Chung-hyun opta por cortes rápidos e às vezes incompreensíveis que eliminam qualquer senso de fluidez nas cenas. O mais interessante é que em certo momento, no terceiro ato, o filme brevemente opta por cortes mais longos e uma ação muito criativa, com boa coreografia e ótimo jogo de câmera (mas logo volta ao “normal”). Ou seja, Chung-hyun sabe criar essas cenas, mas opta por não utilizá-las, talvez por falta de tempo de filmagem (cenas longas tomam mais tempo), ou talvez por preferência mesmo, só o diretor pode dizer.
“A Bailarina” funciona quase como um conto, um quadrinho pulp que se preocupa apenas com a diversão breve, e não em estabelecer um universo. Em cerca de 90 minutos, o filme não estabelece relacionamentos ou motivações – nem mesmo a relação da protagonista com Min-hee, que motiva a vingança, tem um vínculo tão forte quanto o texto sugere. É mais uma escolha de Chung-hyun que o aproxima do cinema de Winding Refn, mas não necessariamente uma boa escolha. Sem que o espectador crie uma relação com Ok-ju, tudo o que resta é acompanhá-la e torcer por ela porque os antagonistas traficam drogas e mulheres, ou seja, são o pior tipo de pessoas do mundo. É o suficiente para um conto, para uma HQ, mas o é para um filme?
Como o filme de ação que se propõe superficialmente a ser, “A Bailarina” da Netflix é eficiente, com boas sequências, imagens esteticamente interessantes e oferecendo um entretenimento curto e direto. Para o espectador que busca algo além de algumas boas sequências de tiros e brigas, o filme talvez não funciona. Ainda assim, como toda boa obra de vingança que se preze, “A Bailarina” é um filme extremamente recompensador, apesar de frio, distante do público.
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