Logo nas primeiras cenas de “A Lição”, dorama coreano da Netflix, vemos Moon Dong-Eun (Song Hye-Kyo) com o corpo todo marcado em uma imagem em que também podemos ver fotos dos ex-colegas de escola. A imagem é forte e dá o tom da série, uma jornada de vingança embalada por cicatrizes - cada uma daquelas marcas funciona como motivação para seu elaborado plano de acerto de contas.
A primeira parte da série, lançada no início de 2023, trazia a apresentação dos planos da protagonista e a origem de tudo. Em flashbacks, Moon era mostrada adolescente, com problemas familiares e na escola, onde era vítima de jovens “cidadãos de bem” ricos, conferindo à série também uma narrativa “eat the rich”. As cenas ambientadas em 2004 são violentas e cruéis - principalmente nos primeiros episódios -, o que funciona para a protagonista trazer o espectador para o seu lado, para que entendamos toda a dor dela, principalmente quando seus agressores viveram normalmente suas vidas.
Na linha principal, a vimos se reaproximar desses antigos colegas, muitos que nem sequer se lembravam dela ou sentiam algum tipo de culpa pelo que a faziam. “Vinganças devem ser sujas e criativas”, pondera Moon enquanto acompanhamos seu processo e conhecemos sua “equipe” de pessoas também marcadas.
Enquanto os primeiros oito episódios gastavam tempo necessário na construção daquele universo, apresentando personagens e motivações, a segunda parte, recém-lançada pela plataforma, traz o desenvolvimento e a conclusão da história com violência e acontecimentos ainda mais impactantes.
Logo nos primeiros momentos da segunda parte, Moon Dong-eun revela segredos que podem destruir a vida de seus alvos. “A Lição” é interessante por aproveitar bem seu tempo também para desenvolver os antagonistas - o texto dá arcos e camadas à vilanesca Yeon-Jin (Lim Ji-yeon), ao religioso Sa-ra (Kim Hieora), ao herdeiro Jae-jun (Park Sung-hoon), ao ambicioso Hye-jeong (Cha Joo-young) e ao arrogante Kim Gun-woo (Myeong-o), elevando-os a um nível além da caricatura.
Os alvos da vingança da Moon têm personalidade, famílias e relações até complexas entre si, tornando ainda mais prazeroso ver a protagonista revelando segredos de uns para os outros e expondo todo o mal que já fizeram até mesmo aos “amigos”. É ótimo como o texto relaciona cada um deles com um dos traumas de Dong-eun, mesmo que não exista uma relação direta, para dar ainda mais peso ao arco principal.
“A Lição” é mais pesada e séria do que boa parte dos k-drama recentes da Netflix, mas também dialoga com a estética das séries pop produzidas na Coreia do Sul. Com ótima fotografia, sempre reforçando a diferença de classes, a minissérie mistura melodrama, histórias paralelas que se cruzam ao fim e algumas boas surpresas para criar sua identidade. Mesmo arcos que inicialmente parecem deslocados acabam ganhando importância ao se conectar à jornada de Moon Dong-eun ou para explorar mais algum outro personagem, como acontece com o médico Yeo-jeong (Lee Do-hyun).
Nunca desinteressante, e sempre tensa, “A Lição” talvez seja um dos melhores doramas recentes da Netflix. Mesmo com uma narrativa confortável, a série surpreende o tempo todo com revelações e viradas que fazem sentido e se encaixam com o todo, muito diferente do que acontece, por exemplo, com a mexicana “Três Vidas”. A série tem produção com nível de cinema, roteiro preciso e boas atuações para transformar a boa trama de vingança em algo capaz de mexer com o espectador e recompensá-lo ao final dos 16 episódios.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.