“A Lista Terminal”, série original Amazon Prime Video, é um produto que mostra a força das séries atualmente. Há poucos anos seria impensável lançá-a da mesma forma, com produção de nível de cinema e principalmente com um grande astro como protagonista; um ator, inclusive, atualmente em cartaz com um dos grandes blockbusters da temporada, o fraco “Jurassic World: Domínio”.
Em oito episódios, “A Lista Terminal” adapta o livro homônimo de Jack Carr, um ex-fuzileiro naval americano que serviu como sniper por mais de 20 anos e se tornou escritor ao se aposentar. Desde então, ele já lançou cinco livros, todos em torno de James Reece, o personagem de Chris Pratt na série da Amazon.
Na série, Reece é o comandante de um batalhão dizimado após um conflito na Síria. De volta aos EUA, ele está longe de seu melhor estado mental, lidando com os efeitos de uma forte concussão sofrida e com transtorno de estresse pós-traumático. O primeiro episódio traz Reece tentando retomando a vida, se sustentando em sua família enquanto ainda sofre com o luto pela perda dos amigos.
O texto é muito eficiente em introduzir seu protagonista como um narrador pouco confiável - suas memórias são confusas e não condizem sequer com o que vemos em tela. Colocar a sanidade de Reece em dúvida é essencial para que “A Lista Terminal” engrene inicialmente como o violento thriller que é, pois vamos acompanhando a vingança do personagem com uma dose de ceticismo, duvidando de seus atos e às vezes até os considerando exagerados para a situação.
Esse clima se estende pelos dois primeiros episódios, mas a trama ganha contornos mais políticos a partir do quarto, principalmente quando Reece se alia à jornalista Katie (Constance Wu) e uma complexa conspiração ganha o tempo antes dedicado à paranoia do protagonista. É quando essa trama ganha força que a série dá uma desacelerada, abusa da repetição para reforçar aspectos já compreendidos pelo espectador e mostra que talvez funcionasse melhor em menos episódios, mas nada que comprometa o resultado.
“A Lista Terminal” mostra um direcionamento da Amazon após o sucesso de séries como “Jack Ryan”, “Bosch” e “Reacher”, todas adaptadas de obras literárias de alguma semelhança e que atingem um nicho mais adulto, grupo para o qual a principal plataforma concorrente, a Netflix, não dá tanta bola. Assim, a série estrelada por Chris Pratt segue não apenas a fórmula dos livros de Jack Carr, mas também a estrutura das obras desse nicho, com um clima de perigo constante, e a narrativa de um homem em busca de vingança contra grandes conspirações. O diferencial é que “A Lista Terminal” é mais violenta e gráfica do que seus pares - é também uma série intencionalmente mais sisuda.
Chris Pratt, ator oriundo das comédias e com bom tempo de humor, dá vida a um James Reece justificadamente sempre tenso, o que confere a “A Lista Terminal” seu ar de violento thriller político. É interessante como o protagonista passa do limite em diversos momentos, tornando-se, assim, um personagem relativamente mais complexo. O resto do elenco tem bons nomes como Jai Courtney, Jeanne Trupplehorn e Taylor Kitsch, todos devidamente cumprindo seus papéis na trama.
Quando aposta na ação, a série é ótima. Ao retomar uma narrativa mais agitada depois de um arco melodramático, lá pelo final do quinto episódio, “A Lista Terminal” atinge seu ápice - é também quando percebemos que ela é longa demais. Em um arco que lembra bastante o primeiro “Rambo” (um filmaço!), a nova série da Amazon volta a se repetir e deixa a sensação de que poderia se encerrar no sexto episódio (ou capítulo, como a série se refere).
Esteticamente, a série tem a assinatura de Antoine Fuqua (“Dia de Treinamento”), seu produtor executivo, com uma ação crua e realista, um lugar seguro para os produtos do cineasta. Há pouca ousadia narrativa ou estética, mas esse lugar seguro gera um conforto imediato, uma identificação com o público que não se verá desafiado pela série, mas sairá satisfeito com o que viu.
“A Lista Terminal” é excelente quando acerta, com um clima tensão constante e um roteiro bem amarrado, mas também é enfadonha em arcos muito mais longos do que o necessário. Mesmo assim, o roteiro faz bom proveito da duração excessiva da série para desenvolver personagens e se esforça para se aproximar do espectador. Fica a impressão de que poderia ir além, mas o saldo é positivo - é uma série que leva uma pegada cinematográfica para a Amazon Prime vídeo, com ótima ação, boas atuações e um texto que faz bom uso de suas viradas. Não é incrível, mas é muito superior à boa parte das séries e dos filmes do gênero.
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