A maior parte das análises brasileiras acerca dos indicados ao Oscar 2020 chama a atenção para duas coisas: “Coringa”, com 11 indicações, e o brasileiro “Democracia em Vertigem”, indicado a Melhor Documentário. Esses textos, porém, não tocam em outro problema que volta a aparecer em Hollywood, a falta de representatividade.
Em um ano com excelentes filmes dirigidos e roteirizado por mulheres - “Adoráveis Mulheres” (Greta Gerwig), “A Despedida” (Lulu Wang), “Retrato de uma Jovem em Chamas” (Céline Sciamma), “Atlantique” (Mati Diop), “Fora de Série” (Olivia Wilde) “Um Belo Dia na Vizinhança” (Marielle Heller) e até “As Golpistas” (Lorene Scafaria) -, surpreende a total ausência delas em Melhor Direção e nas categorias de roteiro.
No embalo do hype, os votantes inexplicavelmente preferiram indicar “Coringa” por seus dois pontos mais fracos: o roteiro sustentado em coincidências, refém do universo do Batman do qual o filme sempre tentou se afastar e temporalmente deslocado (um vídeo viralizado no início da década de 1980?), e a direção de Todd Phillips, que pouco faz além de emular Martin Scorsese nos passeios pela cidade e no programa de TV.
Surpresas e ignorados
As indicações ao coreano “Parasita”, de Joon-ho Bong, podem surpreender quem não acompanha o cenário, mas o filme chega como um dos favoritos ao prêmio de Melhor Direção e até ao prêmio principal, além de ser escolha certa a Melhor Filme Internacional. Já ouviu falar sobre a popularização do cinema coreano e como ela está diretamente ligada à ascensão do K-pop? Vale a pena ler sobre.
Outro filme que pode ser uma surpresa é “Ford v. Ferrari”, de James Mangold. Baseado em fatos, o drama de corrida é Hollywood na essência e traz uma história americana clássica, o que deve ter contado a seu favor. Ser um bom filme provavelmente ajudou muito também.
A ausência de “Frozen 2” entre os indicados causa espanto. A animação de maior bilheteria da história perdeu a vaga para o natalino “Klaus” e o bom “Perdi Meu Corpo”, ambos da Netflix. Não foi um ano especialmente bom para as animações, mas "Toy Story 4" ainda chega como favorito.
Sumariamente ignorados foram o já citado “As Golpistas”, que esperava uma indicação a Jennifer Lopez, o maravilhoso “A Despedida”, de Lulu Wang, e “Joias Brutas”, filme dos irmãos Safdie com Adam Sandler. Sim, nunca pensei que falaria algo do tipo, mas Adam Sandler foi injustamente ignorado pela academia. A notícia boa é que o filme chega no final do mês à Netflix.
A Academia também não se mostou muito animada com o novo terror produzido por lá. “O Farol” conseguiu uma indicação merecida em Melhor Fotografia, mas foi sumariamente e injustamente ignorado nas categorias de atuação - tanto Willem Dafoe quanto Robert Pattinson mereciam estar entre os indicados. Quem ficou totalmente de fora foi “Nós”, de Jordan Peele; tudo bem que o filme dividiu opiniões, mas a atuação de Lupita Nyong’o é incrível.
Também há de se notar a ausência de “Rocketman” em categorias como Maquiagem & Cabelo e Figurino. Para quem vive dizendo que o Globo de Ouro é um termômetro para o Oscar, a não indicação de Taron Egerton também é sentida. O ator ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia ou Musica, mas não conseguiu ser indicado ao Oscar. A biografia fantasiosa de Elton John ficou com a indicação a Melhor Canção, categoria na qual é favorito.
Para fechar, quem esperava ver a Marvel finalmente coroada com o fim de sua saga “Vingadores”, caiu do cavalo com a indicação única: Melhor Efeitos Visuais.
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A cerimônia de entrega do Oscar será realizada no dia 9 de fevereiro. Você acompanha tudo aqui na coluna e no podcast Cine Fire.
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