Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"A Imperatriz", da Netflix, é ótima ao tornar pop um drama histórico

Série alemã da Netflix, "A Imperatriz" toma liberdades criativas para contar a história da imperatriz austríaca Elisabeth da Baviera com pegada pop na medida certa

Vitória
Publicado em 04/10/2022 às 15h59
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Série "A Imperatriz", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

A história do romance entre Elizabeth da Baviera, Imperatriz da Áustria, e o imperador Franz Joseph I já foi contada diversas vezes em séries e filmes para a televisão austríaca. A principal versão é a trilogia de filmes dirigida por Ernst Marischka, com Romy Schneider no papel da protagonista. Poucas vezes, no entanto, essa história ganhou ares pop e distribuição global. “A Imperatriz”, da Netflix, tem esse potencial.

Em seis episódios de uma hora, a série criada por Katharina Eyssen acompanha o início do relacionamento de Elisabeth “Sissi” von Wittelsbach (Devrim Lingnau) e o imperador austríaco Franz Joseph (Philip Froissant) - a série traduz o nome de Franz para Francisco, mas Elisabeth não vira Isabel, como é conhecida por aqui em alguns livros de história. Conhecemos a protagonista aos 16 anos como uma jovem impulsiva e rebelde que repele todos os possíveis noivos. “Quero um homem que satisfaça a alma, não qualquer um”, diz Elisabeth.

Pouco depois somos levados a conhecer Franz, um jovem imperador que busca novas práticas para o império com uma visão mais social. O progressismo do imperador esbarra no conservadorismo e na sede de poder de sua mãe, a arquiduquesa Sophie (Melika Foroutan), que deseja casá-lo com alguma mulher nobre para fortalecer o Império com alianças. A ideia inicial é casar o imperador com Helene (Elisa Schlott), irmã de Elisabeth, uma jovem comportada e devidamente preparada para ser parte da realeza austríaca. Obviamente as coisas não saem como o planejado e Elisabeth e Franz se apaixonam e se casam.

O roteiro de “A Imperatriz” é esperto ao dialogar com o que se produz de conteúdo de época hoje. Assim, é fácil identificar referências de obras como “Bridgerton” e até acenos a “The Crown”. O texto se sustenta nos fatos e em acontecimentos históricos, mas se esforça para tornar tudo mais pop e pronto para o consumo contemporâneo. Para isso, ignora diversos pontos do relacionamento do casal de protagonistas e transforma aspectos da vida na realeza, com os quais Elisabeth sofria, em peculiaridades.

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Série "A Imperatriz", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

O resultado é uma série redonda e em busca de novas camadas para arcos e personagens. A presença constante do charmoso arque duque Maximilian (Johannes Nussbaum), irmão do imperador, serve ao texto como contraponto à rigidez de Sophie e ao esforço de Franz para seguir as regras. Sophie também ganha uma humanização com arco que traz à série uma discussão sobre relacionamentos por conveniência - enquanto Elisabeth e Franz se casaram “por amor”, todos os outros relacionamentos são mostrados como parte do jogo político.

“A Imperatriz” busca tramas além do relacionamento entre Elisabeth e Franz, como as tensões crescentes entre Áustria e Rússia e a ameaça de o império austríaco se envolver do lado errado de um grande conflito. Há também liberdades históricas do relacionamento do casal, de costumes e de alguns conflitos, mas nada que comprometa.

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Série "A Imperatriz", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

A série ainda constrói uma trama de revolução popular, com um grupo “terrorista” se infiltrando na corte austríaca para matar o imperador, e desenvolve uma ameaça de golpe de Estado contra Franz. É curioso como ambas, um tanto subdesenvolvidas, funcionam para reforçar a força de Elisabeth como uma pessoa popular e carismática. Leontine von Apafi (Almila Bagriacik), a revolucionária infiltrada entre as companhias de Elisabeth, passa a ver a corte com outros olhos muito em função da nova imperatriz - a possível revolução deve ser o centro de uma possível segunda temporada.

“A Imperatriz” é visualmente ótima, com alto nível de produção, passando por palácios e salões suntuosos. Vale destacar também o figurino da série, que ajuda a construir os personagens. Os vestidos da nobreza são ricos em detalhes, mas as vestimentas masculinas também são coloridas e reforçam a vaidade dos membros da corte.

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Série "A Imperatriz", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Devrim Lingnau é uma ótima protagonista e alterna bem entre o drama da corte e o espírito livre de Elisabeth, reforçando “A Imperatriz” como uma ótima surpresa. A série mistura fatos e personagens históricos a elementos de ficção para criar um drama pop e de fácil consumo, uma obra inteligente ao introduzir na primeira temporada tramas que poderão ser desenvolvidos em novos episódios de maneira natural.

“A Imperatriz” não é tão “sensual” como “Bridgerton”, mas tem seus momentos; da mesma forma, tampouco é tão formal quanto outros dramas de época. É justamente nesse encontro de referências e linguagens que a série conquista seu espaço em uma plataforma disputada.

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