A primeira temporada de “Amigas Para Sempre”, da Netflix, era cheia de altos e baixos, mas entregava um melodrama de qualidade, gênero que a plataforma começava a explorar com mais dedicação na época. Baseada no livro homônimo de Kristin Hannah, a série traz a história de duas amigas, Tully (Katherine Heigl) e Kate (Sarah Clarke), ao longo de décadas, uma jornada cheia de idas e vindas, com cada uma seguindo um caminho, mas sempre com a amizade sustentando a relação entre elas. Fortemente influenciada pela estrutura narrativa que deu certo em “This is Us”, “Amigas Para Sempre” funciona apesar de ser mais longa do que o necessário.
Como vimos no fim da primeira temporada, a história de Tully e Kate não termina ali, e, justamente por isso, a segunda temporada volta a explorar a relação delas em duas partes - a primeira, com nove longos episódios, já está disponível na Netflix (os sete episódios finais estreiam em 23 de junho de 2023).
Na nova temporada, talvez por já termos entendido a essência da série, tudo é potencializado, ou seja, as atuações são ainda mais exageradas, a trilha sonora é ainda mais dramática e o texto, óbvio, carrega a mão no melodrama. Como o espectador já está ciente do destino de uma delas, cada cena entre as duas é filmada como uma despedida, com músicas pop pontuando cada uma delas e conferindo a elas um aspecto mais memorável - recurso muito utilizado por séries de TV como “Grey’s Anatony”, por exemplo.
Os novos episódios continuam abusando das idas e vindas temporais, com arcos nos anos 1970, 80 e 2000, mas se sustentam mais na vida adulta de Tully e Kate. Assim, Ali Skovbye e Roan Curtis, que interpretam as duas quando crianças, brilham no segundo episódio, mas perdem espaço no resto da temporada, que não as torna mais parte essencial para entendermos as personagens adultas, mesmo com um bom arco para a jovem Tully (Skovbye).
Katherine Heigl e Sarah Clarke, no entanto, têm tempo e arcos de sobra para brilhar. A série gasta tempo com o relacionamento de Kate e Johnny, tanto nos anos 1980 quanto nos 2000. Entendemos mais os detalhes do relacionamento deles e, principalmente, como eles acabaram decidindo se casar. O exagero na atuação de Sarah Clarke cria uma Kate sempre imatura (não importa em qual época) e dá o tom da personagem e garante à série um ar de contação de história. Assim, é ótimo ver que, ao fim da primeira parte da segunda (e a última) temporada, a personagem ganhe contornos mais dramáticos que provavelmente serão o foco da parte final.
Mesmo assim, é Heigl quem ganha os melhores arcos nesta temporada. Tully é uma mulher diferente nos novos episódios, focada no profissional e tentando ser levada a série na carreira de jornalista mesmo que sua vida pessoal esteja um caos. Diverte ver a personagem com umas pautas bem roubadas (jornalistas vão se divertir e se identificar ainda mais com esse arco), mas essas histórias funcionam para construir uma personagem mais complexa, cheia de camadas, que lutou para chegar ao posto no qual a conhecemos.
A nova temporada também explica o motivo de as duas estarem brigadas por tanto tempo, como vimos no final da temporada passada, e busca resolver alguns dilemas que ficaram em aberto nos episódios anteriores - é claro que novas questões serão abertas para serem exploradas nos episódios finais.
Uma aposta para um conteúdo mais “adulto” (ou menos adolescente), “Amigas Para Sempre” é um caso raro para a Netflix, uma série que a plataforma tem plena ciência de que não terá audiência maior ou de que se tornará um fenômeno de popularidade a partir do boca a boca ou da viralização. Mesmo assim, o relativo sucesso da primeira temporada e a qualidade do material original credenciaram a história de Kate e Tully a ter um final digno, uma conclusão para não deixar os fãs revoltados após um súbito cancelamento da série.
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