Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"A Mãe do Ano", da Netflix, tem ótima ação e nada além disso

Em busca de cenas de ação criativas e estilosas? "A Mãe do Ano" é uma ótima pedida. Para qualquer coisa além disso, porém, o filme da Netflix é totalmente esquecível

Vitória
Publicado em 24/05/2023 às 20h15
Filme
Filme "A Mãe do Ano", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Tudo bem que o cinema de ação nunca prezou muito pela originalidade do roteiro, mas “A Mãe do Ano”, lançado pela Netflix nesta quarta (24), menos de duas semanas depois do lançamento do sucesso “A Mãe”, com Jennifer Lopez, escancara a falta de criatividade. A premissa do filme polonês é praticamente idêntica à do filme estrelado por J-Lo, apenas com óbvias mudanças de cenário e com ambientação muito menos grandiosa.

O filme de Mateusz Rakowicz (do bom “O Rei das Fugas”, também na Netflix) é centrado em Nina (Agnieszka Grochowska), uma ex-agente das forças especiais polonesas que hoje passa os dias sozinha. A conhecemos quando ela compra cerveja, no dia das mães, e logo se envolve em uma confusão na qual bate em alguns homens com símbolos neonazistas. Percebemos, ali, que ela gosta daquilo tudo, num mix de autodestruição e diversão, é o que a mantém viva. Pouco depois, descobrimos que ela tem um filho, Maks, que vive com outra família – para a segurança da criança, Nina foi dada como morta pouco depois de seu nascimento.

Maks, porém, é misteriosamente sequestrado pelos capangas de um magnata russo, que obviamente se tornam alvo de Nina. Há algo estranho por trás do ocorrido, mas a protagonista só quer saber mesmo é de encontrar seu filho e devolvê-lo em segurança aos pais adotivos, além, claro, de passar algum tempo com ele.

“A Mãe do Ano” é um filme de ação e deixa isso claro desde a primeira sequência. O filme tenta se aproximar bastante da estética e do estilo narrativo do diretor Nicolas Winding Refn, principalmente de seus filmes até “Drive” (principalmente a trilogia "Pusher"). Os personagens falam pouco, há bastante silêncio, os vilões são um tanto exagerados e as lutas normalmente acontecem em ambientes à meia-luz. Rakowicz, no entanto, não tem o talento narrativo de Refn, estruturando seu filme como um jogo, com “fases” bem definidas e cada uma delas com seu devido chefe. Fica clara também a influência de histórias de quadrinhos, principalmente quando o texto se aproxima de uma ação mais fantasiosa – é quase possível ver o storyboard de determinadas sequências.

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Filme "A Mãe do Ano", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

As lutas não são brilhantes, mas deve-se ressaltar que o padrão de comparação subiu demais nos últimos anos com obras como “John Wick” e uma nova popularização do cinema asiático de ação. É possível ver uma boa vontade e algumas ideias interessantes, como o uso de takes longos e até de um plano-sequência, além de um estilo criativo para algumas cenas, principalmente na utilização do ambiente, mas falta urgência e força aos combates. Ainda assim, Rakowicz tem o mérito de tornar cada sequência de ação ou de luta única, nunca se repetindo e sempre buscando alguma dose de novidade.

Enxuto e objetivo, com pouco mais de 90 minutos de duração, “A Mãe do Ano” prepara o cenário para possíveis continuações ou para uma expansão do universo além de Nina. O filme introduz personagens que até parecem ser interessantes, mas sobre os quais pouco sabemos. Assim, o policial amigo de Nina, o magnata russo e uma outra personagem de papel importante na trama servem apenas para cumprir suas funções e colocar a trama em movimento. Da mesma forma, o mais caricato dos vilões, um dos “chefes de fase”, causa impacto em sua apresentação, tem estilo quando vai pra ação, mas é apenas isso.

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Filme "A Mãe do Ano", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

“A Mãe do Ano” se garante nas muitas, variadas e estilosas cenas de ação, mas deixa a desejar na apresentação e no desenvolvimento de personagens, inclusive da protagonista, mas a atuação de Agnieszka Grochowska, numa mistura de confiança e cansaço, faz de Nina uma heroína interessante. Mesmo sem ser original, o filme tem boas influências e oferece uma hora e meia de diversão, sem se levar muito a sério. Como provocação, impressiona como um cineasta criativo cria cenas de ação menores, mas muito mais eficientes do que muitas das que permeiam o cinema de ação feito para as plataformas de streaming.

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