Quando encontramos Midge Maisel (Rachel Brosnahan) pela última vez, ela acabara de tomar um choque de realidade com o discurso de Lenny Bruce, em pleno Carnegie Hall, sobre ela ter dito não a uma turnê com Tony Bennett. O fim da quarta temporada coloca uma interrogação na cabeça de protagonista de “A Maravilhosa Sra. Maisel”, mas também na cabeça do público; será que um dia veremos a comediante como um grande sucesso ou suas escolhas atrapalharão sua carreira?
A quinta e última temporada da série, que chega nesta sexta (14) à Amazon Prime Video, com três episódios (e novos episódios toda sexta-feira), apresenta essa resposta logo de cara, mas nada na nova leva de episódios segue o formato com o qual nos acostumamos ao longo da série.
“A Maravilhosa Sra. Maisel” é retomada após os acontecimentos finais da temporada anterior, com as palavras de Lenny martelando na cabeça de Midge, que se recupera de uma grave hipotermia depois de caminhar sem rumo durante uma nevasca. O final da quarta temporada, com Midge em frente a um outdoor do The Gordon Ford Show dá dicas do projeto traçado por ela para não deixar a oportunidade passar - o grande questionamento agora é se ela conseguirá colocar seu plano em prática.
Nos novos episódios, vemos recortes de Midge e outros personagens no futuro. Esse recurso funciona por nos apresentar o destino final, podendo, assim, nos concentramos na jornada que os levará até lá. A série faz uma escolha arriscada, mas interessante, de explorar não só a protagonista, mas também vários personagens que orbitem em torno dela. Assim, conhecemos os destinos de Susie (Alex Borstein), Joel (Michael Zegen) e de todos os parentes de Midge.
É interessante como a dinâmica de “A Maravilhosa Sra. Maisel” é modificada nessa última temporada, conferindo à série um ar de contação de histórias que abre diversas possibilidades. O encerramento de alguns arcos dá aos episódios uma carga dramática até então pouco explorada pela série. A nova estrutura, e a ciência de estarmos nos aproximando do fim, dá aos episódios uma importância maior e a impressão de sempre estarmos diante de um fato relevante.
O texto recupera algumas histórias e possíveis conflitos que pareciam esquecidos pela série, como a relação de Susie com seus “investidores” mafiosos, um arco tratado com humor, mas que ganha novos contornos e importância na temporada final.
Há a impressão de que os episódios poderiam estar em outra ordem, mas a sequência acaba se justificando com o tempo. No meio da temporada, há um episódio de carga dramática mais forte, enquanto outros focam mais no humor. Essa característica reforça o aspecto de uma história contada e oferece ao espectador peças de um quebra-cabeças que vei se montando ao pouco, sem esforço do público, normalmente mais preocupado com as piadas e situações da série.
“A Maravilhosa Sra. Maisel” pode ser consumida de várias formas. É uma comédia familiar com ótimos personagens, é um recorte de uma alta sociedade nova-iorquina dos anos 1960, é uma história de uma mulher muito à frente de seu tempo, e, talvez por tudo isso, seja uma das séries mais legais dos últimos anos. A série se preocupa em construir seus personagens e conflitos sem muito julgamento de valor - Midge não é uma heroína perfeita, seus pais têm uma visão elitista do mundo, Joel não é o marido infiel construído como vilão e Susie é complexa do início ao fim, caminhando perigosamente sobre o limite ético de negócios.
É importante também ressaltar o fato de a série criada por Amy Sherman-Paladino entender o momento de seu fim. Após um início incrível e um bom desenvolvimento nas primeiras temporadas, a quarta já apresentou uma queda de qualidade que não a transformou em uma série ruim, mas a deixou menos encantadora. O cenário já estava apresentado e os personagens, desenvolvidos, tornando muito fácil a manutenção por anos de uma estrutura narrativa que se repetisse temporada após temporada.
O fim possibilita que a série se dedique à sua conclusão e chega no momento ideal para que sintamos saudades de “A Maravilhosa Sra. Maisel”. As escolhas e as mudanças talvez não agradem, o que é compreensível, mas o texto consegue colocar a história em movimento para chegar à conclusão imaginada por sua criadora ao mesmo tempo que foge da temida ameaça da repetição que já mostrava sua cara. Midge, Susie e cia. farão falta, mas talvez seja melhor assim.
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