A série de livros “A Roda do Tempo” é um sucesso que atravessa décadas. De 1990, data da publicação do primeiro livro, até 2013, James Oliver Rigney Jr. e Brandon Sanderson (amigo de Rigney Jr. que assumiu os livros após sua morte, em 2007) lançaram 14 livros criando um universo de fantasia gigante sob o pseudônimo de Robert Jordan. Assim, até demorou para uma tentativa séria de levar as histórias para as telas em mais um capítulo da saga para encontrar um novo “Game Of Thrones”.
Na ânsia de um novo sucesso do gênero, produtoras de conteúdo e mídia especializada apostam em obras totalmente diferentes entre si, como “Vikings” e “The Last Kingdom”, mais calcadas em acontecimentos históricos, ou “The Witcher”, “Cursed” e até “Foundation”, uma obra de ficção científica. Qualquer narrativa épica e com grandes ambições vira uma aposta momentânea.
Em 2016, Jeff Bezos, dono, fundador e então CEO da Amazon, ordenou que sua plataforma de streaming fosse em busca de um novo sucesso de fantasia medieval. Com a expectativa de fazer jus à importância dos livros e de se tornar a “Game of Thrones” de Jeff Bezos, “A Roda do Tempo” chegou ao Amazon Prime Video com três episódios (a temporada terá oito) que apresentam superficialmente o universo de fantasia criado por Oliver Rigney Jr. de forma eficaz e despertando o interesse do público para o que vem a seguir. A boa notícia é que uma segunda temporada já foi confirmada antes mesmo da estreia.
Vale informar aqui o fato de eu não ter lido os livros e, portanto, analisar a série como quem conhece a história pela primeira vez, sem me atentar às mudanças que sei que existem em comparação ao material original. Ao menos a princípio, “A Roda do Tempo” tem uma inevitável influência de “O Senhor dos Anéis” até mesmo na estrutura apresentada. No primeiro episódio, somos apresentados a Moiraine (Rosamund Pike), integrante de um grupo chamado Aes Sedai, mulheres que canalizam poderes para manter a paz naquele universo - aparentemente homens também podiam utilizar os poderes, mas tudo foi arruinado por um sujeito chamado de Dragão.
Acontece que o tal Dragão reencarnou e a única coisa que sabem é que a criança está atingindo a maturidade. As Aes Sedai partem em busca do Novo Dragão para encontrá-lo antes que as forças do mal o façam. Moiraine e seu ajudante, Lan Mandragoran (Daniel Henney), partem para o vilarejo de Dois Rios, local em que a ação realmente tem início. Após alguns acontecimentos e uma cena de ação bem elaborada, a dupla parte em fuga com os possíveis escolhidos: Egwene (Madeleine Madden), Rand (Josha Stradowski), Perrin Marcus Rutherford) e Mat (Barney Harris).
“A Roda do Tempo” joga o espectador naquele mundo com poucas explicações, mas não demora para que logo nos sintamos acostumados àquele ambiente. O roteiro cria situações para que os personagens expliquem uns aos outros alguns conceitos mais complicados e algumas regras daquele universo fantástico.
Misturando política, magia, religião e questões sociais, “A Roda do Tempo” é uma narrativa segura, uma história de um “escolhido” que deve decidir entre as forças do bem ou ser seduzido pelas forças malignas. As similaridades com outras histórias já conhecidas pelo público é um atrativo inicial, mas do qual o texto deve se esforçar para se distanciar com o tempo, quando a série já tiver identidade própria para prender a audiência.
Mesmo com algumas escolhas narrativas questionáveis, como matar uma personagem para desenvolver outro, o roteiro de “A Roda do Tempo” segue caminhos interessantes em seus três primeiros episódios. A série constrói personagens complexos e com sentimentos humanos. Quando Moiraine toma uma decisão difícil, a primeira reação do público é vilaniza-la por isso, mas o que poderia ter sido feito?
“A Roda do Tempo” é um universo gigante - os livros têm 2782 personagens com nomes - e grandioso, com grandes cenários e muita magia. Há algumas cenas em que é possível identificar os CGI nas paisagens, da mesma forma que é inevitável que a ação dos trollocs, por exemplo, seja produzida com efeitos, mas há também efeitos práticos na construção dos “monstros”. A mistura funciona bem na maior parte do tempo. Cada episódio da série custa em média US$ 10 milhões entre pós-produção com computação gráfica, figurantes, construção (e destruição) de cenários, figurinos, etc, o que a torna um investimento bastante caro. A sorte é que a Amazon tem dinheiro o suficiente para quantas temporadas quiser.
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