Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

Ágil e inteligente, "A Diplomata", da Netflix, é ótima

Estrelada por Keri Russell ("The Americans"), "A Diplomata" tem intrigas políticas, texto rápido e ótimos personagens na história de uma embaixadora americana na Inglaterra

Vitória
Publicado em 20/04/2023 às 21h06
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Série "A Diplomata", da Netflix. Crédito: ALEX BAILEY/NETFLIX

O nome de Debora Cahn não chama a atenção do público, mas seus créditos sim. Roteirista com passagem por séries como “Homeland”, “Grey’s Anatomy”, “Fosse/Verdon” e “The West Wing”, pela qual ganhou prêmios do sindicato de roteiristas (WGA), Cahn fechou um acordo de exclusividade com a Netflix e lança agora uma série para chamar de sua, “A Diplomata”.

Em oito episódios de 50 minutos, “A Diplomata” é um drama político que acompanha Kate Wyler, a tal diplomata do título. A série tem início quando um navio britânico sofre um ataque terrorista e, em meio a uma possível crise internacional, Kate é nomeada embaixadora americana no Reino Unido. Meio a contragosto, pois queria estar “onde realmente poderia fazer algo”, ela parte para Londres ao lado do marido, Hal Wyler (Rufus Sewell), um experiente e renomado diplomata, para uma nova realidade.

O episódio inicial de “A Diplomata” brinca com algumas diferenças de costumes e com a pompa das tradições britânicas, mas também começa a desenrolar o arco principal de intriga política. Em um novo país, um novo ambiente e sem saber direito o que pode ou não fazer por lá, Kate tem que controlar a crescente tensão entre EUA e Irã, se adaptar a uma nova cultura e ainda lidar com questões do casamento, que não anda bem, mas precisa ser mantido.

O texto parece simples, mas há detalhes (que não serão revelados aqui para manter o mistério) que elevam o nível da série. Cahn usa em “A Diplomata” muito do que aprendeu com Aaron Sorkin em “The West Wing” - a série é rápida e divertida, fazendo bom uso de humor nos ótimos diálogos e ajudando a digestão da trama política que nem sempre é de fácil compreensão. Pouco é devidamente explicado antes que seja necessário explicar, o que pode causar algum estranhamento.

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Série "A Diplomata", da Netflix. Crédito: ALEX BAILEY/NETFLIX

“A Diplomata” alterna crises geopolíticas e matrimoniais com velocidade e (muitas) viradas que o roteiro até tenta explicar para que pareçam menos absurdas, mas que, na verdade, nem fazem tanta diferença no contexto geral. Para o espectador, o mais interessante é acompanhar a protagonista se distanciando do que esperam que ela seja, o que vale tanto para as expectativas dos espectadores quanto para a de personagens da série.

Keri Russell está ótima na série e não demora para conquistar o público, mesmo que ainda seja difícil dissociá-la da espiã russa que viveu por anos em “The Americans”. Kate equilibra bem a simplicidade que a aproxima do espectador, principalmente no arco do casamento, e a objetividade e o jogo de cintura necessários para a diplomacia de carreira. A série é eficiente ao apresentar o trabalho de diplomatas muito distante da pompa do cargo, ao menos nos casos de diplomatas como Kate e Hal.

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Série "A Diplomata", da Netflix. Crédito: ALEX BAILEY/NETFLIX

O roteiro é muito bom na construção da relação de Kate e Hal. Logo no primeiro episódio, a série já mostra que o casal está prestes a se separar, mas a relação de carinho, intimidade, cumplicidade e respeito permanece inabalada. Kate mostra um cansaço, quase uma frustração ao destacar alguns aspectos de seu marido, principalmente aquelas características para as quais ela talvez já tenha olhado com admiração. Keri Russell e Rufus Sewell funcionam bem juntos, com intimidade no olhar e uma certa frustração por talvez serem os responsáveis pelo iminente fim de algo que já foi tão bom.

Hal é um personagem complexo, um sujeito charmoso, respeitado, admirado, inteligente e com métodos para conseguir o que quer. É interessante como o roteiro o desenvolve sempre como se tivesse uma informação extra (como várias vezes tem), algo que talvez nem os roteiristas saibam ao certo o que é, mas que o coloca à frente de todos os outros personagens.

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Série "A Diplomata", da Netflix. Crédito: ALEX BAILEY/NETFLIX

A série começa meio de sopetão, parecendo complicada e pouco interessante, mas, dos minutos que precedem o fim do primeiro episódio ao final do oitavo, a narrativa prende o espectador com texto inteligente, bom humor e bons personagens coadjuvantes que dão profundidade e camadas a uma trama já bem servida com seus protagonistas. Seja como uma trama política ou como uma complicada história de amor um pouco às avessas, "A Diplomata" é uma boa surpresa.

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