Lançada em 2015, “Critical Role” é um fenômeno curioso. A série, inicialmente transmitida ao vivo, o prática interrompida com a pandemia, consiste em um grupo de amigos dubladores profissionais jogando “Dungeons & Dragons”. Em 2019, os fãs da série iniciaram um financiamento coletivo para a realização de um curta de 22 minutos baseado no arco inicial da série, “Vox Machina”.
A ideia era juntar US$ 75 mil dólares (cerca de R$ 395 mil), mas, ao fim dos 45 dias de arrecadação, mais de US$ 11 milhões (quase R$ 58 milhões) haviam sido arrecadados. A ideia do curta virou uma série que chega agora ao Amazon Prime Video como “A Lenda de Vox Machina” e a que todos os fãs de RPG e/ou animações adultas deveriam estar assistindo.
Entendendo que a força de “Critical Role” sempre foi a química e a interação entre amigos, os três episódios iniciais (com novos três sendo lançados semanalmente), a série não se preocupa em apresentar os personagens ou o universo de Exandria de cara. Ao invés disso, quando conhecemos o Vox Machina, eles já são um grupo de mercenários beberrões de caráter duvidoso e que nem sempre se dão muito bem. Desesperados por um trabalho, eles acabam aceitando um contrato praticamente suicida que os leva até Tal’Dorei (a “capital”).
“A Lenda de Vox Machina” não desperdiça tempo algum com introduções. Após a breve apresentação de universo, o grupo já parte para enfrentar a temível criatura que ameaça o reino e já dizimou vários grupos de mercenários. Todo contexto remete a jogos de RPG ou a séries, filmes e livros de fantasia, mas há algo diferente na nova série da Amazon - o texto é atual, com diversas referências contemporâneas que se tornam um elo entre o espectador o grupo, principalmente nas canções de Scanlan (Sam Riegel).
O roteiro entende a necessidade que tem de funcionar para quem não faz ideia do que é “Critical Role” e deixa tudo bem simples - os dois primeiros episódios, uma história inexistente no material original, deixa isso claro. Todas as dinâmicas são explicadas quando necessárias, assim como os poderes e habilidades de cada personagem, mas a exposição nunca é gratuita, sempre presente em função do texto, mas nunca como uma muleta dele.
É muito interessante como “A Lenda de Vox Machina”, a série, mantém o clima de “Critical Role”, com os mesmos dubladores e uma química incrível nos diálogos, sempre executados com um tempo perfeito e de forma natural.
É lá pelo terceiro episódio, quando já conhecemos pelo menos um pouco do grupo, que o roteiro apresenta seu verdadeiro conflito; é neste momento também que conhecemos mais sobre Percy (Taliesin Jaffe), suas motivações e seus traumas. Ao apresentar o casal Briarwood logo de cara, “A Lenda de Vox Machina” adapta um dos mais populares arcos de “Critical Role” e tem material de sobra para esticá-lo até ao menos até a já confirmada segunda temporada.
Em meio a toda ação e fantasia, “A Lenda de Vox Machina” é uma reunião de jornadas pessoais, de cicatrizes, amizades, amores e superação. Mesmo com um escopo mais amplo, a série esconde diversos easter-eggs, piadas internas e referências para quem acompanhou as muitas horas de “Critical Role”
O Vox Machina tem um grupo variado de heróis (ou anti-heróis, se preferir), da força bruta de Grog (Travis Willingham) à elegância de Vex’halia (Laura Bailey) e Vax’ildan (Liam O'Brien), com destaque também para a timidez de Pike (Ashley Johnson) e a insegurança de Keyleth (Marisha Ray), cada um com suas histórias próprias que serão desenvolvidas em algum momento da série.
“A Lenda de Vox Machina” tem narrativa ágil, com bom texto e episódios curtos, além de uma animação aparentemente simples, mas cheia de detalhes nas construções de personagens e ambientes. Fã ou não de RPG, conhecedor ou não de “Critical Role”, a série deve conquistar os fãs de animações adultas pelo seu tom absurdo de humor, ótimos personagens e diálogos interessantes e quase nunca previsíveis.
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