Lançado em 2018 pela Netflix adaptando para as telas o livro “A Barraca do Beijo”, de Beth Reekles, o filme homônimo se tornou merecidamente um sucesso na plataforma. É fácil entender a identificação do público com Elle (Joey King), uma jovem inteligente e divertida que sempre passou despercebida por todos na escola, mas acaba se envolvendo com Noah (Jacob Elordi), o bonitão popular que é uma espécie de irmão mais velho para ela.
O filme também trabalha bem a questão da amizade entre Elle e Lee (Joel Courtney) - amigos desde a infância e criados praticamente como irmãos, os dois são inseparáveis e, em outros tempos, teriam sua relação inevitavelmente caminhando para um romance, o que seria, inclusive, o grande conflito do roteiro.
Apesar de a narração em off de Elle conferir à narrativa um ar mais adulto, uma coisa meio “Sex and The City”, “Barraca do Beijo”, ao contrário de seus pares, não impõe a seus personagens comportamentos que não condizem com a idade, pelo contrário, às vezes o espectador se pergunta se aquele comportamento não é bobo demais para jovens entre 16 e 18 anos. Ajuda, claro, percebermos que toda a trama se passa em uma Califórnia branca e rica - aquelas pessoas têm pouquíssimas preocupações na vida além de quem irão beijar na próxima festa ou com quem irão aos tradicionais bailes dos colégios americanos. Como disse no primeiro parágrafo, um filme de fácil identificação talvez não com a realidade do público, mas com a realidade que ele queria ter.
“A Barraca do Beijo 2”, lançado na última sexta-feira (24) pela Netflix, repete tudo o que deu certo no primeiro filme, mas não consegue oferecer a seu público um ar de novidade. A trama dá sequência direta à do filme original, com Elle lidando com a ida de Noah para Harvard e Lee às voltas com seu namoro com Rachel (Meganne Young).
No último ano do colegial, os amigos agora se preocupam em conseguir vagas em boas universidades, mas Elle está dividida: ir para Berkeley, um sonho de infância ao lado de Lee, ou tentar uma vaga na distante Harvard para ficar perto de Noah? Em meio a tudo isso ainda surge Marco (Taylor Zakhar Perez), um novato que se apaixona por Elle e faz balançar o coração da jovem, sofrendo com um relacionamento a distância.
O filme, novamente sob o comando do diretor Vince Marcello, sofre para causar no espectador o mesmo encanto de seu antecessor - a história de princesa de Elle era interessante no primeiro filme, tentar repeti-la com Marco não causa o mesmo efeito. É nas repetições, inclusive, que o filme se perde, pois a maior parte dos arcos apenas replica arcos do primeiro filme. Quando o roteiro tenta apresentar novidades, como a competição de dança, o faz com pouco foco. Isso não significa que o filme seja ruim, apenas que tem medo de arriscar.
O roteiro de “A Barraca do Beijo 2” tenta responder algumas críticas recebidas pelo primeiro filme sobre a falta da representatividade de gênero e racial. Marco, por exemplo, ganha destaque como um latino e até canta em espanhol - a Califórnia, afinal, era parte do México antes de ser integrada aos EUA. Ao mesmo tempo, o texto tenta dar alguma importância a um relacionamento gay, mas ele acaba se transformando em uma piada recorrente; de qualquer forma, o filme e seus personagens não ridicularizam comportamentos sociais, uma característica bem legal que vem desde o filme de 2018.
Como tem sido tendência em comédias românticas atuais como “Você Nem Imagina”, também da Netflix, “A Barraca do Beijo 2” não vilaniza personagem algum e faz um trabalho sutil e eficaz ao falar de escolhas e igualdade - não há certo ou errado nos relacionamentos, apenas visões diferentes ou falta de comunicação, por exemplo.
O diretor Vince Marcello compensa sua falta de experiência fazendo mostrando influências de quem entende do estilo que ele reproduz. Os dois “A Barraca do Beijo” são cheios de referências ao cinema do saudoso John Hughes (1950 - 2009) - de personagens se vestindo exatamente como os protagonistas de “O Clube dos Cinco” (1985) à presença de Molly Ringwald no elenco, passando ainda pela música “Don´t You Forget About Me”, do Simple Minds.
Ao final, o filme não tem o encanto do primeiro, mas tem méritos ao não impor aos adolescentes comportamentos que não condizem com a idade dos personagens. É também interessante notar como as novas comédias falam de diferenças sem torná-las conflito. Durante seus longos 130 minutos, “A Barraca do Beijo 2” se mostra um bom filme adolescente sobre amores, amizade e amadurecimento que talvez não agrade a todos, mas que dialoga com seu público alvo com eficiência.
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